Delfim Netto, um grande Ilusionista
Foi um indigesto economista e, sempre que possível, amigo de governos. Seu alimento era o poder
Delfim Netto integra um seleto grupo de pessoas e personalidades (vivas ou não), que são referência para partidos de esquerda e direita, ou ao menos, para parcelas expressivas dessas agremiações.
Foi um indigesto economista e, sempre que possível, amigo de governos. Seu alimento era o poder, que desfrutava em almoços no restaurante Mássimo e na cantina Roma.
Delfim Netto, falecido esta madrugada em São Paulo, conseguiu criar uma reputação que o coloca nesse grupo. A ponto de o presidente da República compará-lo, de forma equivocada, a Maria da Conceição Tavares.
Conceição não merecia isso. Se Delfim, com sua face boa, apoiou os governos Lula 1 e 2, não se pode esquecer seu envolvimento com a ditadura militar.
Pai do milagre econômico, apoiava o regime a ponto de ter sido um dos signatários do AI – 5. Ministro da fazenda entre 1967 e 1974, promoveu com um Estado voltado aos interesses privados. Desenvolveu uma política de subsídios ampla e pouco transparente.
Interveio nos índices de preços e nos reajustes salariais, o que levou a greves de 1977, marco do surgimento do PT.
Ficou muito conhecido pelo endividamento externo, que cresceu exponencialmente. O resultado final desse ciclo foi o empobrecimento do País.
A manipulação de 1973 revela seu gênio para. Em 2014 ele reconheceu que houve a manipulação dos índices de preços, mas criou uma estória fantasiosa de que a oferta de alimentos fora manipulada, pelo envio de caminhões de produtos em certos períodos. Essa intrincada tese de logística nunca foi sequer conferida, mas deu a cobertura necessária para que ninguém fosse responsabilizado. A imprensa investigativa, seduzida por seu brilho e refinamento intelectual (ou preguiçosa quando se trata de investigar uma boa fonte amiga), deixou escapar.
Defendeu-se da assinatura do AI 5 alegando que o faria de novo. Sobre os mortos, presos e torturados, alegou várias vezes que não sabia. E nunca mostrou qualquer arrependimento.
Como professor da FEA – USP tornou-se, mentor de muitos jovens, que fizeram carreira associados a ele. Afinal, alguém com um perfil de “Czar da economia” precisa de um séquito adequado.
Delfim teve relações com todos os governos pós ditadura. Foi crítico do bolsonarismo e encerrou sua carreira com a pandemia.
Goste-se ou não, ele foi um dos brasileiros mais comprometidos com um projeto nacional. Não era o meu, mas havia um objetivo, uma direção. Ele será lembrado por muito tempo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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