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    Pedro Benedito Maciel Neto

    Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

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    E os incautos comemoram...

    Fato é que o expansionismo militar, político e econômico norte-americano ao longo do século XX e neste século XXI é inegável e insaciável

    Donald Trump (Foto: REUTERS/Leah Millis)

    Se, por um lado, é previsível que a elite brasileira preste vassalagem aos interesses de Washington e Wall Street, por outro lado, é triste ver a classe média, os pobres remediados e os pobres em geral, comemorando a vitória do bilionário estadunidense, como se isso fosse bom para o Brasil. 

    Vamos pensar sobre isso um pouco.

    Geopolítica - A vitória de Trump pode significar um tempo de menor presença do Império na Ásia e na Europa, contudo, na América Latina o imperialismo estadunidense se fará presente de forma dura, afinal, eles nos veem como seu quintal e porque, por razões econômicas, temos mais dificuldades para resistir e reagir à dominação imperial.

    Desde muito tempo, os Democratas e os Republicanos concordam que a América Latina deve ser de controle exclusivo dos EUA. Essa ideia faz parte da “Doutrina Monroe” e do seu pressuposto ideológico contido no “Destino Manifesto dos Estados Unidos” (de que a grandeza dos EUA dar-se-ia através da expansão dos seus territórios, tanto a oeste do país quanto em direção a determinados países no Caribe, como Cuba, Panamá e Porto Rico). Fato é que o expansionismo militar, político e econômico norte-americano ao longo do século XX e neste século XXI é inegável e insaciável.

    Para quem não lembra, a doutrina do “Destino Manifesto” era uma crença comum entre os habitantes dos EUA que dizia que os colonizadores deveriam se expandir pela América do Norte. Essa doutrina contém também a crença de que o povo americano foi eleito por Deus para civilizar, inicialmente, o seu continente. 

    Há três temas comuns no "manifesto": (a) a virtude especial do povo americano e suas instituições; (b) a missão dos Estados Unidos era redimir e refazer o Oeste à imagem da América agrária; (c) o destino irresistível para conquistar este dever essencial, com a bênção de Deus.

    O geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que visitou os EUA em 1873, se impressionou com a doutrina do “Destino Manifesto”. Ratzel simpatizou-se com os resultados do "Destino Manifesto", mas ele nunca usou o termo. Em vez disso, ele se valeu da “Tese da Fronteira” de Frederick Jackson Turner e, a partir dessa ideia, promoveu colônias ultramarinas para a Alemanha, na Ásia e África. Depois, alguns alemães reinterpretaram Ratzel para defender o direito da raça alemã de expandir na Europa, e vejam só que curioso: essa noção foi incorporada na ideologia nazista.

    Cultura Imperial - Não é fácil conviver com uma nação que acredita ser especial e ter a bênção de Deus, quase que de forma exclusiva. Também por isso, Brasil, Venezuela, Argentina e Bolívia que se preparem, pois Donald Trump, além de, aparentemente, ser um adepto da doutrina do destino manifesto, tem compromissos com as grandes petroleiras e com Elon Musk (que olha com cobiça as reservas de lítio de Brasil, Argentina, Chile e Bolívia). Não podemos esquecer que o bilionário declarou que financiaria tantos golpes quantos fossem necessários para ter acesso ao lítio, ao referir-se ao golpe na Bolívia, que ele financiou.

    Em síntese, Trump, cujo apreço pela democracia é medido pela invasão ao Capitólio em 2022, terá ao seu lado Elon Musk, um golpista confesso. Isso é muito coerente, pois o governo Trump financiou golpes e instabilidade em diversos países durante o seu primeiro mandato: Nicarágua (2018), Venezuela (2019), Bolívia (2019) e Brasil (2018).

    Protecionismo - Além de financiar golpes e instabilidade a países, sempre em nome da democracia, foi Trump quem impôs uma tarifa de 25% ao aço brasileiro, pois, segundo sua lógica, o aço brasileiro é uma “ameaça à segurança nacional dos EUA”. Incautos, acordem: a política protecionista de Trump prejudicará a exportação de outros tantos itens brasileiros. 

    As transações comerciais com os EUA já tiveram um déficit de 1,1 bilhão de dólares em 2023, e a redução das exportações, motivada pelas altas tarifas, deverá elevar ainda mais esse déficit.

    A política econômica de Trump também deverá elevar os juros e valorizar o dólar, conduzindo ao aumento da inflação no Brasil. Essa triste realidade assanha os agentes da Faria Lima e a imprensa comercial, que tentam convencer os incautos de que o único caminho é o arrocho (conomistas desenvolvimentistas podem explicar melhor que eu, acerca das outras tantas possibilidades).

    O que fazer? - Penso que há necessidade de um reposicionamento do Brasil frente a essa realidade. Se for mantida a política de submissão diante dos interesses dos EUA, a crise econômica no Brasil vai piorar vertiginosamente, e não apenas para a classe média, mas também para os pequenos empresários.

    O Brasil vai presidir o BRICS no primeiro ano de mandato de Donald Trump. Tendo em perspectiva o que China e Rússia fizeram até agora, caberá ao Brasil avançar com o processo de desdolarização dentro do bloco. Essa é uma tarefa estratégica e o Brasil precisa assumi-la como fundamental, se pretender fortalecer o BRICS e o Sul Global. 

    As dificuldades não serão pequenas, pois o governo Trump criará tarifas ainda mais pesadas, o que vai dificultar muito a venda dos nossos produtos aos EUA. O caminho é o BRICS, é direcionar a exportação da nossa soja para a China, o aço para os Emirados Árabes e a América Latina e Caribe, e assim por diante.

    Outra medida fundamental, que pode ser liderada pelo Brasil, é o fortalecimento da integração latino-americana através dos mecanismos regionais como a Celac e o Mercosul.

    Tudo isso o Lula sabe, o Haddad sabe, a Tebet sabe. Sei que eles farão o que for possível, mas é muito triste ver tanta gente aplaudindo o caos trompista que se anuncia. 

    Essas são as reflexões.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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