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    Sara York

    Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Junior é graduada em Letras - Inglês (UNESA), Pedagogia (UERJ) e Vernáculas (UNESA), especialista em Gênero e Sexualidades (IMS/CLAM/UERJ), mestre em educação (UERJ) e doutoranda em Formação de Professoras/es (UERJ), pai, avó, pesquisadora e professora, a travesti da/na Educação.cialista em Gênero e Sexualidades (IMS/CLAM/UERJ), mestre em educação (UERJ) e doutoranda em Formação de Professoras/es (UERJ), pai, avó, pesquisadora e professora, a travesti da/na Educação. Jornalista SRD/6474794/2024

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    Cotas trans 2024

    Nos últimos anos, o Brasil tem dado passos importantes em direção à inclusão de pessoas trans e travestis nas universidades

    Bandeira trans (Foto: Brendan McDermid / Reuters)

    Nos últimos anos, o Brasil tem dado passos importantes em direção à inclusão de pessoas trans e travestis nas universidades, com mais de 10 instituições de ensino superior adotando políticas de cotas para esse público. Como pesquisadora e pessoa trans, eu celebro essa conquista, mas também reconheço que o caminho ainda é longo. A implementação dessas cotas representa um avanço significativo no acesso e na permanência dessas pessoas no ensino superior, uma área que, historicamente, tem sido excludente.

    Minha dissertação, intitulada "Tia, você é homem? Trans da/na educação: Des(a)fiando e ocupando os 'cistemas' de Pós-Graduação", apresentada em 2020 no Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ, é uma reflexão crítica sobre as políticas de cotas e seus impactos na vida de estudantes trans e travestis. A partir de minha experiência pessoal e de minhas interações com alunas do ensino fundamental na cidade de São Pedro da Aldeia (RJ), busquei entender como as cotas influenciam o acesso, a permanência e a resistência de pessoas trans dentro do ambiente acadêmico.

    O Impacto das Cotas na Inclusão no Ensino Superior

    Em minha pesquisa, explorei como as cotas têm ajudado no acesso de pessoas trans a cursos de pós-graduação e ao ensino superior de maneira geral. Essas políticas afirmativas são fundamentais para garantir que um número maior de pessoas trans consiga ingressar nas universidades, mas também enfrentam desafios estruturais. Como estudante trans e pesquisadora, compartilho as dificuldades vividas por muitos dessa população, especialmente no que diz respeito à adaptação ao ambiente acadêmico. Embora as cotas abram portas, a permanência desses estudantes depende da criação de um ambiente inclusivo, o que ainda é um grande desafio nas universidades.

    Ao longo da dissertação, busquei não apenas destacar os benefícios das cotas, mas também os obstáculos que as pessoas trans enfrentam diariamente, como o preconceito explícito e a invisibilidade. As cotas são um passo crucial, mas a mudança real requer transformações mais profundas dentro das universidades, incluindo políticas de acolhimento e práticas pedagógicas mais inclusivas.

    Narrativas de Superação e Resistência

    Ao entrevistar estudantes trans, pude ouvir histórias emocionantes de resistência e superação. Essas narrativas revelam como, apesar das barreiras, muitos conseguem encontrar maneiras de seguir em frente na universidade, mesmo diante de um ambiente, muitas vezes, hostil. A discriminação e a falta de apoio são desafios constantes, mas as estratégias de resistência desenvolvidas por esses estudantes - como a formação de coletivos e a busca por apoio de docentes aliados - mostram o quanto a força da comunidade trans pode ser transformadora.

    Essas histórias também me ajudaram a entender como as cotas têm contribuído para garantir que mais pessoas trans alcancem o ensino superior. Porém, também percebo que as políticas de cotas, embora necessárias, não são suficientes sozinhas. As universidades precisam adotar uma abordagem mais holística e prática, com a implementação de serviços de apoio psicológico, adaptação de processos seletivos e a formação continuada de professores e técnicos administrativos sobre questões de gênero e diversidade.

    Desafios Estruturais e a Necessidade de Transformação

    Embora as cotas sejam uma importante conquista, a pesquisa que desenvolvi também revela os desafios estruturais ainda presentes nas universidades. A falta de infraestrutura adequada para estudantes trans, como banheiros inclusivos e a adaptação dos registros acadêmicos à identidade de gênero, são problemas recorrentes. Além disso, o preconceito - tanto velado quanto explícito - ainda é um fator que dificulta a permanência e o pleno desenvolvimento dos estudantes trans no ambiente acadêmico.

    Minha dissertação sugere que, além das cotas, as universidades precisam adotar mudanças estruturais mais profundas, que garantam um ambiente acadêmico acolhedor para todos. Isso inclui a criação de políticas públicas voltadas para o apoio a estudantes trans, como a implementação de núcleos de apoio psicológico e social, e a adaptação dos processos seletivos para garantir a equidade de oportunidades.

    Propostas de Inclusão e Reflexão Crítica

    Ao longo do trabalho, proponho algumas soluções para aprimorar a inclusão de estudantes trans nas universidades. Acredito que a verdadeira inclusão não se limita à ampliação do acesso, mas envolve uma transformação cultural nas instituições de ensino. É preciso criar um ambiente acadêmico onde a identidade de gênero de todos os estudantes seja respeitada e valorizada, e principalmente, não silenciada!

    Para isso, sugiro a criação de políticas públicas mais robustas, que não apenas garantam o ingresso, mas também a permanência de estudantes trans nas universidades. Além disso, a formação continuada de docentes e técnicos administrativos é essencial para que todos os membros da comunidade acadêmica possam atuar de forma sensível e inclusiva com as questões de gênero.

    O Futuro da Inclusão na Educação Superior

    A adoção das cotas para pessoas trans nas universidades brasileiras é uma vitória, mas, como mostrei em minha dissertação, é apenas o começo. A inclusão plena de pessoas trans na educação superior depende da criação de um ambiente que seja verdadeiramente acolhedor e que respeite a diversidade de gênero. As universidades precisam ir além das cotas e se comprometer com uma mudança cultural, para que a presença de pessoas trans se torne cada vez mais comum e natural nas instituições de ensino superior.

    Acredito que a verdadeira transformação na educação superior só ocorrerá quando todas as identidades de gênero forem plenamente reconhecidas e respeitadas. O meu trabalho é uma contribuição para essa reflexão e, mais do que isso, uma busca por soluções práticas que possam garantir que todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero, tenham acesso a um ensino superior justo, inclusivo e transformador.

    A dissertação pode ser acessada no link abaixo:

    https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/16716/5/Dissertação%20-%20Sara%20Wagner%20York%20-%202020%20%20Completa.pdf

    Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB, 2018);

    Universidade Estadual da Bahia (UNEB, 2018);

     Universidade Federal da Bahia (UFBA, 2019);

    Universidade Federal do ABC (UFABC, 2019);

    Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB, 2019);

     Universidade Estadual do Amapá (UEAP, 2019);

    Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS, 2019);

    Universidade Federal do Rio Grande (FURG, 2022);

     Universidade Federal de Lavras (UFLA, 2023);

     Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2023);

     Universidade Federal de Rondônia (UNIR, 2023);

    Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 2023/2024).

    Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, 2024);

    Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP, 2024);

     Universidade Federal Fluminense (UFF, 2024);

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ, 2024);

    Universidade de Brasília (UnB, 2024);

     Universidade Federal de Goiás (UFG, 2024);

    Universidade Federal do Delta do Parnaíba (Piauí, UFDPar, 2024);

     Universidade Federal de Sergipe (UFS, 2024);

    Universidade Federal de São João del-Rei (MG, UFSJ, 2024);

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO, 2024);

    Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA, 2024).

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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