Direita foi às ruas pedir ditadura
"Não dá para entender de outra maneira. Não é possível defender os métodos inquisitoriais de Sérgio Moro que violam o estado democrático de direito e achincalhar o STF – só porque a liberdade do ex-presidente Lula está em questão - sem que isso signifique ataque à constituição de 1988 e à liberdade conquistada nos últimos 34 anos", diz Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
Por Alex Solnik, membro do Jornalistas pela Democracia
Numa reunião de pauta da revista Brasileiros, em 2012, meu amigo Ricardo Kotscho me desafiou a desvendar o que era um tal de Instituto Millenium. Aceitei o desafio. Nas semanas seguintes mergulhei no tema. Fiquei chocado com o que descobri.
O Millenium congregava as mais importantes empresas de comunicação do país, as líderes em TV, rádio, jornais, sites e revistas. Em seus veículos escreviam mais de 400 colunistas. Tinham em comum o fato de serem críticos à esquerda, sobretudo ao PT, que iniciava seu terceiro período presidencial.
Mas tinha mais: em torno do Millenium orbitavam dezenas de ONGs de direita – como Instituto Mises, Endireita Brasil etc – que faziam frenética campanha de destruição da esquerda usando os métodos... da esquerda.
Vendiam camisetas, chaveiros e outros adereços com imagens de Che Guevara com as orelhas do Mickey, avacalhando com Lula, com dizeres tais como a direita é legal e a esquerda medonha e outras mentiras mais. Um trabalho em massa copiando o que o PT fazia para se financiar: camisetas, chaveirinhos. Eles não começaram ontem.
A campanha de desmoralização da esquerda e apologia da direita me assustou. Não se via aquilo desde o fim da ditadura. Se a direita existia, não tinha coragem de sair à luz. Mas agora era diferente. Os caras não tinham vergonha de defender, abertamente, a violência e a tortura, desde que fosse contra a esquerda.
No ano seguinte, 2013, a direita saiu às ruas. O tabu havia sido quebrado. Não acontecia desde 1964, ano da malfadada Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
As ruas de São Paulo, do Rio e de Minas ficaram, então, lotadas de gente da classe média – a mesma que saiu às ruas ontem – para, hipoteticamente, protestar contra uma possível e eventual ditadura comunista. Mas, na prática, eles estavam avalizando a ditadura militar. Tal como ontem: a direita saiu às ruas pedir ditadura.
Não dá para entender de outra maneira. Não é possível defender os métodos inquisitoriais de Sérgio Moro que violam o estado democrático de direito e achincalhar o STF – só porque a liberdade do ex-presidente Lula está em questão - sem que isso signifique ataque à constituição de 1988 e à liberdade conquistada nos últimos 34 anos.
Eu não imaginava no que aquele movimento liderado pelo Millenium ia dar. Não havia um líder para encarnar aqueles absurdos.
O projeto de poder da direita obteve êxito em 2018, com a eleição de Bolsonaro. Foram 13 anos de desconstrução do PT e exaltação da ditadura. Alguns expoentes daquelas ONGs estão no Planalto, caso do atual ministro Ricardo Salles.
Capturaram o poder copiando métodos da esquerda – camisetas, chaveiros, passeatas - e pretendem manter-se nele dessa maneira por um longo tempo.
Agora eles têm também o WhatsApp e o twitter para fazer a lavagem cerebral.
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