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    Florestan Fernandes Jr

    Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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    De Pinóquio a Hannibal, as mentiras criminosas do fascismo

    Hoje, depois de Bolsonaro, Pinóquio chega a ser algo lúdico demais

    Ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

    O dilúvio de mentiras produzidas pela extrema direita sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul ganhou um importante aliado: parte da chamada mídia corporativa, ou, se preferirem, a mídia neoliberal. 

    Nesta quarta-feira (08/05), duas das tradicionais empresas de comunicação, Folha de São Paulo e SBT, criaram fake news que devem ter ruborizado até o Carluxo, chefe do gabinete de ódio bolsonarista. A Folha acusou o governo Lula de ter recusado ajuda do presidente uruguaio, mentindo em sua reportagem. O helicóptero cedido pelo país vizinho está sendo utilizado pela força-tarefa formada pelos governos estadual, municipal e federal. Já a oferta de um avião foi declinada pelo Comando Militar conjunto por não haver pistas disponíveis em Porto Alegre que comportem, no momento, uma aeronave daquele porte. Como é de conhecimento de todos os jornalistas, o principal aeroporto da capital gaúcha, o Salgado Filho, está inundado e fora de operação por tempo indeterminado. O governo não apenas aceitou o auxílio, como agradeceu ao governo do Uruguai. Notícias errôneas como estas são um prato cheio para alimentar e dar um ar de “veracidade” aos milhares de fake news publicados nas redes do ódio da extrema direita brasileira condenando o governo brasileiro pela “desfeita”. 

    No mesmo dia, o programa “Tá na Hora” do SBT exibiu matéria afirmando que supostos bloqueios da Polícia Rodoviária Federal estavam fazendo blitz em pontos da divisa do estado do RS para multar caminhões com doações para as vítimas da tragédia. Esse foi um verdadeiro apito de cachorro da poderosa rede de televisão para agitar os grupos neonazistas nas redes sociais. E tome fake news compartilhadas aos milhares nos WhatsApp de milhões de pessoas, num desrespeito a todas as famílias de desabrigados no sul do país. 

    A deputada bolsonarista Julia Zanatta do PL-SC teve o desplante de utilizar a tribuna da Câmara Federal para defender os terroristas da mentira. Aos berros, a parlamentar disse que o ministro Paulo Pimenta censura amigos dela, donos de jets skis e de clubes de tiro que estão nas redes sociais tentando, segundo ela, ajudar a população divulgando “informações” importantes. 

    A deputada gaúcha Fernanda Melchiona, do PSOL-RS, indignada, respondeu à “colega” da extrema direita no tom certo. Disse que era inadmissível que uma parlamentar produzisse fake news, num desrespeito completo às 100 famílias que estão chorando seus mortos e às centenas de pessoas que esperam pelos desaparecidos. 

    Essa é a estratégia da extrema direita: criar pânico por meio de mentiras como a do caminhão de doações. Ainda na quarta-feira, Mariana Eustáquio, filha do blogueiro Oswaldo Eustáquio, que está foragido do país e é investigado no inquérito das milícias digitais no STF, publicou em sua conta no X mais uma fake news. Mariana diz que Felipe Neto vendeu filtros de água por R$ 22 mil para ganhar comissão em meio à tragédia do RS. E que Felipe Neto teria pedido a Janja um pix de R$ 4,8 milhões para realizar a operação. Revoltado, Felipe Neto disse que vai acionar na Justiça todos os youtubers que estão espalhando a mentira em suas redes sociais. 

    Faz tempo que a mentira vem crescendo nos grupos de fanáticos negacionistas de extrema direita em todo o mundo. O difícil é conter essa onda que tanto ameaça as democracias. As narrativas mentirosas ganham destaque contando com a ajuda dos algoritmos dos donos de muitas plataformas na rede digital. 

    Na realidade, a mentira está na raiz do fascismo. Lembrei inclusive da charge de Paulo Maluf com nariz de Pinóquio no Jornal da Tarde, publicada por conta das mentiras que contava na época em que foi governador biônico da ditadura militar. Hoje, depois de Bolsonaro, Pinóquio chega a ser algo lúdico demais. O ex-presidente merece uma charge que seja mais representativa de seu papel na sociedade. Acredito que lhe cairia bem uma caricatura do personagem Hannibal Lecter, do filme “O Silêncio dos Inocentes".

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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