É preciso que as esquerdas se reencontrem com elas mesmas
Precisamos reconhecer que as esquerdas não sabem por qual caminho seguir. Não é um erro admitir este problema
Olá, companheiros e companheiras. Estamos à beira de mais uma eleição. Um pleito dificílimo. É ingênuo acreditar que o resultado final será o mesmo que aparece nas pesquisas sem muita luta. Estamos lidando contra o fascismo, as milícias e uma banda podre das Forças Armadas que só quer sugar o dinheiro público em benefício próprio. Será mesmo que eles vão vender uma derrota assim tão fácil?
Desacreditamos na eleição do Bolsonaro em 2018. Estamos indo no mesmo erro em 2022. A vantagem de Lula é visível, inclusive nas ruas. Mas isso não quer dizer que a eleição do ex-presidente se dará de forma simples. Até outubro o clima vai se acirrar. Estamos lidando com forças muito poderosas e armadas.
A eleição de 2022 também é uma oportunidade para as esquerdas se reencontrarem consigo mesmas. Digo isso porque vejo que falta uma maturidade para as diversas correntes das esquerdas brasileiras. Como diz um amigo, professor e historiador, não podemos reduzir todo um vasto campo em um único grupo.
No entanto, estamos perdidos. E precisamos reconhecer que as esquerdas não sabem por qual caminho seguir. Não é um erro admitir este problema. Mas, a partir do momento que percebemos isso, temos a possibilidade de corrigir a rota e trilhar o caminho correto.
O sonho de todos nós, acredito, é o da revolução. Um mundo socialista, sem desigualdades, com direitos sociais, Estado presente, bons serviços públicos, sem pobreza. É lindo? Sim, com certeza. Mas não é factível. Não vamos ter revolução. Nem agora, e tendo a dizer, nem nos próximos anos. Talvez, na verdade, vamos morrer sem a vê-la.
E é sobre este ponto que quero pautar esse artigo. Não adianta parte da nossa esquerda clamar por uma revolução que não vai acontecer. Não temos condições sociais para uma insurgência. Aliás, ao longo da história brasileira, nunca tivemos. Talvez se as esquerdas tivessem controlado as manifestações de 2013, que caíram nas mãos dos protofascistas do MBL e da direita brasileira, teríamos condições de, agora, insurgir contra um governo que aprofunda a desigualdade social e traz miséria para o nosso povo.
Para ter uma revolução é necessário criar essa condição entre as pessoas. Massificar as ideias, criar lideranças e mostrar que o povo nas ruas pode mudar um país. Se necessário, pegar em armas e lutar. Você acredita que temos essa condição? Só uma pessoa que vive em um universo paralelo pode achar que a revolução está próxima. Estamos a anos-luz disso.
Portanto, precisamos ser pragmáticos. Nosso maior desafio é vencer Bolsonaro e retomar o controle democrático do país. Sem milícia, sem Forças Armadas, sem sanguessugas do dinheiro público. Depois disso, precisamos voltar a nos reconectar com a população. Recuperar o espaço perdido para as igrejas neopentecostais, voltar à periferia, trabalhar uma reformulação nos sindicatos, formar novas lideranças e debater que futuro queremos para o Brasil.
Precisamos voltar a nos conectar com a realidade. Pautas que sempre foram encampadas pela esquerda estão indo para o colo da direita protofascista. Já reparou que, de uma hora para outra, todo mundo fala sobre direito das mulheres? Isso é ótimo, claro. Mas a emancipação feminina não será conseguida sem uma mudança no modelo econômico. Cadê as mulheres de esquerda encampando políticas públicas que mudem a forma de trabalho, tragam direitos e oportunidades para as mulheres? São poucas. O discurso, hoje, entre direita e esquerda está muito próximo, e isso é péssimo para nós.
O exemplo acima é o mesmo para todas as pautas chamadas de identitárias. O negro, o trans, o LGBTQIA+, e qualquer outro grupo, não vai conseguir a emancipação e o empoderamento se não tiver uma mudança no modelo econômico. Precisamos pensar em formas diferentes do neoliberalismo atual para que possamos evoluir enquanto sociedade.
Muitos me perguntam se vamos conseguir isso com um novo governo Lula. Creio, com muita convicção, que não. Principalmente com Alckmin como vice. No entanto, eles são o caminho para pavimentar uma volta a normalidade democrática. E com um trabalho de base podemos sonhar em anos melhores.
No entanto, se cairmos no erro histórico de achar que a população, naturalmente, vai escolher a esquerda, estaremos fadados ao fracasso. Mostra que não aprendemos com 2013, com 2016 e com 2018. E a derrota em 2022 será muito mais dolorosa, e impactará muito mais o país, do que as anteriores.
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