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    José Luis Oreiro

    Professor Associado do Departamento de Economia da Universidade de Brasília. Pesquisador Nível IB do CNPq, Membro Senior da Post Keynesian Economics Society e Líder do Grupo de Pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento

    13 artigos

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    Desenvolvimento ou morte

    "Para retomar o desenvolvimento, é necessária a reindustrialização do Brasil", escreve o professor e economista José Luis Oreiro

    (Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters)

    Em 7 de setembro de 2022, o Brasil vai completar 200 anos da sua independência. Durante 200 anos, a civilização brasileira obteve notáveis avanços. Em primeiro lugar, ao contrário do ocorrido com as ex-colônias da Espanha, o país não só manteve sua integridade territorial como ainda acrescentou novos territórios aos que pertenciam originalmente a Portugal. Em segundo lugar, depois de um processo lento e penoso, o Brasil se livrou do flagelo da escravidão, vergonha perante o mundo civilizado e uma das causas do atraso econômico com respeito a outros países da América Latina no século 19. Esse atraso continuou após a Proclamação da República, a qual nada mais foi do que um acordo entre as elites latifundiárias para se manterem no poder, obtendo os privilégios de sempre.

    Foi apenas com a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, que o Brasil começou a sua revolução industrial. Entre 1930 e 1980 a economia brasileira cresceu a taxas médias de mais de 7% ao ano, por intermédio de um processo de industrialização liderada pelo Estado. No final da década de 1970, o Brasil possuía o maior e mais sofisticado parque industrial do mundo em desenvolvimento e sua produção industrial era superior à produção combinada de China, Índia e Coreia do Sul.

    A crise da dívida externa no início dos anos 1980 combinada com a alta inflação interrompeu a bem-sucedida trajetória de desenvolvimento econômico do Brasil até então. A redemocratização, a renegociação da dívida externa com o plano Brady e o fim da alta inflação com o Plano Real não foram capazes de devolver o dinamismo da economia brasileira. Com efeito, o país encontra-se semiestagnado há 40 anos, apresentando uma taxa média de crescimento de 2,88% entre 1980 e 2014, ano em que se inicia a grande recessão (2014-2016).

    Passada a grande recessão, a taxa média de crescimento da economia brasileira se reduz para uma média de 1,5% no período 2017-2019. Embora o PIB deva apresentar crescimento de 4,5% em 2021, devido em larga medida ao efeito do carregamento estatístico de 2020, as projeções para 2022 apontam para avanço em torno de 0,5%, índice inferior ao crescimento da população brasileira. Nesse ritmo, levará ainda alguns anos para que o Brasil consiga recuperar o PIB de 2013. Em suma, nos últimos 10 anos, o Brasil passou da semiestagnação para o empobrecimento em termos absolutos.

    A primeira pergunta que temos que fazer é: o que deu errado com o Brasil? Minha reflexão sobre o tema me leva a concluir que o Brasil cometeu dois erros estratégicos nos últimos 50 anos. O primeiro foi aprofundar o processo de substituição de importações nos anos 1970 com o II Plano Nacional de Desenvolvimento ao invés de adotar um modelo de promoção de exportações de produtos manufaturados, como foi o caso dos países do sudeste asiático. A indústria é o motor do crescimento econômico, mas, para que o desenvolvimento industrial possa ocorrer, é necessário obter economias de escala, as quais só podem ser obtidas na magnitude necessária com o aumento da participação das exportações brasileiras de manufaturados nas exportações mundiais desses produtos.

    O segundo erro foi promover a abertura financeira da economia brasileira no início dos anos 1990, o que permitiu ao Brasil financiar deficits em conta corrente com a entrada de capitais especulativos provenientes dos países desenvolvidos. Essa abertura propiciou a adoção do modelo de "crescimento com poupança externa", o qual levou o país a cair na armadilha do câmbio sobrevalorizado — juros elevados durante o período 1994-2019. A lógica do modelo de crescimento com poupança externa se baseia na hipótese (equivocada) de que países como o Brasil precisam atrair poupança externa para aumentar o investimento e assim elevar o potencial de crescimento. O que o caso brasileiro mostrou foi que a poupança externa, atraída pela taxa de juros elevada, gerou sobrevalorização cambial e, com ela, redução na poupança doméstica. Em outras palavras, poupança externa e poupança doméstica são substitutos, não complementares. O câmbio sobrevalorizado, por sua vez, foi uma das principais causas da desindustrialização prematura da economia brasileira.

    Para retomar o desenvolvimento, é necessária a reindustrialização do Brasil. Sem isso, nosso país estará condenado a cair na armadilha da pobreza. Desenvolvimento ou morte.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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