TV 247 logo
    Ivan Guimarães avatar

    Ivan Guimarães

    25 artigos

    HOME > blog

    Delfim Netto, um grande Ilusionista

    Foi um indigesto economista e, sempre que possível, amigo de governos. Seu alimento era o poder

    Delfim Netto durante entrevista à Reuters em São Paulo em julho de 2013 15/07/2013 REUTERS/Paulo Whitaker (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    Delfim Netto integra um seleto grupo de pessoas e personalidades (vivas ou não), que são referência para partidos de esquerda e direita, ou ao menos, para parcelas expressivas dessas agremiações.  

    Foi um indigesto economista e, sempre que possível, amigo de governos. Seu alimento era o poder, que desfrutava em almoços no restaurante Mássimo e na cantina Roma.

    Delfim Netto, falecido esta madrugada em São Paulo, conseguiu criar uma reputação que o coloca nesse grupo. A ponto de o presidente da República compará-lo, de forma equivocada, a Maria da Conceição Tavares. 

    Conceição não merecia isso. Se Delfim, com sua face boa, apoiou os governos Lula 1 e 2, não se pode esquecer seu envolvimento com a ditadura militar.  

    Pai do milagre econômico, apoiava o regime a ponto de ter sido um dos signatários do AI – 5. Ministro da fazenda entre 1967 e 1974, promoveu com um Estado voltado aos interesses privados. Desenvolveu uma política de subsídios ampla e pouco transparente.

    Interveio nos índices de preços e nos reajustes salariais, o que levou a greves de 1977, marco do surgimento do  PT.

    Ficou muito conhecido pelo endividamento externo, que cresceu exponencialmente. O resultado final desse ciclo foi o empobrecimento do País.

    A manipulação de 1973 revela seu gênio para. Em 2014 ele reconheceu que houve a manipulação dos índices de preços, mas criou uma estória fantasiosa de que a oferta de alimentos fora manipulada, pelo envio de caminhões de produtos em certos períodos. Essa intrincada tese de logística nunca foi sequer conferida, mas deu a cobertura necessária para que ninguém fosse responsabilizado. A imprensa investigativa, seduzida por seu brilho e refinamento intelectual (ou preguiçosa quando se trata de investigar uma boa fonte amiga), deixou escapar. 

    Defendeu-se da assinatura do AI 5 alegando que o faria de novo. Sobre os mortos, presos e torturados, alegou várias vezes que não sabia. E nunca mostrou qualquer arrependimento.

    Como professor da FEA – USP tornou-se, mentor de muitos jovens, que fizeram carreira associados a ele. Afinal, alguém com um perfil de “Czar da economia” precisa de um séquito adequado. 

    Delfim teve relações com todos os governos pós ditadura. Foi crítico do bolsonarismo e encerrou sua carreira com a pandemia.

    Goste-se ou não, ele foi um dos brasileiros mais comprometidos com um projeto nacional.  Não era o meu, mas havia um objetivo, uma direção. Ele será lembrado por muito tempo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: