Democracia, o que há de errado?
Multiplicam-se os dirigentes ruins para comandar os destinos de populações perplexas
Alguma coisa estranha no mundo deve estar acontecendo para que um cenário tão desconcertante venha se repetindo aqui e ali. Não bastasse Jair Bolsonaro no Brasil e Javier Milei na Argentina e agora passamos a enfrentar um sósia de ambos nos Estados Unidos: Donald Trump. Para os diferenciar, cabe assinalar que o último não gosta de trans. A Milei, não agradam as mulheres. E Bolsonaro, pronto para ser julgado no Supremo, detesta a todos. Mais um ponto de identidade entre eles: elegeram-se com ampla margem de votos, sendo surpreendente que demonstrem capacidade de governar.
A coincidência do fenômeno nos põe a pensar. Haverá algo de errado no sistema? A democracia que pregamos começa a revelar sintomas de degenerescência? Ou a anomalia lhe é inerente, só nos restando desenvolver mecanismos para a proteger? No Brasil, um exemplo para os demais, a Lei da Ficha Limpa garante um mínimo de exigência para quem aspira a participar dos jogos políticos. Os norte-americanos não dispõem de nada de semelhante, de modo que um réu processado concorre e eventualmente ganha a corrida nos pleitos...
No seu livro Democracia na América. Alexis de Tocqueville, até então um aristocrata preocupado com a situação na França, conta como mudou seu entendimento por força de uma viagem aos EUA. Testemunhou como a população local escolhia mal os seus representados. Era gente pouco qualificada. No entanto, isso não parecia importante porque o povo, ele próprio, resolvia os seus problemas. Cita a polícia de Boston, onde havia pouquíssimos agentes. Detalhe desprezível na medida em que os cidadãos providenciavam a solução dos conflitos. Diante de tal panorama, previu que o modelo predominaria no mundo, melhor do que as monarquias com suas múltiplas e insuperáveis distorções. A época que o sucedeu lhe deu razão. A Europa toda e a América Latina, para não mencionar outras regiões do planeta, adotaram o sistema e o privilegiaram.
Contudo, cada vez mais, segundo as aparências, multiplicam-se os dirigentes ruins para comandar os destinos de populações perplexas. Sabemos, inquestionavelmente, a superioridade que a democracia demonstra ao lado das tiranias ou das cortes de antigamente, repletas de vícios e aproveitadores. Coloca-se então a necessidade de uma pesquisa profunda para, em ocasiões futuras, aprimorar nossos dispositivos de escolha, talvez a principal reivindicação política da atualidade.
Especialistas apontam a introdução vitoriosa das redes sociais como fator de manipulação da opinião pública. Realmente, indivíduos desconhecidos a não ser nas suas bolhas já surgiram, mais de uma vez, para interferir em resultados e abalar as discussões em curso. Novamente, entre nós, acertamos com a existência de tribunais específicos, ajudando a disciplinar as excrescências. Mas os problemas persistem. O que há de errado?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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