Devemos perdoar os arrependidos?
"Bolsonaro nunca enganou ninguém", destaca o jornalista Miguel Paiva. "Era a favor da tortura. Como pode então, alguém que se diz democrata, liberal, esclarecido e fazendo parte da elite eleger este homem com o voto direto ou a negação do voto no PT?", perguntou
Por Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia
Tenho visto na imprensa, nos últimos dias, muitos bolsominions arrependidos. Direta ou indiretamente, pessoas que com seu voto acabaram ajudando Bolsonaro a se eleger e a perpetuar essa crônica de uma morte anunciada em Brasília. Tudo bem, melhor ter arrependidos do que entusiastas empedernidos e insistentes. Esses ainda existem e continuam com a sua violência a tocar o terror no país. Mas tem muita gente de olho também e apesar da agressividade têm sido peitados pelas instituições democráticas que ainda resistem.
Mas o que nos interessa hoje são os arrependidos ou os disfarçados, aqueles que fingem que não tiveram essa importância assim na eleição e que, por conta de um antipetismo cego, acabaram perdendo a própria visão e elegendo o diabo. Claro que se arrependem. Quem é do mercado também começa a ver que nem todos os fins justificam os meios. Acabam ficando pelo meio do caminho e nem lá nem cá, perdem dinheiro. Lula e o PT nunca trabalharam contra o mercado. Cometeram até muitos erros em flexibilizar a política em prol dos investimentos. Delfim Netto e FHC são dois desses arrependidos. O Zema e o Amoedo, do Novo, apesar de ainda compararem Bozo e Lula, sabem muito bem que a história não é essa. Mas pega mal mudar assim de opinião tão rápido. É tudo uma questão de tempo.
Bolsonaro nunca enganou ninguém. Desde o começo de sua carreira e para isso é interessante ouvir o podcast Retrato Narrado, da Radio Novelo, que conta a trajetória do capitão. Nada surpreende, só choca. Sua carreira de deputado é a confirmação do nada assalariado pelo poder público. O mesmo comportamento que vemos hoje como presidente só que saindo muito mais caro para o país. No golpe contra a Dilma confirmou o que já vinha dizendo antes. Era a favor da tortura. Como pode então, alguém que se diz democrata, liberal, esclarecido e fazendo parte da elite eleger este homem com o voto direto ou a negação do voto no PT? Achavam que ele ia de repente mudar de ideia, flexibilizar sua posição política?
A Dra. Ludhmilla é o exemplo mais recente desta cegueira. Foi a Brasília a convite do rei talvez movida, antes de tudo, pela vaidade, uma vaidade equivocada, convenhamos. Depois, na sua “ingenuidade” achou que podia convencer o Jair a mudar de copo pra balde. Nada feito. Foi agredida por milicianos bem informados de seus deslocamentos, humilhada no próprio gabinete do presidente que empacotou junto o centrão que a levou ao encontro.
Muita confirmação num mesmo gesto. Será que a Dra. Ludhmilla, que não sua omissão política cantou para a Dilma, abraçou o Caiado e tratou de muita gente boa, não sabia quem ela estava indo visitar? Ela não lê jornais, não ouve noticiários? Ela se parece com a Damares que aceita um governo misógino? Ela fecharia os olhos para essas barbaridades em prol de uma política sanitária mais eficiente? Aí sim, seria ingênua. Ela não é do mercado, não tem interesse político em princípio só estaria colocando sua vaidade e sua disponibilidade em prol da saúde dos brasileiros. Mas viu que não deu certo e saiu de Brasília com medo e espero, com uma lição aprendida.
E que essa lição sirva também para todo os arrependidos. Talvez, o preço a ser pago por essa atitude equivocada em relação ao Bolsonaro que resultou nessa tragédia, leve muito mais tempo para ser revertida. Talvez o prejuízo seja imenso, mas nunca é tarde para reverter o quadro. Enquanto houver vida há esperança, dizem eles mesmos.
Ok, aceitamos, mas tenham coragem de assumir que não só erraram, mas devem trabalhar para derrubar quem ajudaram a eleger. Assumir quem for capaz de vencer essa onda podre que nos assola e sair com a mesma força de antes às ruas, reais ou virtuais, para mudar esse quadro apoiando quem puder derrubar o governo fascista do Bolsonaro. Ai sim, estarão todos perdoados por mim. E pela História. Na boa.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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