Crescimento, apesar da esgotosfera
"Há boas notícias que a 'esgotosfera' omite ou distorce"
A primeira vez que li o termo “esgotosfera” foi num artigo do Augusto Nunes, um ex-jornalista e hoje militante da extrema-direita, sob o título: “Novilíngua da esgotosfera”; lembro que procurei o significado “dando um google” e encontrei: “Termo pejorativo para se referir ao conjunto de mídias explicitamente alinhados à esquerda política, pró-PT ou/e supostamente financiados pelo governo Lula-Dilma”.
De lá para cá uso o termo para designar todo o tipo de mentiras produzidas capazes de causar pânico ou para sustentar artificialmente um posicionamento, quando não há sustentação substantiva.
Alguns conhecidos meus, todos de direita ou de extrema-direita, pessoas com quem me relacionei social ou profissionalmente, pelo menos, nos últimos quarenta anos, seguem consumindo as mentiras e versões produzidas na “esgotosfera” e difundindo.
Dois conhecidos, cujos nomes omito para preservá-los do constrangimento público, vivem em estado de cegueira absoluta e, como zumbis, compartilham toda sorte de bobagens sobre economia, politica, geopolítica, costumes, etc., e não adianta debater, pois além de cegos são surdos e analfabetos.
Diariamente recebo de um conhecido - pessoa boníssima, que foi diretor de um banco privado e que tem um belo trabalho social -, uma infinidade de “memes”, vídeos, textos e reportagens, com conteúdo evidentemente falso.Hoje ele enviou umas trinta mensagens de WhatsApp, todas na perspectiva do consumidor de conteúdos da esgotosfera da extrema-direita o Brasil está falido e vivemos numa ditadura; alguns conteúdos dão conta que Lula morreu e que sósias ocupam seu lugar, sob orientação e comando de uma central do mal, a “central globalista de extrema-esquerda”.
Hoje vou tratar de economia, os demais temas podem ser melhor comentados por humoristas.
Vamos lá.
Está tudo uma maravilha? Evidentemente não, mas o país vem muito bem na quadra da economia, o que tristemente não refletiu nas urnas.
Há boas notícias que a “esgotosfera” omite ou distorce: 1ª - queda no desemprego; 2º - crescimento econômico sustentado; 3ª - aumento do investimento público e privado; 4ª - superávit comercial robusto e 5º - expansão do mercado de capitais. Estes 5 elementos mostram que a fase mais aguda da crise econômica foi ultrapassada,
Só esses pontos já mereceriam comemoração de quem é de fato patriota, pois, a despeito das altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central (a segunda mais alta do mundo, conforme mostra levantamento compilado pelo MoneYou, que os juros reais do país estão agora 7%, sendo que o líder é a Rússia, com taxa real de 7,79%) a economia é resiliente sob Lula e Haddad e cresce.
Contudo, se quisermos ser honestos, temos que frisar: essas boas notícias dependem da manutenção do arcabouço fiscal e de política monetária eficaz por parte do Banco Central para controlar a inflação (que já caiu de 12% no pico da pandemia para 4% atualmente); tem-se que reconhecer também que com o crescimento contínuo e política fiscal responsável, o Brasil mantém cenário econômico positivo, favorecido por políticas de transferência de renda e estímulos ao investimento.
Segundo o IBGE, o Brasil registra a menor taxa de desemprego dos últimos 10 anos, que atingiu 6,8%. Desde a pandemia, o desemprego caiu de 14,5% para 6,8%, com a criação de mais de 7 milhões de empregos, tanto formais quanto informais, isso não e pouco; e o país deve criar, quase 2 milhões de empregos formais apenas neste 2024, que reflete o mercado de trabalho na melhor situação da década. Agora é necessário melhorar a qualidade desses e o salário, cuja média gira em torno de R$ 3.222, ainda muito baixo.
Estimativas mensais mostram que o rendimento habitual médio real em abril de 2024 (R$ 3.222) foi 3,1% maior que o observado no mês anterior (R$ 3.124) e 6,8% superior ao valor de abril do ano anterior, além de 2,6% maior que o valor registrado em dezembro de 2023 (R$ 3.141), conforme o próprio IBGE.
O mercado estima que o Brasil deve crescer, novamente, cerca de 3% em 2024, pelo terceiro ano consecutivo, acumulando crescimento de mais de 10% desde o início da pandemia, desempenho que coloca o Brasil entre os países com maior intensidade econômica, inclusive superando os Estados Unidos e Europa.
Segundo levantamento da Austin Rating, com o resultado do PIB (Produto Interno Bruno) do segundo trimestre, o Brasil chegou ao 2º lugar no ranking de países com maior taxa de crescimento econômico, respectivamente: Peru (2,4%), Brasil (1,4%), Arábia Saudita (1,4%), Noruega (1,4%) e Japão (0,8%).
Por que isso não é comemorado? Por que isso não fez a menor diferença nas eleições municipais?
Outro elemento econômico positivo é a taxa de investimento no Brasil, que está em aceleração, e atingiu algo em torno de 18% do PIB, a maior em 10 anos (embora esteja abaixo do ideal de 20%, o crescimento nos investimentos em bens de capital, máquinas, equipamentos e construção civil são indicativos positivos, e mostram que a produção se aproxima da capacidade instalada).
O superávit da balança comercial brasileira permanece forte, e ultrapassa US$ 80 bilhões em 2024, após atingir US$ 90 bilhões no ano anterior; o país continua exportando vigorosamente, especialmente petróleo, produtos de mineração e produtos agrícolas, apesar dos desafios como a queda nos preços do minério de ferro e os impactos climáticos no agronegócio. Lembrando: “superávit na balança comercial” corre quando o valor das exportações do país é maior que o valor das importações. Isso significa que, no período de apuração, entrou mais dinheiro no País do que saiu.
E o mercado de capitais?
O mercado de capitais brasileiro está em expansão, com o crédito que tem crescido 10% ao ano — 11% para famílias e 8% para empresas. O mercado de dívida também está em alta, com o estoque de debêntures — títulos de dívida emitidos por empresas para captar recursos e que dão direito de crédito aos investidores —, que atingiu R$ 1 trilhão, CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários), que superou R$ 200 bilhões, CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), que chegou a R$ 100 bilhões e FDIC que ultrapassou R$ 400 bilhões.
Este crescimento poderia ser grandemente impulsionado pela queda da Selic, pelo incremento de políticas de transferência de renda e pelo aumento de investimentos.
Pergunto aos economistas: onde o tal do superávit primário importa nesse cenário? Pois, ao que me parece é uma lógica mentiroso, que surgiu nos anos 1980, segundo a qual o mais importante, na gestão das contas públicas, é garantir o pagamento de juros aos barões do capitalismo financeiro e “dane-se o povo, o país e o desenvolvimento”. É isso mesmo? Pedro Benedito Maciel Neto, pai, avô, advogado e pontepretano, sócio da www.macielneto.adv.br – pedromaciel@macielneto.adv.br – autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito, ed. Komedi, 2007; “Tensão entre os poderes”, ed. Apparte, 2024, dentro outros.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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