E se não existissem os palestinos
O conflito não vai se resolver com a negação do outro. O conflito só pode ser resolvido com o reconhecimento do outro
Um dos argumentos preferidos dos antissemitas, de esquerda ou de direita, quando se trata dos judeus, é dizer que eles são apenas parte de uma religião, que não existe um povo judeu, muito menos com direito a uma nação. Na mesma linha de pensamento, os palestinos seriam o povo com direito ao que hoje é Israel.
Claro que neste caso teríamos de admitir a existência de tal povo palestino. Mas será que eles existem? Para poder esclarecer este fato é preciso voltar na história e vamos começar perguntando a eles próprios.
Em 1977, em uma entrevista concedida pelo líder da OLP Zuheir Mohsen, ao jornal holandês Trouw ele declarou: "O povo palestino não existe. A criação de um estado palestino é apenas um meio para continuar a nossa luta contra o Estado de Israel em nome da unidade árabe. Na realidade, hoje não há nenhuma diferença entre jordanianos, palestinos, sírios ou libaneses."
Em novembro de 2017, a TV oficial da Autoridade Palestina mostrou uma entrevista com o famoso historiador Abd Al-Ghani Salameh sobre os cem anos da Declaração Balfour. Durante a entrevista Salameh explicou que em 1917 não havia um povo palestino. Disse ele: "Antes da Declaração Balfour, quando o governo Otomano terminou (1517-1917), as fronteiras políticas da Palestina como as conhecemos hoje não existiam, e não havia nada chamado de povo palestino com uma identidade política, como conhecemos hoje. As linhas de divisão administrativa da Palestina se estendiam de leste a oeste e incluíam a Jordânia e o sul do Líbano. Como todos os povos da região, (os palestinos) foram libertados do domínio turco e imediatamente passaram para o domínio colonial (britânico e francês), sem formar uma identidade política".
A razão para esta afirmação parece estar bem clara se voltarmos no tempo. Enquanto os ingleses dominaram o território denominado por eles de Palestina, entre 1920 e 1947, todos os habitantes da região eram denominados de Palestinos; no entanto, os árabes não aceitavam serem chamados desta forma. Em 1919, durante um Congresso de Associações Muçulmanas e Cristãs da região realizado em Jerusalém, foi declarado: "Consideramos a Palestina como parte da Síria árabe, da qual nunca se separou em nenhum momento. Estamos conectados com ela por laços nacionais, religiosos, linguísticos, morais, econômicos e geográficos".
No ano seguinte, em outro Congresso, mas desta vez em Damasco, de cidadãos árabes da Palestina, foi defendida a unidade Pan-Síria. Na verdade, todos os nascidos durante o período do Mandato Britânico da Palestina entre 1923 e 1948 tinham o termo "Palestina" carimbado nos passaportes. Acontece que os árabes ficavam extremamente ofendidos quando chamados de palestinos: "não somos palestinos, somos árabes. Os palestinos são os judeus”.
Em 1920, o Príncipe Faisal, que era simpático à presença de judeus na Palestina, tentava sem sucesso governar a Síria, e terminou por receber de presente o Iraque. Assim nasciam futuros países que não obedeciam a fronteiras naturais, nem mesmo populações afins.
Nesta linha aparece um Mufti radical em Jerusalém que dá início à violência na Palestina. Mohammad Amin al-Husayni, filho de uma importante família muçulmana da cidade, se constituiu em um violento oponente dos ingleses na sua luta pela autonomia da Palestina. Ele se opunha ao estabelecimento de um Estado Judeu no território.
Durante a revolta árabe entre 1936 e 1939, foi um grande instigador de ações contra os ingleses e os judeus. Com o fim da revolta em 1937, perseguido pelos britânicos, fugiu da Palestina, refugiando-se inicialmente no Líbano, depois no Iraque, Itália e por fim chegando na Alemanha Nazista. Lá ele se encontrou com Hitler em 1941 tentando, o apoio dos nazistas para o pan-arabismo contra o estabelecimento de um estado nacional judaico. Promoveu o recrutamento voluntário de muçulmanos para a SS. Mesmo assim, não teve sucesso.
Finda a revolta, surge um nacionalismo árabe na Palestina, não com a intenção inicial de terem seu próprio país, mas de serem parte da Síria.
Em 1937, o secretário-geral do Alto Comissariado Árabe, Auni Bey Abdul‐Hadi, informa a comissão Peel a respeito da disputa entre judeus e árabes na Palestina que: "Não existe um país chamado Palestina. ‘Palestina’ é um termo inventado pelos sionistas. Não há Palestina na Bíblia. Nosso país foi durante séculos parte da Síria. O termo ‘Palestina’ nos é estranho. Foram os sionistas que o introduziram”.
Anos depois, em 1947, o representante sírio na Assembleia Geral das Nações Unidas, El–Khouri, disse a mesma coisa: “Eu acho que a maioria de vocês, se não todos, sabem que a Palestina era uma Província Síria. Temos laços geográficos, históricos, religiosos e raciais. Não há qualquer distinção entre os palestinos e os sírios”.
Com a partilha da Palestina e a saída dos Ingleses, eclode a guerra em 1948. Após os exércitos árabes invasores serem derrotados, uma parcela de árabes locais que haviam fugido da guerra queria voltar, mas eram considerados quinta coluna pelos que haviam resistido, não sendo, portanto, bem-vindos. Os árabes que permaneceram em Israel durante a guerra e seus descendentes ainda estão em Israel, representando hoje um quinto da população do país. Eles são conhecidos como árabes israelenses. Eles têm os mesmos direitos de judeus e cristãos, com a exceção de que não são obrigados a servirem o exército, podendo fazê-lo se assim o desejarem.
Vejam como é simples resolver o problema do conflito entre palestinos e israelenses. Basta “provar” que o outro não existe. Melhor ainda quando dito por eles próprios, afinal todos temos nossos “Sérgio Camargos”. Esta é a linha de parte da esquerda e da direita em geral. É o que vimos assistindo nestas últimas semanas. Supostos entendidos do judaísmo, antissemitas clássicos, antissionistas e ignorantes da história vem tentando provar a inexistência de um povo judeu. Inexistindo, eles não têm direito a um Lar Nacional. Assim sendo, aquilo que se chama Israel deve ser entregue aos palestinos para formarem seu Estado Nacional.
Todas as informações a respeito da inexistência de palestinos foram obtidas na Wikipédia e em artigos publicados e encontrados na Internet. A pergunta é: e daí?
Exatamente isso. O conflito não vai se resolver com a negação do outro. O conflito só pode ser resolvido com o reconhecimento do outro. É o que vem se tentando fazer há muitos anos, sem sucesso. O processo de Paz está parado há mais de 10 anos. Os lados não se entendem.
Todos aqueles que propagam ideias de destruição do Estado de Israel são inimigos dos dois povos, judeu e palestino. São parte da mesma escória nazista com quem possuem grande afinidade, sejam eles de direita ou de esquerda.
Os dois povos precisam encontrar uma liderança capaz de alcançar um acordo final. Uma solução que beneficie os dois povos. Um projeto que, por mais doloroso que seja, implique em concessões das duas partes. Um plano que permita a reconciliação e a convivência pacífica.
Nós reconhecemos o povo palestino e seu direito a um Estado.
Este é o pensamento de Judias e Judeus Sionistas de Esquerda.
Mauro Nadvorny, Milton Blay, Tania Baibich, Jean Goldenbaum, Pietro Nardella
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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