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    Lucivânia Nascimento dos Santos Fuser

    Lucivânia Nascimento dos Santos é mestra em Estado e Sociedade pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

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    Direita e Fascismo: duas linhas para o mesmo caminho a serviço do capital

    O fascismo do governo Bolsonaro, resultante da criminalização da política que ocorreu através do Judiciário e da mídia hegemônica, é apenas a segunda versão da direita, pois tanto a direita dita democrática quanto a extrema-direita fascista estão a serviço do capitalismo, dos donos do poder que governam a economia

    (Foto: Antonio Cruz - ABR)

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    A direita não é democrática. Ela só age por meio do discurso da democracia nos momentos de otimismo para os capitalistas, quando seus interesses econômicos não estão ameaçados, quando os cenários político e econômico lhes são favoráveis. Nesses momentos, em que ela está com folga no poder e seus patrocinadores empresários, “investidores”, especuladores do mercado financeiro e banqueiros podem ditar as diretrizes administrativas, o discurso é “democrático” e pela eficiência da gestão. 

    A eficiência da gestão da direita consiste no enxugamento do Estado e na sua minimização, na diminuição de impostos para empresários e corte de serviços públicos, além da famigerada onda de privatização que os brasileiros conheceram como nunca no governo do PSDB, com Fernando Henrique Cardoso (FHC). 

    A única diferença entre FHC e o atual presidente Jair Bolsonaro é o comportamento. Enquanto FHC, usando de certa postura refinada de origem intelectual, mantinha a imensa maioria da população na miséria, sem acesso a uma formação educacional, e subjugava o Brasil aos Estados Unidos, às políticas do Banco Mundial e do FMI, que interferiam na soberania nacional e impunham políticas de desenvolvimento que só desenvolviam mesmo os países credores, principalmente os Estados Unidos, Bolsonaro submete o Brasil aos Estados Unidos da maneira deselegante que lhe é característica, sem refinamento nenhum no uso das palavras.

    FHC como presidente aumentou a dívida externa, diminuiu a balança comercial do Brasil a pontos negativos, de modo que o país apenas se endividava mais e não se via o retorno dessas privatizações em termos de segurança social, de combate à pobreza. A fome, a mortalidade infantil, a desnutrição, tinham índices assustadores. Tudo isso motivou a insatisfação popular com o governo de direita, resultando na eleição do PT em 2002, com Lula, que substituiu o discurso da pseudoeficiência a serviço do capitalismo por uma política social de combate à fome e à pobreza, com programas sociais, pois como ele bem dizia, “quem tem fome, tem pressa”.

    Os governos do ex-presidente Lula e da ex-presidenta Dilma investiram intensivamente, como nenhum outro, na democratização do acesso ao Ensino Superior. Essa política tinha como desdobramentos a melhoria da qualidade da Educação Básica, pois se investiu como nunca na formação de professores, incentivando seu ingresso em cursos de mestrado e doutorado, o que os prepara melhor para a vida profissional e acadêmica, além de subsidiar o progresso da ciência no país. As 18 universidades fundadas pelo PT, além da criação de diversos programas de pós-graduação e do aumento de vagas nas universidades já existentes, ampliaram as oportunidades de trabalho e de formação profissional.

    Tudo isso, somado ao incentivo do governo federal, nas gestões do PT, à permanência de estudantes nas universidades até a conclusão de seus cursos, para diminuir sua evasão através de políticas estudantis incluindo bolsas, além das políticas de ingresso de estudantes de baixa renda, de escolas públicas – cuja maioria é negra – nas universidades, fortaleceu a imagem da esquerda entre a população. 

    Já que a direita perdeu quatro eleições presidenciais sucessivas, o capital precisou recorrer a um golpe de Estado e fez cair por terra a máscara da direita que se diz democrática. O autoritarismo da direita derrotada e inconformada começou a se mostrar evidente aí, a partir de 2015, e teve culminância na substituição da política de estado de bem-estar, que se estava iniciando com o PT, pela austeridade no governo Temer. O governo golpista Temer, autoritário por natureza, já que ele não ascendeu das urnas, mas de um golpe jurídico-midiático-parlamentar, com apoio do PSDB, implementou a política administrativa à qual Bolsonaro está dando continuidade.

    O fascismo do governo Bolsonaro, resultante da criminalização da política que ocorreu através do Judiciário e da mídia hegemônica, é apenas a segunda versão da direita, pois tanto a direita dita democrática quanto a extrema-direita fascista estão a serviço do capitalismo, dos donos do poder que governam a economia. Para efetuar as políticas administrativas neoliberais que agradam a esses donos do poder aos quais as duas direitas prestam serviço, seria preciso o fascismo no poder e o aumento de suas raízes na população.

    A reforma da previdência, sua capitalização, o fim de direitos trabalhistas e o sucateamento das universidades públicas através da desobrigação do Estado com o Ensino Superior e sua privatização para diminuir encargos de impostos para empresários e colocar a Educação e a ciência cada vez mais a serviço dos donos da economia, dominar seu pensamento e sua produção de conhecimento, são pautas comuns da direita e da extrema-direita. 

    A direita tucana, aparentemente elegante e com discurso pautado na eficiência da gestão, não daria conta de chegar ao poder por meio de eleições, pois também saiu criminalizada e já tinha baixa aceitação popular devido à gestão de FHC, pois quem viveu o péssimo cenário social e econômico da política tucana jamais se esquece. Assim, grande parte dessa direita se viu aliada a Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018. Afinal, seus fins eram os mesmos: diminuição de obrigações sociais do Estado e do empresariado. 

    Assim, não existe direita democrática porque ela é só uma versão usada capitalismo em tempos de bonança financeira e política, nos momentos em que está no poder e não se sente ameaçada de uma grande derrota política pela esquerda. A direita que se diz democrática, impossibilitada por sua impopularidade de ascender ao poder através de eleições, alia-se à extrema direita, pois tanto direita quanto extrema-direita visa à manutenção do status quo no atendimento dos interesses cômodos das classes dominantes, sem alteração da ordem social, pois isso abalaria seu poder político, econômico, social e ideológico de classe, e abalaria sua zona de conforto. 

    Portanto, o modus operandi entre direita e extrema-direita, entre FHC e Bolsonaro, entre PSDB e PSL, é diferente, mas os objetivos econômicos e administrativos são os mesmos, pois os mesmos setores econômicos que comandam a direita e dela se beneficiam, comandam e se beneficiam da extrema-direita, de forma alternada e orientada, de acordo com a conjuntura. A política econômica e administrativa de Bolsonaro e FHC são as mesmas: FHC servia ao capital e às elites com refinamento, e Bolsonaro serve ao capital de forma deselegante. Ambos são empregados dos mesmos patrões e seus eleitores têm ideais convenientes às classes dominantes. A linha do fascismo de Bolsonaro é o autoritarismo para implementar as mesmas políticas econômicas, administrativas e anti-povo do governo FHC, cuja linha discursiva era a pseudodemocrática da gestão “eficiente”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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