É preciso recuperar em São Paulo o nosso direito à cidade
Os problemas da cidade são problemas de todos nós. São muitos os excluídos e excluídas que precisam voltar a acreditar que é possível viver em uma São Paulo para todos. É por isso que convido cada um e cada uma a participar do 27º. Grito dos Excluídos, no próximo dia 07 de Setembro, às 14h, no Vale do Anhangabaú.
A cidade de São Paulo não é mais a terra das oportunidades, assim como o estado de São Paulo não é mais a locomotiva do Brasil. Quem pode abandona o ritmo frenético e o alto custo de vida cobrado para se viver por aqui. Não compensa pagar caro para viver mal. Basta andar pelas bandas paulistanas para perceber o estado de abandono em que a cidade se encontra. São desde os problemas de zeladoria, que afetam todas as regiões da cidade, até demandas muito mais sérias, que transitam pela falta de políticas públicas e projetos de gestão que considerem o direito de todos e todas a viver com dignidade em São Paulo.
É certo que uma cidade que tem o setor de serviços como principal indutor econômico, como é o caso da capital paulista, sofre os impactos diretos da pandemia e de todas as mudanças trazidas pelo Coronavírus. O problema é que passado um ano e meio da pandemia, o luto pela morte do prefeito eleito em 2020, Bruno Covas, e quatro meses de administração do então vice e atual prefeito, Ricardo Nunes, a população amarga o desemprego, a falta de políticas sociais e inclusivas, a violência dos despejos e do aumento das famílias vivendo em situação de miserabilidade e a invisibilidade do direito à cidade.
Tenho retomado, aos poucos, as visitas presenciais e reuniões em áreas abertas nas periferias da cidade, sempre respeitando todos os protocolos de proteção e distanciamento. Nos últimos 20 dias estive nos bairros de São Mateus, Sapopemba, Itaquera e Cidade Tiradentes, na região leste, a mais populosa da cidade, com 4,6 milhões de habitantes. A densidade habitacional, reflexo de uma população empurrada para longe do centro e das ofertas de emprego, resulta em ocupações e moradias irregulares, por vezes sem infraestrutura básica de serviços essenciais como água, energia e esgoto, longe dos equipamentos públicos de saúde e educação e reféns de um transporte público caro, demorado e pouco eficiente. Veja o caso do monotrilho linha 2 Prata, que deveria ligar a estação Vila Prudente até os bairros distantes de São Mateus. O sistema, elevado, além de entregue a conta-gotas, com inúmeros atrasos, é inconstante, vive quebrando e causando pânico nos usuários. Tudo porque o governo do estado acha que a tecnologia de metrô, transporte de alta capacidade, é para servir ao centro expandido, nunca para as periferias.
Na região sul da cidade, a segunda mais populosa, os mesmos problemas de infraestrutura, questões viárias nunca resolvidas, como é o caso da duplicação da estrada do M´Boi Mirim, Unidades Básicas de Saúde que só atendem bem graças ao esforço dos profissionais e das parcerias que buscamos garantir, através de emendas parlamentares, recursos para compra de bens mobiliários e equipamentos. Bairros e regiões com uma riqueza ambiental importante, como é o caso da Ilha do Bororé e das áreas próximas à represa Guarapiranga, que sofrem com a especulação imobiliária desenfreada.
O cenário de problemas se repete nas periferias das outras regiões, norte e noroeste, com a grande demanda por regularização fundiária, os gargalos de uma obra gigantesca abandonada, caso do Rodoanel Trecho Norte, que despejou bairros inteiros e deixou moradias entrecortadas no meio do nada. Um verdadeiro absurdo, objeto de uma CPI da Dersa que já deveria estar funcionando na Alesp desde março deste ano. Uma investigação que certamente não interessa ao PSDB paulista e ao lobista tucano Paulo Preto, envolvido em desvios de dinheiro público em obras do sistema metroferroviário e da própria Dersa. A bancada do PT na Alesp vai continuar insistindo para que inicie seu funcionamento o mais rápido possível.
A luta pelo direito à moradia é hoje uma das pautas mais importantes da capital. Há poucos dias uma grande manifestação promovida por diversos movimentos de moradia percorreu as ruas do centro paulistano para exigir o inicio dos atendimentos habitacionais por parte da prefeitura, marcando o Dia Nacional da Habitação, comemorado em 21 de agosto. Foram recebidos na secretaria municipal de Habitação para apresentar a pauta de reivindicações, entre elas a suspensão imediata dos despejos em plena pandemia, uma ação vergonhosa da prefeitura, do estado e do governo federal.
De fato, percorrer a cidade de São Paulo nos dias de hoje entristece. Projetos como os Centros Unificados, os CEUS, perderam parte de sua essência multieducacional, de lazer e esportiva, ainda antes da pandemia. Assim como outros equipamentos públicos e de lazer espalhados pela cidade. Uma cidade que enche de pedras embaixo de viadutos, que gradeia praças, que não oferece oportunidades de emprego para um milhão de desempregados que aqui buscam uma oportunidade, é uma cidade sem vida.
Empurrar os problemas para longe dos olhos da prefeitura, marginalizando a população a viver nas pontas da cidade, sem apresentar um projeto de desenvolvimento econômico regional que considere as necessidades e as particularidades da cidade é uma política que não podemos aceitar. Vamos continuar conversando com as pessoas sobre o que as aflige; emprego, saúde, cultura, educação.
Sou deputado estadual mas já fui vereador por dois mandatos e moro nessa cidade. Nasci no mesmo dia que São Paulo, em um 25 de janeiro. Os problemas da cidade são problemas de todos nós. São muitos os excluídos e excluídas que precisam voltar a acreditar que é possível viver em uma São Paulo para todos. É por isso que convido cada um e cada uma a participar do 27º. Grito dos Excluídos, no próximo dia 07 de Setembro, às 14h, no Vale do Anhangabaú.
É um tempo de crise social, sanitária, ambiental, política e econômica. A democracia está sendo duramente atacada enquanto o povo mal consegue comprar alimento, gás de cozinha, pagar a conta de água e de luz. Tudo isso é exclusão. Estar nas ruas, portanto, não é provocação, é nosso direito.
Nos encontramos no Vale do Anhangabaú, neste 07 de Setembro: com máscaras, distanciamento social, tranquilidade, solidariedade e em uníssono: Fora Bolsonaro!
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