É hora de menos reflexão e mais ação
Discursos muito bem elaborados, análises profundas sobre a relação entre psicanálise e fascismo, espantos e pânicos podem render textos maravilhosos pra academia ou pra deleite de quem, como eu, gosta de ler, mas o que pode nos ajudar é coisa simples, chão de fábrica, foto mais imagem com frase composta por quatro palavras, pequenas ações digitais somadas a uma campanha igualmente baseada em texto simples e com respostas honestas e diretas para a população
Em um momento perigoso, diz um monge budista que mora na França, Thich Nhat Hanh, o mais importante é manter a calma. É desse modo, afirma ele, que podemos evitar um barco de naufragar. Ele faz 92 anos no próximo dia 11. Trata-se de uma longa jornada nesse mundo e que incluí a difícil decisão, durante a Guerra do Vietnã, de deixar o país ou cuidar da população ferida. Quase tudo que sei de mais importante sobre sobrevivência eu aprendi com ele.
Estou observando atentamente a movimentação de pessoas amigas dando ideias, dicas, distribuindo manuais, divulgando suas ações e textos. Muitos textos circulam pelas inúmeras redes nas quais estamos inseridxs.
É evidente o quanto a maioria está em desespero. Pra ser franca, só enxerguei dois ou três amigos mais ponderados em meio a uma enxurrada de desesperadxs.
Também fiz, mais uma vez, uma longa viagem pelo submundo virtual do fascismo. Muitxs de vocês não têm ideia, na prática, de como ocorre a campanha presidencial das trevas. Não conhecem porque nem pensaram nisso, não conhecem porque nem sabem como acessar ou não conhecem porque desmerecem (ou desmereceram) a robustez desse movimento orquestrado.
Durante muito tempo, li piadas e análises que asseguravam que a candidatura fascista desidrataria. Nunca concordei. Pra mim, sempre foi muito claro o avanço gradual da peste.
Também muito desmereceram uma figura considerada folclórica que atende pelo nome de Olavo de Carvalho. Se você, excepcionalmente não conhece, coloque aí na busca que rapidamente saberá de quem se trata.
Se você leu até aqui, continue comigo porque daqui a pouco eu lhe digo aonde pretendo chegar.
É falsa a afirmação de que, tirando os abastadxs, o grande volume do eleitorado do candidato fascista é limitado, não tem formação intelectual e por essa razão vota nele. Cheguei a pensar assim. Rearrumei as ideias.
O eleitorado do fascista atinge todas as classes sociais e econômicas, algo que já apareceu em pesquisas, mas o mais importante é perceber a pluralidade desse eleitorado e que cada segmento acolhe um pedaço de suas ideias, embora haja quem as adote na totalidade.
Entre os grupos sociais que aderiram de modo fragmentado, temos, portanto, os que acreditam ser o candidato anticorrupção; temos os que usam desse argumento pra driblar a identificação com ideário fascista; temos os que nunca gostaram de Lula, do PT, da esquerda, possivelmente pelos avanços registrados, pois nunca gostaram de preto, pobre e favelado, porque a escravidão nunca acabou no Brasil; temos os que acreditam numa espécie de salvador da Pátria, que supostamente diz a “verdade, doa a quem doer”; temos os homens que sempre foram violentos com as mulheres e que andaram perdendo espaço graças a uma política de proteção à mulher e avanços rumo à civilização; temos os moralistas preocupados com uma compreensão mais saudável da questão de gênero e temas relacionados à sexualidade; temos parte do exército e categorias profissionais ligadas à polícia em várias esferas, que ainda respiram ares de uma ditadura nunca observada com a devida atenção, deixando margem para culto a torturadores e desejo latente de violência, não apenas com a população pobre desse país - que saiu pouco do lugar em que sempre esteve - mas também com minorias, que, por força da lei, passaram a gozar de parte do respeito merecido e, ainda, contra artistas e intelectuais.
Como se vê, na longa lista que fiz questão de elencar, não é possível interagir com todos esses públicos de modo homogêneo, algo que quase todxs me parecem fazer agora e antes e mesmo antes de antes.
Não me surpreende ter lido que grupos de marketing digital internacionais, responsáveis pela campanha de Trump, por exemplo, estariam fortemente entranhados no que estamos assistindo, pois, o nível de capilarização pelo país, principalmente via WhatsApp, beira à totalidade do território nacional. Quem vem fazendo tudo isso, de maneira gradual, sabe o que está fazendo e tem obtido frutos.
Discursos muito bem elaborados, análises profundas sobre a relação entre psicanálise e fascismo, espantos e pânicos podem render textos maravilhosos pra academia ou pra deleite de quem, como eu, gosta de ler, mas o que pode nos ajudar é coisa simples, chão de fábrica, foto mais imagem com frase composta por quatro palavras, pequenas ações digitais somadas a uma campanha igualmente baseada em texto simples e com respostas honestas e diretas para a população.
O desafio, agora, é ser simples, é ser minimalista, é entender o mundo pelo olhar dos grupos citados e outros que, por acaso, esqueci.
Não adianta escrevermos pra nós mesmxs, porque nós não somos fascistas e nem estamos à mercê de manipulação sistemática. Temos que buscar justamente aqueles que nos são mais estranhos, cientes de que isso exige um desempenho quase além de nossa própria capacidade, porque dessa tentativa de aproximação e diálogo também depende nossa sobrevivência. E, para sobreviver a essa densa floresta escura, é preciso ter muita calma pra evitar desperdiçar energia, não se indispor com companheirxs de viagem e identificar as capacidades de cooperação de cada pessoa nessa empreitada, estando, finalmente, dispostx a doar o tempo que for necessário para que a gente saía dessa enrascada nacional.
Sempre há uma saída, sempre há um jeito. É preciso modular o rádio pra ouvir essa canção coletivamente.
Por fim, porque sou Cristã, sendo essa, portanto, a base da minha compreensão de mundo, sugiro que elevem seus corações - em cada pequena ação - em direção ao bem, ao belo, ao justo, à paz e à felicidade de todxs os seres.
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