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    Marcia Tiburi

    Professora de Filosofia, escritora, artista visual

    114 artigos

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    Corrupção e oportunismo

    Amigo Secreto, documentário de Maria Augusta Ramos, conta a história da Vaza Jato

    Sergio Moro (Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)

    Amigo secreto, novo filme de Maria Augusta Ramos, é um importante arquivo da memória da recente catástrofe brasileira ligada à operação Lava Jato. 

    A Lava Jato tinha como objetivo prender Luiz Inácio Lula da Silva e abrir caminho para a direita e a extrema-direita alcançarem o poder federal. O poder a qualquer custo, mesmo o de destruir a justiça e a democracia brasileira, bem como empresas estatais como a Petrobras, parecia ser o objetivo dos participantes da operação que não se envergonharam de seus argumentos toscos, de sua falta de provas, de seu palavrório enganador. 

    A operação Lava Jato servia para pender Lula e eleger Bolsonaro, mas servia também aos sócios da Lava Jato. Os fins políticos da operação se tornaram a cada dia mais evidentes à medida que Sérgio Moro, principal vedete da Lava Jato, elevado à posição de herói nacional, deixou seu cargo de juiz para entregar-se a um cargo político, o de ministro da justiça de Bolsonaro. O próximo passo seria o juiz tornar-se candidato à presidência da República, o que não aconteceu porque, apesar de todos os esforços da imprensa que o favorecia, ele mesmo não tinha força pessoal para se garantir. A imprensa corporativa insistiu em Moro tentando oferecê-lo como terceira via entre Bolsonaro e Lula, até que ele mesmo se autodestruiu por sua própria desqualificação. Seu desmascaramento moral é parte importante de seu desmascaramento como político incompetente em todos os sentidos. Não há televisão que sustente um personagem ruim, um roteiro ruim e uma democracia que ousa insistir em sobreviver. 

    Na história de heróis, sempre há antagonistas invejosos e miseráveis que aparecem por sua pequenez, assim com Lula e o juiz encarregado de fazer o serviço sujo de prendê-lo para que ele não disputasse o cargo de presidente para o qual seria eleito em 2018, como será em 2022. 

    Nesse contexto, nasce o documentário de Maria Augusta Ramos mostrando o fim da Lava Jato através dos personagens fundamentais no processo da chamada Vaza Jato: os jornalistas que receberam o conteúdo das mensagens trocadas por juízes e procuradores no processo de conspurcação de seus cargos e da justiça brasileira. Profundamente mal-intencionados em suas colocações sobre Lula, os personagens estavam afundados na ilegalidade que deveria se manter oculta. As convicções sem provas, como se gabava o então procurador da Lava Jato, autor do tosco powerpoint sobre Lula que depois virou piada, eram o artifício cínico de um discurso ilegal, que apenas imbecis seriam capazes de aceitar. Mas o fascismo é cínico assim mesmo e joga com a suposição de uma burrice universal de seus opositores. 

    O fio da meada da Vaza Jato que o filme entrega respeitosamente, permitindo que espectadores reconstruam o sentido dos acontecimentos, implica a experiência dos jornalistas, mulheres e homens, a quem coube agir conforme as regras deontológicas de sua profissão. A sujeira moral do processo da Lava Jato se torna cada vez mais visível e permite que o espectador mais bem informado fique perplexo. 

    Através da atitude criminosa de seus agentes, a Lava Jato alcançou seu objetivo e levou à eleição de Bolsonaro num cenário em que o estupor e a perplexidade, por parte daqueles que a criticavam, entrava em choque com a maldade e a perversão por parte de quem a apoiava. Em relação à Lava Jato não houve inocentes, como não há inocentes nesse momento em que é preciso eleger Lula contra Bolsonaro se quisermos recuperar a democracia perdida. 

    Obedecer às leis é fundamental para a democracia. Manipular as leis criando situações de exceção como as da operação Lava Jato é imoral e indigno. A corrupção 2.0, mistifica sobre a corrupção e gera um nível de indignidade de segunda potência. A desculpa de combater a corrupção, produziu um processo profundamente corrupto. 

    Nesse sentido, não é demais dizer que a Lava Jato foi uma operação fundamental para implantar o fascismo no Brasil. Ela enganou, mentiu e produziu um universo de desinformação. No extremo, o fascismo é um regime político que depende do estado de exceção para poder fazer o que quiser com a lei e, assim, com os cidadãos destituídos de sua cidadania através de atos ilegais da própria justiça. 

    O filme de Maria Augusta Ramos não nos permitirá esquecer que é preciso restaurar a verdade em nosso país para que a democracia seja possível. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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