Desafios fiscais e políticos para a governabilidade de Lula
Jogo sujo. Impede-se o aumento de receitas, mas se exige disciplina fiscal, colocando em risco a agenda política do governo
Ouvi uma exposição sobre o Congresso Nacional que me deixou preocupado e apreensivo com a governabilidade dos 3 anos seguintes do governo Lula. Tanto que se lutou pela retomada das prerrogativas constitucionais do Congresso Nacional, cliente de um modelo de presidencialismo semi imperial e multipartidário, para chegarmos a conclusão de que o presidente da República tornou-se um refém do mais baixo e crasso fisiologismo das bancadas parlamentares, que atuam inclusive na base de apoio ao governo, contribuindo para derrotas do Poder Executivo, como foram as últimas votações.
Pior ainda é o dilema de cumprir metas fiscais apertadíssimas, com restrição das receitas, sob o risco de cortar programas sociais e investimentos, caso não se cumpram tais metas. Jogo sujo. Impede-se o aumento de receitas, mas se exige disciplina fiscal, colocando em risco a agenda política do governo.
Já no item que trata das emendas parlamentares, os congressistas deixaram o Executivo sem nenhuma margem de manobra para que fossem negociados os R$ 37 bilhões de emendas impositivas a serem gastas pelos senhores deputados, em época de eleição. E ainda controlam 25% dos recursos que o governo dispõe para usar na gestão de seus projetos prioritários. Já se imagina o que acontecerá com a varanda sem limites na regulamentação da reforma tributária.
Todos pressionando por isenções e diminuição de impostos e colocando o governo contra a parede, sem ter ele como garantir alíquotas que garantam a sustentabilidade fiscal da gestão. É uma tentativa de asfixiar financeiramente o Executivo, ameaçado de punição caso não cumpra as metas fiscais. Jogo perigoso esse.
Se não cumpre a agenda anunciada, perde a confiança dos eleitores. Se não zerar o déficit das contas públicas será punido. Por outro lado, não se deixa espaço para aumento de receitas. Infelizmente, as prerrogativas do Congresso estão sendo usadas para chantagem e assaltar o governo.
Fica a lição de como é difícil um presidencialismo de coalizão com um parlamento fisiológico como esse, ocupado por salteadores de estrada e travestidos de servos de Deus.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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