Coringa, o Anti-Vilão, surge um novo conceito
Esse novo conceito, anti-vilão, desenvolvido pelo diretor Todd Phillips, complementa aquilo que tínhamos visto anteriormente com o conceito de anti-herói
“... – Mas eu não quero ficar entre gente maluca – Alice retrucou.– Oh, você não tem saída – disse o Gato – Somos todos malucos aqui. Eu sou louco. Você é louca. – Como sabe que eu sou louca? – perguntou Alice. – Você deve ser – afirmou o Gato – ou então não teria vindo para cá. ...”. (trecho de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll)
Longe de ser uma crítica cinematográfica, esta é a análise das camadas deste novo conceito: anti-vilão; o qual surgiu com o lançamento do primeiro filme do Coringa e que agora se aprofunda ainda mais no novo filme desta franquia. O Coringa é um personagem que tem a capacidade de mexer com a cabeça e com o coração dos fãs de gibi, das telonas e dos "streamings" disponíveis ao redor do mundo. Para entender o porquê disto acontecer é necessário a análise de algumas camadas que permaneceram intocadas nos últimos dois filmes deste personagem.
Esse novo conceito, anti-vilão, desenvolvido pelo diretor Todd Phillips, complementa aquilo que tínhamos visto anteriormente com o conceito de anti-herói. O Conceito de anti-herói não é mais nenhuma novidade para os amantes da 9ª arte (História em Quadrinhos). Ele foi muito bem percebido e explorado pelos autores das Histórias em Quadrinhos, foi uma forma de aproximar e de assim identificar o público com os personagens, humanizando-os, e para tal, vários vícios humanos foram incorporados aos personagens, aos heróis (ou super-heróis, ou mutantes) dos gibis. Assim surgiram os anti-heróis.
Agora como o cinema, a 7ª arte, dialoga cada vez mais com a História em Quadrinhos, apareceu nas telonas este novo conceito que ainda não havia sido exposto com esta ênfase e profundidade. Com o Coringa de Todd Phillips a aproximação se completou. Da mesma forma que os heróis não são tão “bonzinhos” assim, os vilões também não são tão “mauzinhos” assim. Para clarificar isso, parte da senda de Arthur Fleck, o Coringa, foi contada no primeiro filme da franquia. No primeiro filme foi mostrando ao público que todo Dr. Jekyll tem a possibilidade de se tornar um Mr. Hyde, pois tudo depende do contexto socioeconômico onde desenvolvemos a nossa existência.
Foi dessa forma que o Coringa conseguiu mostrar o conceito do Yin (princípio da escuridão) e o Yang (princípio da luz) nas telas, mostrando inclusive a importância da diminuta parte de luz do Yin e da diminuta parte de escuridão do Yang. Desta forma explicitou, que é essencial para o equilíbrio dinâmico, a harmonia do macro com o micro em cada uma das partes, em cada um dos dois polos.
Agora o novo filme - "Coringa 2: Folie à Deux!" - vai um pouco além, pois Carl Gustav Jung “entra em cena”. Através da música, do som, representação do éter que a tudo permeia, o Inconsciente Coletivo é vivido através da relação do animus da Arlequina com o anima do Coringa. A convivência harmônica dos ‘opostos’ - opostos com todas as aspas que forem necessárias ser colocadas - pois sem essa convivência, sem essa interação dos diferentes, dos diversos, os conceitos de equilíbrio e harmonia se tornam inexistente e inatingíveis. O equilíbrio e a harmonia dependem intrinsecamente da coexistência dos chamados opostos. Foi assim que neste segundo filme da franquia houve o encontro do Coringa com a Arlequina, que de forma análoga à união sagrada de Shiva e Shakti, destroem, reconstroem e se manifestam no universo fruto de sua própria criação, um universo pintado com suas cores, embalado por suas canções. Um universo criado através desta inevitável, poética e louca união.
George Lucas já havia feito uma prototentativa de explicitar este conceito do anti-vilão com a Saga de Anakin Skywalker, o Darth Vader, a qual é narrada na franquia Guerra nas Estrelas (episódios de 1 a 6), mas o conceito completo, com a exploração psicológica (e psicanalítica) profunda deste tema, ficou por conta de Todd Phillips, que agora lança a parte 2 da Saga do Coringa.
Espero que a trindade seja o objetivo, pois neste caso, três não é demais. Quem sabe no três, Todd Phillips aborde o Orgone de Wilhelm Reich, aí será literalmente divino. Seria bem interessante se esta “pegada” viesse para fechar esta trindade perturbadora, até porque passar pela chamada noite escura da alma é para lá de perturbador. O processo iniciático, a busca pela consciência plena, pela chamada iluminação, em realidade, não tem nada a ver com o paraíso idílico que costuma ser contado nas alegorias dos filmes hollywoodianos. A saída da Caverna, do aclamado Platão, deve ser feita de forma gradual, sem pressa, pois luz demais também cega. É recomendável que a quantidade de Quantum de energia luminosa aumente gradualmente e discretamente (a lá Max Planck) para que assim dê tempo aos nossos olhos e demais órgãos físicos e sutis se acostumarem com esta nova realidade luminosa.
O inconsciente deste fascinante e assustador personagem é exposto para o grande público através música e da dança neste novo filme. Embalada por esta sonoridade e influenciada pelo ritmo viciado de torturas e abusos do Asilo Arkham essa trama romântica se desenvolve. Os que ainda não assistiram a esta continuação da Saga do Coringa, convidem o seu analista – “Pra nunca mais ter que saber quem eu sou” (Cazuza) – comprem a pipoca, o guaraná e bom filme.
“Eu juro que é melhor Não ser o normal Se eu posso pensar que Deus sou eu” (Trecho da canção Balada do Louco - Os Mutantes)
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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