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    Elisabeth Lopes

    Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

    44 artigos

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    Configurações perigosas X Reações progressistas

    Em certa medida, o povo vislumbrou algo de bom que os atraiu às forças ultra liberais conservadoras

    O mundo está inundado por configurações perigosas que acarretam à vida no planeta um desafio enorme, sobretudo, para o maior contingente da população que vive à margem de uma existência digna. O acúmulo de riqueza nas mãos de uma minoria, não tem limites. A desumanização causada pela elite gananciosa e sem escrúpulos assusta até o mais crédulo otimista da vontade e pessimista da razão.

    A correlação de forças nunca foi tão preocupante. De um lado a direita oportunista convenientemente conservadora, reforçada pela indecorosa extrema direita fascista e de outro lado, o campo progressista em minoria.

    Lembro dos folhetins infantis maniqueístas da luta entre o bem e o mal, em que depois de muitas agruras vividas pelas heroínas e heróis, eles, por sua coragem e determinação conseguem vencer nas últimas páginas os seus algozes do mal. 

    Todavia, no mundo real concordo com o Maquiavel que se afasta da classificação maniqueísta, valorizando o conhecimento no desvelamento dos fenômenos bons ou maus que envolvem a política. Para Maquiavel “não há um bem absoluto, em contrapartida, também o mal não é sempre um mal incontrastado” (O Príncipe – Nicolau Maquiavel).  

    Assim, na atual materialidade da inclinação de expressiva parte do povo em escolher seus futuros algozes da direita liberal e da extrema direita, reside a tarefa de conhecer, analisar e interpretar as muitas páginas do real, a fim de desnudar a engrenagem que move tais escolhas. Em certa medida, o povo vislumbrou algo de bom que os atraiu às forças ultra liberais conservadoras. Como refere Nicolau Maquiavel o mal não é sempre um mal incontrastado.

    Cabe questionar o que está acontecendo nas mentes dessa maioria desiludida, que tem optado por governantes autoritários, por políticos interesseiros em manter a realidade contrária as suas reais necessidades de vida e de trabalho. O que cega a racionalidade dos sentidos dessas pessoas? 

    Que poções mágicas, preparadas e oferecidas pela direita liberal e extrema direita ao povo, que são bebidas sem vacilo? Nesse mundo que digitaliza promessas inverossímeis sobre as consciências desavisadas do povo, que antídotos são possíveis para barrar os efeitos venenosos e enganadores? 

    Nesta semana, a esquerda marcou um gol com a tese defendida sobre o fim da escala de trabalho 6x1. Essa proposta de Emenda à Constituição, colocada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), explodiu nas redes sociais. A turma da direita liberal e extrema direita contrária à proposta foi massacrada. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos alvos atingidos, inclusive por seus eleitores, que se posicionaram arrependidos por terem votado em quem é contra as escalas extenuantes de trabalho que impedem os trabalhadores a viver com dignidade, sem a exploração a que se submetem.  

    Nessa escala fica infinitamente impossível ao trabalhador buscar outras qualificações para melhorar suas possibilidades no mercado de trabalho, de ter lazer, de conviver e cuidar da família. É extremamente desumana, coisificando a pessoa do trabalhador.        

    Em pouco tempo, principalmente pela pressão popular, a proposta da PEC do fim da escala 6X1 obteve mais 171 assinaturas dos deputados federais, inclusive de alguns conservadores. Portanto, está apta para iniciar sua tramitação no congresso. Mesmo que não prospere até ser definitivamente aprovada, a iniciativa retira o campo da esquerda da letargia propositiva para um evidente protagonismo em defesa dos direitos sociais. 

    Em outros países essa exaustiva jornada de trabalho já foi superada, como na Holanda, Alemanha, Itália, França, entre outros. Segundo o Professor da Universidade Estadual de Campinas, José Dari Krein, em entrevista ao Instituto Conhecimento Liberta, “a organização econômica não pode pensar o trabalho só como elemento na produção da riqueza, mas preservar a vida de quem trabalha”. Infelizmente o empresariado brasileiro ainda está anos luz desse argumento, o que vale é a extração da mais valia relativa. 

    Os argumentos para manter a condição escrava de trabalho, são pífios, tais quais os que foram vociferados pela elite econômica há 61 anos, durante a implantação do 13º salário no governo João Goulart. De lá pra cá, ficou comprovado o quanto o 13º tem contribuído para o crescimento econômico do país. Só no ano passado, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), foram injetados na economia brasileira R$ 291 bilhões.

    Nessa perspectiva, é viável referir que uma postura propositiva por parte do campo progressista seja um dos caminhos de inibição do avanço das ingerências da direita fisiológica e extrema fascista ao longo do tempo. 

    Outro aspecto a considerar é propiciar a constante mobilização da sociedade para o recrudescimento das pautas reacionárias. O congresso conservador tem uma base popular que o elegeu, portanto é necessário e imprescindível, trazer à baila, temas que suscitem reações populares. Atualmente a esquerda tem mais reagido do que protagonizado frente ao domínio da ala da direita e extrema direita. A PEC do fim da escala 6X1 neste sentido está sendo alentador para deter a dormência popular.

    O bloco progressista do país não pode deixar de problematizar as práticas de retrocesso no universo do trabalho, como as ocorridas durante o governo do usurpador Michel Temer (MDB) que promoveu uma reforma trabalhista que prometia mais empregos que não aconteceram, além de precarizar enormemente o campo do trabalho. As alterações efetivadas pela Lei 13467/2017 nos dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) atenderam apenas os interesses do empresariado e da elite financeira do país. Mesmo com a farta comprovação estatística dos resultados catastróficos dessa reforma, há políticos que a defendem em seus discursos interesseiros que marcam nitidamente o lado elitista que defendem com unhas e dentes, como o pronunciamento da Vice Governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PPB-DF) em demasiados elogios ao ex presidente Temer em evento desta semana ocorrido em Brasília, Fórum Brasil: inovação, inteligência artificial e segurança jurídica. Nesse sentido, o professor José Dari Krein em seu artigo “O desmonte dos direitos, as novas configurações do trabalho e o esvaziamento da ação coletiva - Consequências da reforma trabalhista” nos adverte ao referir que: “A reforma amplia a liberdade dos empregadores em determinar as condições de contratação, o uso da força de trabalho e a remuneração dos trabalhadores” (Disponível na biblioteca virtual de revistas científicas brasileiras Scientific Electronic Library Online — http://www.scielo.br). Nesse horizonte adversário ao desenvolvimento e ao devido reforço dos direitos sociais, à diminuição da desigualdade social, à vida saudável no planeta frente à crise climática, à redistribuição de renda, permanentemente concentrada nas mãos de uma minoria, ao rompimento do ciclo de avanço do atraso conservador em várias direções da vida, tanto na política brasileira, como na de diversos países do continente europeu e recentemente no EUA, remete ao campo progressista análises complexas, mas obrigatórias mediante as oscilações que tem marcado os avanços e recuos civilizatórios. É imprescindível a luta pelo retorno de agendas promissoramente justas e profícuas em políticas públicas que atendam verdadeiramente a realidade concreta do povo.

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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