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    Alex Solnik

    Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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    Ditadura é ditadura. E vice-versa

    "Pressionado a comprovar o resultado, o governo militar de Maduro afastou-se de vez do caminho democrático", escreve Alex Solnik

    Nicolás Maduro e comando militar em evento em Caracas (Foto: Leonardo Fernández Viloria/Reuters)

    Milhares de livros e de estudos acadêmicos já foram publicados, por eminentes especialistas, sobre regimes políticos, mas alguns acontecimentos reais, como o da Venezuela, mostram mais claramente, as diferenças entre uma democracia e uma ditadura.

    O fato de ter havido eleições para presidente da República levou muitas pessoas a concluir que, sim, tratava-se de uma democracia, pois as ditaduras não promovem eleições presidenciais, mas nem tudo é o que parece. 

    Candidatos mais fortes foram impedidos de participar, o candidato à reeleição ameaçou com banho de sangue caso perdesse, venezuelanos que estão no exterior impedidos de votar, as fronteiras foram fechadas, o acesso às urnas foi dificultado e a apuração não foi transmitida ao vivo, voto a voto, apesar de as urnas serem eletrônicas, como no Brasil, mas com voto impresso, o que Bolsonaro exigia, mas não tem no Brasil. 

    O Brasil conseguiu apurar 100 milhões de votos em algumas horas. A Venezuela, com eleitorado de 10 milhões (votaram seis), deveria apresentar o resultado em minutos. Mas não apresentou. 

    Só no dia seguinte o próprio Maduro anunciou que venceu, quando já havia fundadas suspeitas de que alguma coisa estava fora da ordem. Sem apresentar as atas - os comprovantes do voto impresso. 

    Pressionado a comprovar o resultado, o governo militar de Maduro afastou-se de vez do caminho democrático. Em vez de responder com argumentos às queixas da oposição, que alegou ter ganho em 80% das atas, com diferença de mais de 30%, ou em concordar com a recontagem (como houve no Brasil na reeleição de Dilma Rousseff), taxou os opositores de criminosos e passou a reprimir manifestações da oposição e prender, indiscriminadamente, sem ordem judicial, quem ousou discordar de sua reeleição.

    A principal diferença entre os regimes é que na ditadura ninguém pode discordar do ditador. O ditador não admite discutir a sua autoridade com ninguém, nem de dentro nem de fora do país. Ele é a espada e a lei.

    Não há diálogo, ou você concorda ou é proclamado inimigo. E terá de se haver com as Forças Armadas. Não adianta apelar à Justiça porque a Justiça é um puxadinho do ditador.

    As imagens que a Venezuela tem exibido ao mundo mostram militares de alto coturno fazendo pronunciamentos acerca das eleições, que deveria ser e é, numa democracia, tarefa de civis. Militares, numa democracia, cuidam de proteger o território nacional e defender o país em caso de invasão. Não de eleições.

    Ao ver essas cenas logo me vêm à mente a ditadura militar de 64, os mesmos rostos fechados, os discursos patrióticos, as violações de direitos humanos em nome da segurança nacional, a alegação de defesa da soberania para repelir, como intromissão, denúncias de países que repudiam o arbítrio. 

    As semelhanças entre o que Maduro está fazendo na Venezuela e o que Bolsonaro tentou fazer no Brasil são gritantes. A diferença é que Bolsonaro, mesmo sem aceitar o resultado, não tinha apoio militar, nem da Justiça, e nem o controle da mídia. Apesar de seu empenho diário, ele não conseguiu destruir a democracia.  

    Ninguém se torna ditador sem cooptar os militares, a Justiça e a mídia. Mas sobretudo os militares. E isso tem um preço. Inclusive para o ditador, sempre sob ameaça de ser derrubado por eles. 

    Não existe democracia de esquerda ou de direita. Democracia comporta governos de esquerda ou de direita. 

    Não existe ditadura de esquerda ou de direita. Ditadura é ditadura. E vice-versa. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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