Cunha e o dilema de Temer
O desenlace do affair Cunha se dará sob a influência de três fatores: a pressão externa; o crescente embaraço de parte da base governista mais preocupada com as aparências (PSDB e setores do próprio PMDB) e o receio do próprio Temer de que se torne mais evidente sua condição de gêmeo xifópago de Eduardo Cunha
Eduardo Cunha perdeu por dois votos na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Uma novela que caminha para o fim - após oito meses de manobras e artimanhas - ou apenas um capítulo de uma sequência ainda imprevisível?
Na Comissão de Ética, foram decisivos os votos de dois parlamentares antes tidos como pró-Cunha - frutos diretos da pressão da sociedade e, em parte, das próprias contradições que emergem da base parlamentar governista.
No meio do caminho, rastros evidentes de Temer e seu núcleo político.
O presidente interino, na verdade, vê-se num dilema: ou lava as mãos diante da derrocada de Cunha, que pode ser cassado, preso e condenado, ou segue manobrando para preservar o mandato do seu principal aliado e fiador do chamado baixo clero da Câmara, numericamente de amplo predomínio em sua base de sustentação parlamentar.
Para a consumação da cassação do mandato de Cunha em plenário serão necessários 257 votos.
Cunha, acuado, ameaça levar consigo 150 deputados e um senador e dois ministros. Tem preferido não dizer de público o sentido real dessa ameaça: levaria para o buraco também presidente interino Michel Temer.
Entrementes, marcado pela ilegitimidade jurídica e política e enredado num poço de areia movediça, Temer acende uma vela ao seu Deus (o mercado financeiro) e ao diabo (a sua base partidária e parlamentar).
Como têm assinalado analistas da grande mídia que o apóia, ele faz um governo que vai e volta o tempo inteiro, em desgastante oscilação, enquanto ameaça os trabalhadores e a população mais pobre com cortes de conquistas e direitos.
Pode um presidente assim tão ilegítimo, confuso, incoerente e frágil dispensar o apoio de Cunha? Certamente não.
Concomitantemente, senadores golpistas pressionam para apressar o rito da Comissão Especial do impeachment, preocupados temendo que alguns senadores que antes votaram pela admissibilidade do processo agora possam mudar seu voto e, assim, faltem os 2/3 necessários para o afastamento definitivo da presidenta Dilma.
Em tais circunstâncias, o desenlace do affair Cunha se dará sob a influência de três fatores: a pressão externa, advinda principalmente do movimento democrático que resiste ao golpe; o crescente embaraço de parte da base governista mais preocupada com as aparências (PSDB e setores do próprio PMDB) e o receio do próprio Temer de que se torne mais evidente sua condição de gêmeo xifópago de Eduardo Cunha.
Da lama ainda resta uma esperança.
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