Crise artificial ou crise econômica?
"Quem é Roberto Campos Neto?
No início do mês de julho de 2024, o deputado federal mais votado do PT do Rio de Janeiro e vice-líder do governo, Lindbergh Farias, denunciou as declarações de Roberto Campos Neto e criticou a crise do dólar, chamando-a de crise artificial e especulativa. Segue abaixo os dados reais da economia apontados pelo deputado:
- A inflação, ainda no governo Bolsonaro, chegou a 12% em abril de 2022. No ano de 2023 — primeiro ano de mandato do governo Lula — caiu para 4,62%, no acumulado de 12 meses chegou a 3,93%.
- A taxa de desemprego, dados do mês de maio, o Brasil atingiu a menor taxa de desemprego desde 2014, com 7,1%. De janeiro a maio deste ano de 2024 foram criados em torno de 1 milhão de empregos a mais (no ano de 2023 fora criado em torno de 2,9 milhões de empregos.
- A Renda Domiciliar Per Capita obteve uma alta de 11,5%.
- A renda do trabalho dos brasileiros, uma alta de 11,7%.
- Aumento do Salário Mínimo Real chegou a 6% em dois anos com a retomada da política de valorização do salário mínimo
- Aumento da isenção do IR para quem recebe até dois salários mínimos.
A partir dessa exemplificação de dados fundamentalmente positivos da economia brasileira, por que cria-se toda uma tensão e instabilidade econômica? Lindbergh denominou como sendo uma crise artificial. O dólar subiu mais de 7% em pouco mais de 30 dias, atingindo a marca de R$ 5,70. Quem lucra com isso, sabotando e submetendo o governo brasileiro é, porém, o mercado financeiro. E, também, não passa de Especulação. Portanto, a realização de uma investigação pelos órgãos competentes se mostra sendo urgente, devido a omissão do BC (Banco Central) em relação à escalada do dólar. Além de uma “possível” sabotagem. Tal omissão do BC (de campos Neto) beneficia os acionistas que lucram com a alta descomunal do dólar.
As falas do Lula criticando a independência do BC não fazem o dólar aumentar ou diminuir, por consequência, quem reproduz essa afirmação está reproduzindo-a erroneamente. A disputa interna pode influenciar relativamente o quadro que se apresenta sobre essa questão: repare que um dos objetivos do BC dos EUA (Fed) é reduzir a sua inflação que se encontra em 2,7% para 2%. O presidente americano Joe Biden não possui tanta interferência do BC, mas conta com a diminuição da inflação, o que influencia positivamente sua candidatura à reeleição à presidência nas eleições de 2024. Com isso, a política de juros altos nos EUA prevalecerá. Não há possibilidade de queda do dólar com a interferência do BC brasileiro.
O dólar americano forte pesa sobre todo o globo, enfraquecendo as moedas dos países, como por exemplo, a desvalorização do Euro, Won Sul-coreano (moeda local), dólar australiano, Real Brasileiro, Libra, Iene (¥, JPY), Lira Turca (TRY), Ringgit da Malásia (MYR) — que teve a maior queda desde 1998, logo é possível perceber o caráter de um fenômeno global. Com o fortalecimento do dólar americano, todos os países importam consigo, o aumento da inflação e a desvalorização de suas moedas.
Em entrevista concedida a TV Fórum o doutor em economia Paulo Kliass, explicou os principais causadores da disparada do dólar. Sugiro que vejamos os principais disparates apontados pelo economista e reflitamos a partir de seu pensamento.
O economista Paulo Kliass, disse que as declarações do presidente Lula em relação às ações (ou não ações) do presidente do BC, Campos Netos estão corretas, e quem promove este clima de tensão e instabilidade econômica é o próprio Campos Neto. Kliass, porém, lembra da mudança profunda na “estrutura institucional da economia e das finanças públicas no Brasil”, em 2021, ainda no governo Bolsonaro, ao que se refere a atribuição de independência total do BC — “O BC sempre foi autônomo, mas subordinado ao Ministério da Fazenda, ainda era uma autarquia”.
No dia 1° de janeiro de 2023, dia de posse do presidente Lula, os nove diretores do BC nomeados por Bolsonaro, permaneciam fixos, e, como sequela, impondo dificuldades e sabotando a “política monetária e política cambial de Lula”. Ao mesmo tempo, foram acabando, aos poucos, seus respectivos mandatos e o Lula pôde nomear quatro nomes para substituir os antigos diretores do BC. Restam, por sua vez, cinco do que é mais pífio da herança bolsonarista, restam ainda cinco diretores do BC nomeados pelo ex-presidente Bolsonaro. O BC parou de baixar a taxa de juros e o Brasil se encontra na segunda colocação como maior juro real entre 40 países, mantendo 10,5% de juros.
Mancomunados com o BC estão o presidente da câmara (Arthur Lira) e o presidente do senado (Rodrigo Pacheco), juntos, sabotando e freando as investidas do governo vigente, aponta o economista Kliass. É possível notar nitidamente as ações enviesadas de Campos Neto em relação à questão da alta do dólar. Ademais, quando a mídia corporativa hegemônica (Jornal Nacional, Folha de São Paulo, Estadão, etc) expõem que o Mercado isso ou aquilo, não estão se referindo ao mercado industrial, ao mercado de serviços ou ao agronegócio, referem-se ao Mercado financeiro, composto por um punhado de banqueiros e milionários, que possuem o poder de chantagear o governo, visando incessantemente o lucro fácil. O Lula identificou o problema desde o início de seu governo, o causador dessa instabilidade econômica, que é o Roberto Campos Neto.
Mas quem é Roberto Campos Neto? É quem votou nas eleições de 2022, ultrajado com a camisa da seleção brasileira, um dos símbolos nacionais tomados pela extrema-direita brasileira para representá-la; um dos símbolos do bolsonarismo. É quem assessorava a campanha do Bolsonaro, realizando pesquisas, auxiliando-o, ajudando e assim por diante. É quem participou, em maio, do jantar organizado por Luciano Huck, que contou com a participação de banqueiros e líderes políticos estratégicos de extrema-direita, a fim de discutir, talvez, o possível nome que sucederá a Bolsonaro nas eleições de 2026, e quem sabe discutir a possibilidade de um cargo de Ministério. Reitero, portanto, a declaração de Lindbergh Farias, em seu mais recente discurso: “É uma ação orquestrada por parte do mercado financeiro e estimulada por este presidente do Banco Central”.
Recentemente, o economista Paulo Gala twittou em sua rede social as “preocupações” do Mercado: “(...) Apesar do bom momento da economia brasileira (...) o mercado está preocupado com a trajetória futura do arcabouço fiscal, como o governo fechará as contas e quem será o próximo presidente do Banco Central”. E segue: “Existe uma crise de confiança, um ataque especulativo, no sentido de que há uma expectativa muito negativa, resultando em estratégia de defesa dos portfólios. O governo deveria apresentar um plano crível de como o arcabouço fiscal será sustentável e, eventualmente, o Banco Central poderá intervir. Apenas a intervenção do Banco Central, sem um anúncio de medidas fiscais mais críveis, poderá ser um gasto desnecessário de reservas”. O que fica explícito com esse twitter de Gala é a omissão do BC, este não vai intervir no dólar, e, determina que o governo realize “cortes e gaste menos” se quiser fechar as contas em déficit zero. Observe bem, mesmo a economia indo bem, existe uma expectativa negativa futura...
Segundo Kliass, o que se busca é o superávit primário (que já incoerente) às custas de redução de despesas, diferentemente do congelamento que havia no Teto de gastos, entretanto se reduz as despesas e elas não seguem crescendo no mesmo nível das receitas. Isso impacta algumas despesas, as quais são impossibilitadas de crescerem, como na área da assistência social, saneamento, segurança, salário, etc”. Ou seja, o Mercado financeiro utiliza o dólar para encurralar efetivamente o governo do presidente Lula.
E, parece estar funcionando. Com a disparada do dólar nas últimas semanas, Lula e Haddad mudaram o discurso em suas declarações, aludindo à relevância da responsabilidade fiscal para o Brasil. Pressionados, o governo Lula anunciou um corte de R$ 26 bilhões no orçamento do próximo ano. Isso, fazendo valer a importância do cumprimento do arcabouço fiscal e a garantia de que o governo não gastará mais do que arrecada. Tal medida adotada pelo governo diminuiu a crescente tensão dos últimos dias, porém, essa será uma postura mais pontual ou o governo seguirá consistente em sua conduta? O dólar atingiu a marca de R$ 5,70, teve uma queda de mais de 3% e obteve a condição de R$ 5,48.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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