...e como cantava Chico Buarque: “vai passar”
É bom que sonhemos que vai passar e, digo mais, é bom e necessário que trabalhemos para interromper esse ciclo de sectarismo e ódio que está em curso no Brasil. É hora de colocarmos um pé no rejuvenescimento da nossa utopia humanista e, o outro, nas ruas e nas esquinas do país. É hora de nos apaixonarmos novamente pelo país que estamos perdendo, entrarmos de corpo e alma na luta e colocarmos as mãos à obra, porque “a paixão move o mundo e nada vence o trabalho”.
Questiono: a nossa postura e narrativa diante desse movimento ideológico de extrema direita que governa o país estão corretas? Se sim, prossigamos. Se não, o que temos que fazer?
Governo antinacional - Talvez não devêssemos começar pelas respostas, mas pelo reconhecimento de que ainda não conseguimos interpretar corretamente este momento, e isso se deu por subestimarmos o governo Bolsonaro. Medimos a capacidade deste governo pelo tamanho do presidente que é uma biruta de aeroporto quase incapaz, mas que tem um lado. E não é o lado do Brasil.
A fragilidade do atual presidente tem funcionado como uma peça útil para o funcionamento da engrenagem que vem movendo o governo. Pode-se até dizer que Bolsonaro nem compreenda qual é o projeto que ele está tangendo, mas lhe basta estar contrapondo-se à esquerda, em especial ao Partido dos Trabalhadores.
Colônia dos EUA - Por isso, é importante Bolsonaro não descer do palanque eleitoral, não só ele, mas também os que efetivamente tocam o governo. O que vai acontecer com o país e seu povo pouco importa para esse governo, contando que seja possível conseguir nos devolver à condição nova colônia, de quintal por onde o Tio Sam possa passear serena e tranquilamente. Para que os Estados Unidos possam contar com o Brasil como uma peça maleável a ser movida com facilidade no xadrez dos seus interesses geopolíticos.
É muito importante percebermos que aqueles que efetivamente governam o nosso país precisam muito do bolsonarismo e seu ódio para que possam, alicerçados em algum apoio da massa, transferir o que sobrou da riqueza acumulada e potencializada nos últimos 100 anos pela sociedade brasileira. Riqueza essa que, no início deste século, através dos governos do PT, sobretudo dos governos Lula, começou a encontrar o endereço a que devia realmente servir: o povo brasileiro.
Presidente maluco - É claro que não será a partir de uma análise frágil como essa, fruto apenas da minha percepção, que encontraremos as respostas e a narrativa correta para combater esse governo de extrema direita, dirigido por um presidente totalmente maluco. Precisamos entender que essa é uma maluquice útil para os rentistas e entreguistas que tocam a máquina do Estado, usufruem dos recursos públicos e entregam a preço de banana nossas riquezas a grupos estrangeiros, enquanto o Bolsonaro desvia a atenção de toda a nação com suas extravagâncias.
Em minha opinião, juntos os partidos de esquerda, movimentos populares, sindicais e sociais e personalidades que lutam no combate às iniquidades do Brasil precisam interpretar este governo, não apenas pela régua que mede o presidente Bolsonaro, mas também por outra medida que alcance além de todos os interesses econômicos e a destruição dos valores democráticos e humanos em curso. Ou seja, que alcance também a poluição quixotesca que habita as cabeças de alguns autoproclamados sábios que ajudam ou dirigem o atual governo.
Bolsononaro vai passar - Nos dias atuais é comum afirmar, após cada pataquada do presidente e alguns dos seus ministros: isso não vai dar certo! Mas quando nos apartamos das nossas convicções ideológicas e de certa arrogância que todos nós temos um pouco, chegamos a afirmar: isso pode dar certo. Obviamente, que pode dar certo para os propósitos daqueles que governam.
Mas, vai passar. Pois até grandes os impérios como o romano, o persa, o mongol e o otomano passaram. Por que o governo do Bolsonaro não passará? Convém lembrar que, pelo pouco da história que conheço, esses impérios passaram ou se desfizeram pelos seus erros. Então questão é: o Governo Bolsonaro passará ou o passaremos?
Acredito que o passaremos. Por que observando a atuação dos partidos de oposição na discussão e aprovação da Reforma da Previdência percebi que temos as melhores, as mais qualificadas e justas argumentações. Embora tenha percebido também que só foi possível lograr algum êxito quando a oposição conseguiu atrair setores de centro para as posições que estavam defendendo. Fica demonstrado então que existe um espaço no Parlamento para ampliar o enfrentamento às barbaridades que o atual governo tem implementado.
Povo nas ruas - Apreendi ainda que, embora o Parlamento seja importante, não derrotaremos esse processo obscurantista sem a presença do povo nas ruas.
Só conseguiremos derrotar a extrema-direita, hoje, personalizada pelo governo Bolsonaro, se articularmos as seguintes ações: fazer uma crítica qualificada ao governo; apoiar-se no legado dos governos Lula; fortalecer unidade da oposição; apresentar novo projeto para o país que seja capaz de dar respostas às necessidade mais urgentes da população; e, envidar esforços capazes de ampliar a aliança, alcançando todos os que defendem a soberania nacional, a democracia e o Estado democrático de direito.
Resumindo, precisamos arregimentar forças e promover um novo encantamento do povo para com o país, fazendo-o compreender a importância da soberania nacional e dos seus interesses que estão em jogo.
Só conseguiremos derrotar o bolsonarismo se tivermos uma pauta para o país que seja compreensível aos mais simples e não se estivermos focados, apenas, na pauta imposta pelo adversário.
É preciso que sejamos capazes de manter apenas um pé desconstruindo a agenda do governo Bolsonaro e, ao mesmo tempo, as duas mãos e o outro pé na construção de uma agenda desenvolvimentista para o país, com geração de empregos, renda e justiça social, e que compreenda e contemple de forma cristalina os interesses de todo o povo brasileiro.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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