Ecossistema de IAs chinesas pode reorganizar corrida tecnológica global
China não parece buscar a liderança desta corrida tecnológica, mas sim definir as regras do jogo – menos excludentes e mais cooperativas com o público
247 - O desenvolvimento de modelos de linguagem de larga escala (LLMs), se tornou a fronteira de inovação tecnológica mais potente da atualidade. A corrida parece se polarizar, hoje, entre ecossistemas de duas raízes principais: os ocidentais, como o ChatGPT, da OpenAI; e os chineses, como o DeepSeek.
As diferenças entre cada um dos ecossistemas são tão profundas quanto a divergência entre as realidades de produção dos países desenvolvedores. No âmbito do ocidente, pioneiro no lançamento de LLMs para o público geral, adotou-se um modelo proprietário de desenvolvimento dos algoritmos. Uma estrutura parecida com o que se vê em redes sociais ou em quaisquer outros mercados privados da internet. O software pertence a um determinado proprietário, que acaba tendo o poder de escolher o que vem a público sobre detalhes de funcionamento de código ou de outros aspectos do sistema.
Já nos modelos chineses, percebe-se uma tendência pelo uso de sistemas de código aberto em tecnologias de inteligência artificial. É o caso do DeepSeek, por exemplo. Esta modalidade de desenvolvimento de software é aberta a toda a comunidade de desenvolvimento, permitindo o acompanhamento completo e em detalhes de todo o sistema constituído. Além das vantagens evidentes em transparência, programas em código aberto também tendem a evoluir e se aprimorar mais rapidamente, por contarem com testes comunitários em larga escala.
Os chineses também demonstram ter vantagem no aspecto de produtividade e aproveitamento da capacidade de processamento. A grande manchete sobre o DeepSeek, que o tornou famoso em todo o mundo em poucos dias, trata disso: ele consegue entregar resultados parecidos com os concorrentes bilionários, como ChatGPT, utilizando-se de uma fração do poder econômico e tecnológico que estes tiveram.
Também no âmbito do desenvolvimento de hardware, a China sinaliza que irá apostar na adoção em massa de uma arquitetura aberta, e de menor custo agregado: o RISC-V. A tecnologia, desenvolvida na Universidade da Califórnia em 2010, já é adotada na produção de chips para empresas estatais e instituições de pesquisa chinesas há alguns anos.
A ideia de Pequim agora é tornar a tecnologia popular internacionalmente, transformando chips baseados em RISC-V em uma verdadeira opção prática, de menor custo, aos concorrentes, sobretudo àqueles produzidos pela norte-americana Nvidia, atual dominante neste mercado.
O que ressalta aos olhos nesta corrida disputa é, sobretudo, a adoção de tecnologias abertas por parte da China. O desenvolvimento com base em sistemas comunitários, de código aberto, forçam todo o mercado global a também procurar por soluções ‘open-source’. Assim, o progresso ocorre mais rapidamente, de maneira descentralizada e beneficiando a base de usuários.
Não surpreende que os esforços para buscar um cenário democrático neste mercado, tão marcado pelas altas cifras das big techs ocidentais, venha do país que também busca o maior número de cooperações internacionais em seus planos geopolíticos, como nas novas Rotas da Seda. A China não parece buscar a liderança desta corrida tecnológica, mas sim definir as regras do jogo – menos excludentes e mais cooperativas com o público.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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