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    Salvio Kotter

    Escritor, tradutor e editor da Kotter Editorial, que vem publicando grandes autores de livros de política de cunho progressista, e também livros de filosofia e de literatura.

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    Curitiba hoje: Tramas e represálias

    A eleição em Curitiba mostra-se como um capítulo de um livro cuja trama transcende a própria urbe: é um prenúncio do que está por vir na política brasileira

    Urnas eletrônicas (Foto: REUTERS/Bruno Kelly)

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    Intrigas Políticas e a Indicação Surpresa

    À medida que o tabuleiro político para a disputa eleitoral na Prefeitura de Curitiba se desenha, os movimentos estratégicos das diferentes facções começam a emergir com mais clareza. A determinação de Bolsonaro para que o pastor Ricardo Arruda disputasse o executivo municipal não veio isolada, inseriu-se num contexto de mal-estar com atuais mandatários da cidade, devido ao recente alinhamento destes com o PT. 

    Esse alinhamento afastou o prefeito Greca dos ideais apoiados pelos bolsonaristas e lavajatistas e somou-se a outros afetos políticos em uma verdadeira trama de represálias e alianças oportunas.

    Nesta tessitura de manobras, a condução de um nome evangélico e bolsonarista para a prefeitura representa mais do que uma escolha ideológica: reflete a tentativa de recapturar uma base eleitoral cativa frente ao avanço de concorrentes em território considerado estratégico. Assim como em um jogo de xadrez, cada jogada implica em riscos calculados e o potencial de reconfigurar completamente o panorama local.

    O Duelo dos Projetos de Poder

    A disputa para a liderança da capital paranaense tornou-se uma representação microcósmica das tensões nacionais, onde os embates ideológicos tomam feições pessoais e as estratégias políticas transcendem as fronteiras da cidade. O prefeito Rafael Greca e seu vice Eduardo Pimentel encontram-se no epicentro de uma colisão que coloca questões locais como projeções de debates nacionais, notadamente pela aproximação com o PT e os elogios a figuras políticas como Lula e Flávio Dino.

    Paralelamente, figuras como o ex-procurador Deltan Dallagnol arremetem contra esse alinhamento, identificando nele um sinal de ameaça às pautas que defendem. A complexidade do cenário curitibano é, assim, o reflexo de um conflito maior, evidenciando a dificuldade das lideranças em estabelecer consenso em um momento de polarização intensa.

    As perspectivas do Partido dos Trabalhadores

    A atuação do PT no contexto eleitoral de Curitiba se traduz em uma cisão interna evidente sobre a condução da campanha municipal. Enquanto uma fração da sigla defende a autonomia e a importância de uma candidatura própria (e o nome de Renato Freitas tem sido evocado em todas as rodas) para projetar suas convicções, outro segmento, com uma abordagem mais pragmática, advoga pela formação de uma frente ampla que consolide posições estratégicas para um eventual confronto com adversários de peso.

    As divergências entre os petistas curitibanos abrem espaço para especulações e negociações que, dependendo do desenrolar, podem tanto solidificar quanto fragilizar a presença do partido na cidade que nunca governou. A escolha do PT, portanto, não só determinará as expectativas para o pleito de outubro, mas também sinalizará a capacidade de adaptação e de construção de alianças em um ambiente político cada vez mais fluido e imprevisível.

    A Influência do Fator Ratinho Junior

    Recursos políticos e apoio partidário podem ser decisivos em qualquer eleição e, neste caso, a influência do governador Ratinho Junior parece ter um peso significativo. Paradoxalmente, sua aproximação com o Palácio do Planalto sugere uma estratégia que poderia favorecer os planos de Bolsonaro e, por extensão, de Arruda. A viagem do governador aos Estados Unidos durante um momento crítico e de manifestações públicas na Paulista, pode ser interpretada como um distanciamento tático. Na política raramente as coisas se dão por mera coincidência.

    Além disso, a equivalência de partido e grupo político entre Greca e Ratinho Junior insinua que as linhas partidárias e as lealdades podem ser menos sólidas do que aparentam, abrindo a possibilidade para uma intrincada rede de interesses e alianças pessoais que podem redefinir a dinâmica eleitoral da cidade.

    O Futuro de Moro e as Implicações para a Corrida Eleitoral

    Moro ainda pesa na balança política de Curitiba (e do Paraná), não apenas por seu passado judicial, nada judicioso, mas pelo seu futuro político incerto. Caso o TRE-PR decida pela cassação de seu mandato, a potencial eleição suplementar se enrodilha com os rumos da disputa municipal, o que poderia transformar toda a dinâmica política local. Bolsonaro, mantendo sua postura de influenciador-chave, parece inclinar-se para apoiar Paulo Martins para o senado, reiterando sua tática de alinhamento com figuras que compartilham de suas ideologias e objetivos políticos.

    A dinâmica política de Curitiba está, sem dúvida, em um momento tumultuado. Os possíveis cenários que se desenham são tão variáveis quanto imprevisíveis, e cada movimento dos atores políticos pode ter repercussões para além das fronteiras da cidade e mesmo do estado.

    A Estratégia como Símbolo nas Eleições Municipais

    Os conflitos e as manobras observados na preparação para as eleições municipais de Curitiba são exemplos emblemáticos de como a estratégia política é peça-chave na corrida pelo poder. Mais do que as propostas concretas para a gestão da cidade, o que se nota é um jogo de representatividade e simbolismo em que cada candidatura, mais do que nunca, parece ser escolhida a dedo para representar seus padrinhos políticos em um cenário nacional. A cidade, neste contexto, torna-se um palco onde se testam forças, se constroem alianças e se projetam as lutas do cenário político mais amplo. A eleição em Curitiba, assim, mostra-se como apenas um capítulo de um livro cuja trama transcende a própria urbe: é um prenúncio do que está por vir na política brasileira.

    Com informações do Blog do Esmael.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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