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    Celso Lungaretti

    Celso Lungaretti é jornalista, escritor e autor do livro Náufrago da Utopia

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    Do Chile deveríamos copiar a coerência de Allende, não a política econômica de Pinochet

    O segundo governo de Dilma Rousseff está sendo um pesadelo para a esquerda. Quando igualo Joaquim Levy aos serviçais chilenos de Pinochet, não estou exagerando

    O segundo governo de Dilma Rousseff está sendo um pesadelo para a esquerda. Perdemos a supremacia nas ruas, a credibilidade, a superioridade moral, o respeito do povo. Perdemos tudo. Teremos de recomeçar do zero.

    Qualquer cidadão com um pingo de discernimento político estará chegando à conclusão de que partidos de esquerda jogam suas mais sagradas bandeiras no lixo e assumem o ideário do inimigo como tábua de salvação, quando ameaçados de perderem o poder.

    Se depois de 1964 nos imolamos para provar aos brasileiros que (ao contrário daqueles que haviam se deixado enxotar do governo com um piparote) éramos capazes de sangrar por nossos ideais, o que precisaremos fazer nos próximos anos para provar aos brasileiros que (ao contrário da corrente do PT que apoia o Dilma.2) não fazemos ajustes recessivos à custa dos explorados?

    Do Chile deveríamos copiar a coerência e a coragem de Salvador Allende, não as diretrizes dos Chicago boys.

    A referência é aos aproximadamente 25 jovens economistas chilenos, a maioria pós-graduados da Universidade de Chicago, que formularam a política econômica do carrasco Augusto Pinochet, recebendo elogios entusiásticos de Milton Friedman, o pai do neoliberalismo.

    Friedman chegou a falar em milagre do Chile. Mas, se era para recorrer a um milagreiro dessa laia, por que Dilma foi buscar um de segunda categoria? O Delfim Netto, que joga na divisão principal e prestou o mesmíssimo serviço aos ditadores brasileiros, não teria sido uma escolha melhor? Certamente, mas era preciso salvar as aparências...

    Quando igualo Joaquim Levy aos serviçais chilenos de Pinochet, não estou exagerando. Leiam alguns trechos do interessante artigo desta 5ª feira, 14, de Fernando Canzian (detentor de dois prêmios Esso de jornalismo) e me digam se Levy, cria da mesmíssima universidade estadunidense e do FMI, não pertence à mesmíssima corrente:

    "A série de ajustes conduzida neste momento por Joaquim Levy é pura prescrição do FMI, instituição na qual o ministro da Fazenda trabalhou por sete anos.

    Na terça (12), o Fundo fez elogios às ações de Levy. No mesmo dia, o [jornal] britânico Financial Times o chamou de 'falcão fiscal treinado na Universidade de Chicago'.

    "O receituário do FMI é sempre previsível e clássico, destinado a países que chegam ao fundo do poço, como o Brasil sob Dilma.

    Corte de despesas e aumento de receitas quando há crises fiscais, mais a implosão de programas insustentáveis do ponto de vista atuarial. Os cortes no seguro desemprego e pensões por mortes são parte dessas medidas.

    De saída, o FMI também impõe a seus endividados forte elevação dos juros para conter a inflação e tentar amenizar os efeitos de outro instrumento do receituário: um 'tarifaço' a fim de corrigir preços defasados e equilibrar o caixa de empresas fornecedoras de energia, combustíveis etc. para que possam perpetuar investimentos.

    ...O objetivo é aproximar ao máximo o país da economia de mercado.

    ...Se olharmos para todos os países que precisaram de dinheiro do Fundo para se manter à tona, veremos que a base do receituário é sempre a mesma...

    O Brasil segue mais uma vez o mesmo caminho..."

    Não há absolutamente nada em comum entre homens de esquerda e os falcões fiscais treinados na Universidade de Chicago, com estágio no FMI, para ministrarem os remédios amargos da ortodoxia capitalista. Quando são companheiros de viagem, é porque alguém está traindo suas convicções.

    Temo que não seja o Levy.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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