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Thabata Ganga

Engenheira biomédica, candidata a vereadora pelo PDT em São Paulo e criadora da Rede Colaborativa de Combate ao Covid-19 no Brasil.

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Desigualdade tecnológica na educação durante a pandemia

A educação, assim como outras áreas, sofreu impactos duros com a situação pandêmica. Os poderes Executivo e Legislativo têm a função de mitigar as diferenças estruturais que prejudicam o acesso a uma educação digna e de qualidade a todos, sem exceção

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A pandemia causada pelo coronavírus escancarou e intensificou problemas estruturais presentes na cidade de São Paulo e no Brasil inteiro. Pegando números atualizados do vírus, temos hoje, no Brasil, mais de 5,7 milhões de pessoas atingidas pela doença e estamos nos aproximando da triste marca de 165 mil mortes, segundo levantamento da universidade Johns Hopkins. Olhando para nosso Estado, a situação está longe de parecer melhor, com mais de 1,1 milhão de casos confirmados da doença e quase 40 mil mortes. Ampliando ainda mais o zoom, apenas para a capital do Estado de São Paulo, o vírus já deixou mais de 375 mil contaminados e cerca de 14 mil mortes.

Esse cenário serve para mostrar que os governos locais, estaduais e federal não conseguiram, nem de perto, mitigar o contágio do vírus e que nós, ainda hoje, ainda contamos com centenas de mortes por dia no Estado e no país.  A doença atinge a todos, mas as desigualdades históricas do Brasil foram exacerbadas com a pandemia, tendo as classes mais baixas e populações negras sofrido muito mais com o contágio do vírus, com taxas de mortalidade maior comparadas às populações brancas e de classe social mais elevada. 

Esse abismo social também pode ser visto em outras áreas que sofreram grandes impactos durante a pandemia, como a educação. A medida necessária de fechamento das escolas para contenção do contágio do vírus atingiu alunos e famílias da rede pública de forma diferente dos alunos da rede privada.  

Enquanto escolas particulares conseguiram desenvolver de forma mais rápida o ensino à distância, com criação, refinamento e compra de portais e plataformas de videochamadas, a rede pública não conseguiu ter o mesmo dinamismo por conta de três principais fatores: falta de planejamento para a inclusão digital no ensino, falta de acesso à internet pelos alunos e falta de capacitação dos docentes para o uso de tecnologias digitais. Sobre a falta de planejamento para inclusão digital no ensino no Brasil, ainda faltam às escolas bons equipamentos de conexão e acesso à internet banda larga de qualidade.

 Segundo dados coletados pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2018, organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), as escolas brasileiras contam com um computador para cada quatro alunos, um número que fica bem abaixo da média dos países avaliados (um computador para cada aluno). 

Outro ponto interessante relatado no Pisa e que ajuda a entender essa disparidade entre ensino e tecnologia no Brasil é que apenas 26% dos diretores das escolas brasileiras concordam que a velocidade da internet banda larga nas escolas é o suficiente e 27,5% afirmam que o número de equipamentos conectados à internet é o suficiente. Podemos ver que, mesmo antes da pandemia assolar o país, já contávamos com índices insuficientes de tecnologia nas escolas. 

Essa desigualdade só se fez mais presente no momento em que alunos e professores precisaram mudar sua relação com o ensino. O segundo ponto, e talvez o mais importante, é a falta de acesso à internet no Brasil. Segundo o PNAD Contínua TIC de 2018, um em cada quatro brasileiros não possui acesso à internet. 

Isso significa que cerca de 53 milhões de pessoas no país ainda não conseguem acesso a esse serviço essencial. Além disso, um levantamento feito pelo CGI.br em 2018 mostrou que 58% dos domicílios no Brasil não possuem computadores. 

Esses dados somente salientam as diferenças sociais, regionais e econômicas que os estudantes sofrem e que prejudicam sua educação, principalmente durante esse período de crise sanitária.  

Não é possível manter a qualidade do ensino presencial quando boa parte dos alunos não tem acesso aos equipamentos e serviços necessários para continuar estudando. Vale ressaltar a atuação demorada e inepta dos ministros da Educação do governo Bolsonaro, principalmente com declarações como as feitas pelo atual ministro Milton Ribeiro, que disse em entrevista, quando perguntado sobre discrepância entre o acesso à internet pelos estudantes: “Não foi um problema criado por nós (governo). A sociedade brasileira é desigual e não é agora que a gente, por meio do MEC, vamos conseguir deixar todos iguais”. Além disso, o ministro admitiu, em outra coletiva, que o apoio do governo a estudantes de baixa renda chegou “um pouquinho tarde”.  

Porém, o acesso à internet dos alunos deve vir junto com a capacitação dos docentes das redes públicas, para poderem desempenhar perfeitamente suas funções como fazem nas salas de aula. 

Somente o computador e a internet não garantem um ensino à distância de qualidade. Os professores precisam estar preparados para ministrar aulas e atividades por esse meio. É função do Estado prover esse suporte e capacitação aos professores. A pandemia trouxe à sociedade brasileira desafios novos e desafios que já permeavam nossas discussões.

 A educação, assim como outras áreas, sofreu impactos duros com a situação pandêmica. Os poderes Executivo e Legislativo têm a função de mitigar as diferenças estruturais que prejudicam o acesso a uma educação digna e de qualidade a todos, sem exceção.

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