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Daniel Rodrigues

Graduando em História pela UEPB; membro do Projeto de Pesquisa "História Judaica" e do Projeto de Pesquisa e Extensão "Núcleo de História e Linguagens Contemporâneas''

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Conflito Geopolítico: Israel x Palestina

O mundo entrou em alerta após lançar seu olhar para os acontecimentos do Oriente Médio

Guerra entre Israel e Palestina (Foto: Reuters)

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Cenário de terror é a tradução exata para o conflito entre Israel e Palestina, que não se observava desde o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 

Na segunda semana do mês de outubro o mundo entrou em alerta após lançar seu olhar para os acontecimentos do Oriente Médio. O Estado de Israel declarou guerra ao Hamas, um grupo considerado terrorista, que de acordo com as informações presentes em toda mídia, estaria representando os palestinos (árabes mulçumanos). Se teve ciência da ofensiva “inédita” do Hamas ao governo Israelense, no dia 7 de outubro, com o disparo de mísseis, a ocupação de cidades e algumas ações entendidas como elementos que compõem uma “ação terrorista”, isto é, invasão de residências, envolver as ruas com tiros, sequestros e assassinatos de civis. Em vista disso, é possível apontar o Hamas como um grupo terrorista? 

Antes de se sair em defesa ou concordância de qualquer lado do conflito é preciso refletir a partir do contexto histórico do confronto entre os respectivos grupos, se desprendendo das amarras do pensamento hegemônico proposto pela mídia corporativa. 

Se tem indícios de defesa da criação de um Estado nacional judeu desde os anos 1880, devido ao forte antissemitismo presente na Europa, com massacres a comunidade judaica nesse período. Isso antes mesmo do I Congresso Sionista de 1897, que organizaria os aspectos da imigração dos judeus para a Palestina — ainda sob domínio Otomano (1517-1917) — objetivando o Estado Judaico. Portanto, nesse período já se idealizava a formação de um lugar para o povo judeu, principalmente pelo jornalista judeu, Theodor Herzl, o principal fundador do sionismo, que possuía a perspectiva de que a enorme aversão aos semitas se dava pela inexistência de uma nação judaica, sobretudo sua dispersão e desorganização enquanto povo. 

Em 1910, houve uma nova onda imigratória de judeus para a Palestina. Essas levas imigratórias se destacaram pelo seu nível de organização e complexidade. Mais tarde, em 1917, é escrito a "Declaração Baulfour", por James Balfour, endereçada ao Barão de Rothschild, líder religioso judaico, explicitando o apoio dos ingleses na criação de um Estado Judeu. Tal estado passou de mera idealização para sua efetivação em 1938, especialmente pelo forte movimento sionista, que defendia o “retorno dos judeus mais uma vez a região”. Devido ao declínio do Império Otomano, marcado por corrupção, crise econômica e política, inflação e a efervescente crescente do ideal nacionalista — iniciava-se naquele período a formação dos Estados Nacionais juntamente com as guerras de independência. Vale ressaltar o envolvimento dos otomanos na primeira guerra mundial, em apoio a Tríplice Aliança, o que resultou em seu declínio. Não obstante, a crescente do nacionalismo árabe, as consequências resultantes da "Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) juntamente com a tentativa de construção de um Estado Palestino, resultou na criação de um Estado judaico, em 1938. Sendo iniciado, em 1937, a legitimidade da divisão territorial que estabelecia o território de Israel, sendo realizado pela investida da Organização das Nações Unidas (ONU), oficializando o Estado de Israel no ano seguinte. 

O objetivo da ONU de dividir o território da Palestina em duas nações como Israel e Palestina, consequentemente desencadeou uma série de conflitos, entre a comunidade judaica e o povo árabe (integrantes da região desde o século VII d.C.). Ademais, a política segregacionista utilizada pelo Estado de Israel desde 1948, ampliou significativamente o confronto com os palestinos. Outro motivo que levou a reação “inédita” dos palestinos é o fato de seu orgulho enquanto nação ser pisado pelo Estado de Israel e, obviamente não ter seu território reconhecido enquanto um Estado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Portanto, um povo que era majoritário, passou a ser tratado como indivíduos de segunda classe, passaram a ser tratados com inferioridade, vivendo em uma espécie de "apartheid", de forma completamente desumana, na miséria e esquecidos pelo mundo. Pois, Israel possui o apoio das nações hegemônicas e imperialistas como os Estados Unidos e os Estados-membros que compõem a União Europeia, ou seja, potências militares e países do mundo ocidental aliados a Israel contra o Hamas. Enquanto que a Palestina não possui o apoio dessas grandes nações, nem se quer possui um Estado reconhecido internacionalmente. Os líderes nacionais da União Europeia decidiram apoiar Israel em sua “defesa”, porém a partir das leis internacionais e humanitárias. Mas, como essa linha apontada por esses líderes seria viável se a Palestina não é um Estado reconhecido internacionalmente pelas nações hegemônicas? 

Um gráfico muito utilizado, a partir do início do conflito em outubro, para o entendimento de como os palestinos foram perdendo seus territórios, desde 1947, com as investidas, anexações e a partilha de territórios entre árabes e judeus foi elaborado pela Fronteira –– Revista de Iniciação Científica em Relações Internacionais da PUC/MG. O gráfico possui quatro mapas que buscam retratar o avanço do território Israelense (representado pela cor branca) sobre as terras palestinas (representado pela cor verde). O primeiro mapa retrata a área do território palestino no ano de 1946, em que se tem a predominância dos palestinos em relação aos judeus (emigrantes). No segundo mapa é reproduzido o plano de partição dos territórios entre ambas as nações pela ONU, em 1947. Já no terceiro mapa é possível observar a política segregacionista imposta de forma explícita pelo Estado de Israel em relação a Palestina, no ano de 1967. Por último, no quarto mapa, que representa a terra palestina e judaica no ano de 2010, é exposto o domínio majoritário da região pelo Estado de Israel, quase extinguindo as terras palestinas. 

É possível observar que com a expansão gradual do território Israelense, os palestinos foram sendo expulsos de seu território, passando a viver, dessa forma, como refugiados. A ONU nada fez contra essa limpeza étnica. No ano de 1956, Israel disputando territórios contra o Egito, a ONU garantiu legitimidade dos direitos de exploração sobre o Canal de Suez e sobre a política segregacionista e expansionista utilizada por Israel. Em contrapartida, a ONU reconheceu, em 1974 a fundação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de 1959. Posteriormente, em 1967, se teve a guerra dos seis dias, em que Israel invadiu a Faixa de Gaza, a Península do Sinai, a Cisjordânia e as Colinas de Golã, na Síria – a ONU repugnou essa ação realizada pelo Estado de Israel, porém milhares de palestinos tiveram que se refugiar. Mais tarde, em 1973, a guerra de Yom Kippur, entre os dias 6 e 26 de outubro, promovida pelos árabes objetivando a devolução dos territórios ocupado. No fim, a região da Palestina se restringiu a Faixa de Gaza e áreas nos limites da Cisjordânia.

Em vista disso, retorno ao questionamento inicial se o Hamas pode ser considerado um grupo terrorista ou não. De acordo com a CNN Brasil, o Hamas é uma organização mulçumana que surgiu na primeira metade do século XX, no Egito, vindo a se efetivar na Palestina como um movimento de resistência ainda na década de 1980. Consequentemente, o Hamas é uma organização de resistência cujo seu objetivo principal é libertar os territórios palestinos das amarras da potência colonizadora de Israel. No ano de 1993, se opôs ao pacto de paz entre Israel e a (OLP) almejando uma Palestina independente, sem ter suas terras usurpadas pelas nações hegemônicas. 

Como uma entidade de resistência, o Hamas também possui uma ala militar e de acordo com a grande mídia, essa ala militar evolveu o Estado de Israel em diversos ataques, vindo a ser determinado como um grupo terrorista pelos Estados Unidos, Israel e pela União Europeia. 

No entanto, em uma coluna publicada no site Brasil247 (Pelo que luta o povo da Palestina?), pelo professor adjunto da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Gilbergues Soares, destacou o apontamento da professora de história Árabe da (USP), Arlene Clemesha sobre os ataques do Hamas a Israel. Ela defende que os ataques realizados contra os palestinos foram de maior envergadura e intensidade. Porém, o que é retratado pela mídia corporativa é somente os ataques realizados pelos palestinos. Enquanto que Israel é representado por um governo de extrema direita, pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. 

Portanto, o Hamas apresenta-se como uma alternativa a Autoridade Palestina (AP) –– um Estado mais moderado e diplomático que defende a coexistência das duas nações ––, liderado pelo presidente Abu Mazen Mahmoud Abbas. Devido a diminuição da confiança do povo palestino a respeito da (AP) com os acordos de paz fracassados. Isso é um dos motivos do povo palestino apoiar e efetivar o grupo do Hamas. 

O Hamas decidiu se impor e empreender um ataque a Israel objetivando defender a Palestina do poder e política colonialista de Israel. Mas pela dimensão da guerra que se envolveu, é evidente que a Palestina não possui preparo, tampouco organização para se impor contra a nação Israelense. Pois, a Palestina não dispõe do apoio das principais potencias mundiais como o Estado de Israel, aliado as superpotências militares. 

O escritor e apresentador do ICL notícias, Eduardo Moreira, destacou um dado apresentado pela matéria da CNN, “Middle East on ‘verge of the abyss,’ UN warns as Gaza suffers and Israel prepares for offensive”, do dia 15 de outubro, que cerca de 60% dos 2670 palestinos mortos em Gaza são mulheres e crianças. Em média, cerca de 500 mil a 1 milhão de civis palestinos foram obrigados a sair de suas residências, sobretudo evacuar o norte da Faixa de Gaza, em detrimento da concentração de centenas de milhares de soldados israelenses, tanques e armas na fronteira. O Estado de Israel pretende invadir o restante das terras palestinas e ocupa-las completamente, consequente a isso, a ordem para que os civis saiam da região. Ademais, alguns empecilhos surgem dessa questão. É necessário que as pessoas saiam de Gaza, porém como elas podem sair se Israel não demonstra o desejo de organizar uma saída? Nem os brasileiros que se encontram na fronteira do Egito conseguem uma abertura/saída. Outro problema é a falta de condições dos países circo vizinhos para receber cerca de 2 milhões de refugiados. 

Não se observa um cenário como esse desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), números exorbitantes de civis confinados, postos a um ambiente de terror, tendo que lidar com a fome, sede, a falta de eletricidade, hospitais beirando o colapso, escassez de sacos para cadáveres, em Gaza, sendo desencadeado uma crise humanitária em apenas 10 dias de conflito. É possível associar Gaza a um campo de concentração nazista, Netanyahu está para Israel assim como Adolf Hitler estava para a Alemanha. Os ataques do Hamas aos civis israelenses não é e não pode ser justificável, mas o pânico promovido aos palestinos é desproporcional, é desumano é um completo extermínio de um povo. Em contrapartida propagandas antissemitas se ampliam pelo mundo inteiro. 

REFERÊNCIAS

Doentes, grávidas, crianças: a 'inviável' evacuação de 1 milhão de palestinos em Gaza ordenada por Israel. BBCNEWSBrasil, 13 de outubro de 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1wq3pzpv4xo. Acesso em: 16 de maio de 2023. 

EBRAHIM, Nadeen. What is Hamas and why is it attacking Israel now?. CNN, 11 de outubro de 2023. Disponível em: https://edition.cnn.com/2023/10/09/middleeast/hamas-attack-strategy-israel-mime-intl/index.html. Acesso em: 16 de outubro de 2023.

FRONTEIRA, Revista de Iniciação Científica em Relações Internacionais, PUC-MG, Belo Horizonte, v.17, n.33, p110-123, 1° sem. 2018. 

FERNANDES, Cláudio. Sionismo. BrasilEscola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/sionismo.htm. Acesso em 16 de outubro de 2023.

GONÇALVEZ, J. C. G. Império Otomano: desde sua origem até seu declínio. Politize, 10 de junho de 2022. Disponível em: https://www.politize.com.br/imperio-otomano/#:~:text=O%20nome%20%E2%80%9COtomano%E2%80%9D%20inclusive%20deriva,contra%20o%20estado%20bizantino%20crist%C3%A3o. Acesso em: 16 de outubro de 2023.

REGAN, H., GOLD, H., EBRAHIM, N., SALMAN, A., ALKHSHALI, H., GRETENER, J., SMART, S. Middle East on ‘verge of the abyss,’ UN warns as Gaza suffers and Israel prepares for offensive. CNN, 15 de outubro de 2023. Disponível em: https://edition.cnn.com/2023/10/15/middleeast/israel-hamas-gaza-war-sunday-intl-hnk/index.html. Acesso em: 16 de outubro de 2023.

SOARES, G. S. Pelo que luta o povo da Palestina?. Brasil247, 9 de outubro de 2023. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/pelo-que-luta-o-povo-da-palestina. Acesso em: 16 de outubro de 2023. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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