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    Ribamar Fonseca

    Jornalista e escritor

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    Covaxin, enfim uma vacina anti-Bolsonaro

    "A julgar pelo andar da carruagem, porém, tudo indica que a CPI da Covid vai expulsá-lo do Palácio do Planalto, pois será muito difícil uma explicação convincente para a compra superfaturada da vacina Covaxin", escreve o jornalista Ribamar Fonseca

    Ministro da Saúde da Índia, Harsh Vardhan, segura ampola da Covaxin 16/01/2021 REUTERS/Adnan Abidi (Foto: Reuters)

    Por Ribamar Fonseca

    Após as manifestações do dia 19, que reuniram milhares de pessoas no Brasil e no exterior pedindo o seu impeachment, Bolsonaro parece ter tomado consciência de que não conseguirá reeleger-se no pleito do próximo ano. E como não tem a unanimidade dos quartéis, o que o impede de  tentar uma aventura inconstitucional, ele já ataca em outras frentes para garantir a sua permanência no poder, ameaçada mais agora com a descoberta de corrupção na aquisição da vacina indiana. Além de reforçar seus laços com parlamentares, mediante a liberação de bilhões de reais em emendas – o que o tranquiliza quanto à possibilidade de votação do impeachment – ele busca uma aproximação mais estreita com o Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de influir nos julgamentos que possam, por exemplo, impedir de alguma forma o ex-presidente Lula de concorrer em 2022. Já fez uma visita inesperada ao presidente da Corte, Luis Fux, que costuma morder a mão que o colocou lá,  e convidou o ministro Gilmar Mendes para um jantar no Palácio da Alvorada. 

    A julgar pelo andar da carruagem, porém,  tudo indica que a CPI da Covid vai expulsá-lo do Palácio do Planalto, pois será muito difícil uma explicação convincente para a compra superfaturada da vacina Covaxin. Embora o capitão tenha o controle da maioria do Congresso, o mais subserviente de toda a história do país, mantendo na coleira o presidente da Câmara Artur Lyra, que afirmou que não admitirá nenhum dos mais de 100 pedidos de impeachment, a oposição pretende fazer uma pressão  tão grande por todos os lados, de modo que o parlamentar baba-ovo não tenha outra alternativa senão colocar a questão em votação. Lyra, no entanto, não dá nenhum sinal de que poderá dobrar-se às pressões, o que significa que enquanto ele presidir a Câmara não haverá impeachment. Existem, porém, outros caminhos legais para defenestrar Bolsonaro, entre eles o Tribunal Superior Eleitoral, que tem um processo contra a chapa Bolsonaro-Mourão, e o Supremo Tribunal Federal, onde já existe uma notícia-crime contra o capitão. 

    O fato é que a permanência de Bolsonaro no Planalto parece estar por um fio. Além de todas as acusações que pesam sobre ele, relacionadas com a sua omissão no combate à pandemia, interpretada como responsável pela morte de mais de 500 mil brasileiros, sua situação se agravou agora com a descoberta da compra superfaturada da vacina Covaxin. Espertamente ele tenta tirar o corpo fora, jogando a culpa pela escandalosa negociação da vacina nas costas do seu líder na Câmara, deputado Ricardo Barros, mas não tomou nenhuma providência para impedir a corrupção mesmo sendo alertado pelos irmãos Miranda, o que permite concluir que, aparentemente, tinha interesse no negócio, incorrendo por isso em crime de prevaricação. Ele se esforça para mostrar-se despreocupado, passeando de moto em Chapecó no prosseguimento da sua campanha eleitoral, mas revela certo desespero ao agredir verbalmente jornalistas e membros da CPI da Covid, ao mesmo tempo em que volta a blefar insinuando ter o apoio das Forças Armadas para manter-se no poder. E mudou o tom do discurso. 

    Ninguém sabe exatamente como e quando o capitão deixará o Planalto, mas ninguém tem dúvidas de que ele sairá antes das próximas eleições. As mais recentes pesquisas já revelam o sentimento da maioria do eleitorado em relação a ele: não o querem mais no comando do país. E a cada dia que passa ele derrete mais um pouco, na mesma proporção em que Lula cresce. Desta vez Bolsonaro não terá a ajuda de Moro que, consciente do mal que fez ao Brasil e temendo ser preso, tratou de fugir para os Estados Unidos, refúgio de todos os que cometeram crimes aqui e buscam escapar das possíveis punições como, por exemplo, a blogueiro Allan dos Santos e os irmãos Weintraub. Já declarado parcial pela Suprema Corte, o ex-juiz, que o ministro Marco Aurélio Mello considerou “herói nacional” às vésperas de se aposentar – o que foi visto como senilidade – deverá um dia ser julgado por alta traição ao Brasil, pois destruiu a indústria pesada nacional da construção civil, promoveu o desemprego em massa de milhares de trabalhadores, enfraqueceu a Petrobrás e proporcionou a ascensão de Bolsonaro, ao impedir Lula de concorrer, tudo para defender os interesses americanos.

    Com a inevitável queda de Bolsonaro, que está em plena campanha eleitoral antes do prazo legal, custeada pelo erário público, as mesmas forças que o conduziram ao Palácio do Planalto, hoje decepcionadas com a sua gestão e conscientes da sua próxima queda,  já estariam trabalhando para garantir a posse do vice-presidente Hamilton Mourão, na esperança de que haja alguma mudança na condução dos destinos do país. Embora frequentemente humilhado e isolado pelo Presidente, Mourão tem se esforçado em demonstrar lealdade ao chefe,  inclusive defendendo todas as suas atitudes, o que em princípio parece indicar que nada vai mudar, mas como o poder  transforma as pessoas é possível que o general surpreenda. Pelo menos ele parece mais educado e certamente não deverá permitir qualquer ingerência dos filhos de Bolsonaro na sua administração, o que já será um avanço. O importante, afinal, é que o capitão seja defenestrado do Planalto, pois se ele continuar vai destruir o que sobrar do país, que no seu governo virou um pária no cenário internacional, e provocar a morte de  mais brasileiros, de Covid ou de fome. 

    Enquanto o Presidente não cai, mesmo segurando no pincel, o país segue em expectativa, surpreso com o impeachment preso na Câmara. E muitos se perguntam: como é possível Bolsonaro continuar impune, depois de tudo o que fez em dois anos de governo, se a presidenta Dilma Rousseff foi destituída rapidamente, em processo de impeachment relâmpago, sem ter cometido nenhum crime?  Depois da denúncia de corrupção no seu governo, envolvendo-o diretamente, o que ele precisa fazer ainda para a Câmara dos Deputados votar o seu impeachment? O Brasil não merecia viver o que está vivendo. Chega! 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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