Ele não tem apoio e é incapaz. O que o Exército quer com ele?
"A principal sustentação efetiva que resta a Bolsonaro é o Exército", escreve Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, que questiona: "é isso que o Exército quer? Sustentar um incapaz, sem apoio popular, na hora em que mais precisamos de uma liderança?"
O lastimável capitão Bolsonaro perde apoio desde outubro de 2018. Graças a manobras (sendo a principal o impedimento da candidatura de Lula, que o derrotaria com facilidade) e trapaças (um ciberataque imoral contra Haddad, financiado com dinheiro ilegal), venceu a eleição e se habilitou a liderar uma parcela majoritária da opinião pública. A faca e o queijo estavam em sua mão.
Mas cai desde então. O tempo foi o único que impediu que o tombo fosse maior ao longo de 2019: parte dos seus eleitores considerava que “era cedo” para admitir que havia errado. Sustentou-se com um terço de aprovação, menos do que recebera em votos, mas acima do que mereciam seu comportamento e governo.
Na entrada do segundo ano, a paciência das pessoas começou a se esgotar. Os pífios resultados na economia, depois de quase quatro anos da política econômica Temer-Bolsonaro, mostraram que não havia recuperação no horizonte. Somados à falta de realizações em outras áreas (a começar pelo fiasco da administração Moro na Justiça), fizeram com que o cenário para a eleição de 2020 e, especialmente, para a sucessão em 2022, passasse a ser péssimo para o capitão.
Se há uma coisa que Bolsonaro e sua turma não querem perder são as boquinhas que vêm com o poder - a residência no Alvorada, os gabinetes no Planalto, os jatinhos da FAB, os DASs para os chegados. Fora os negócios. Depois de anos na periferia da política, restritos a rachadinhas e nomeações mixurucas, estão agarrados como carrapatos aos luxos recém adquiridos.
O capitão viu a pandemia como uma bóia de salvação. Considerando que suas chances de reeleição haviam se tornado pequenas e desciam a ladeira, quem sabe não conseguiria usá-la para chegar melhor a 2022?
O cálculo é complicado e destituído de qualquer sentido humanitário e moral (algo que em nada detém um Bolsonaro): colocar as fichas no inverso do que fazem todos os países do mundo e do que prescrevem a ética, o bom senso e a ciência. Liberar geral, sem quarentena, sem isolamento, tudo aberto e vida que segue. Muita gente morre, mas, e daí? Antes a morte de pessoas dispensáveis que a “paralisação dos negócios”. Se funcionasse, seria igual a ganhar a Mega-Sena sozinho.
Nessa opção, está implícita a aposta que a montanha de óbitos será “pequena”. Até Bolsonaro sabe que, em sendo grande, tudo que fez e disse em defesa de suas idiotices se voltará contra ele. Dependendo da contagem dos cadáveres, sai com cara de monstro.
O capitão escolheu agir assim porque não vê outro caminho para se dar bem na eleição, porque não tem escrúpulos de cruzar os braços e deixar milhares morrer, e porque é incapaz de compreender o que é a pandemia da Covid-19. Ele é incompetente e burro, e, como costuma ser gente assim, prefere cercar-se de outros burros e incompetentes (sem esquecer que há os espertos que querem lucrar com a burrice dele).
Liderar um país como o Brasil no enfrentamento da pandemia e na busca dos caminhos para reconstruir e reformar a economia, as políticas públicas e os modos de convivência social, é uma tarefa completamente acima da capacidade de Bolsonaro. A vida não o preparou para isso e ele faz questão de ostentar a ignorância como virtude. Por extraordinário que seja, ainda há quem goste disso.
Mas hoje, quase 40% da população diz que o detesta, aos quais se somam outros 20% que afirmam que não gostam. Quase dois terços acredita que ele atrapalha na luta contra a doença e mais de 70% não confiam no que fala. A proporção dos que consideram que não tem capacidade para governar o País, em um momento como este, é duas vezes maior que a daqueles que dizem sim.
A principal sustentação efetiva que resta a Bolsonaro é o Exército, em um extemporâneo e despropositado retorno a algo que parecia superado em nossa evolução política, mas que alguns generais resolveram desenterrar. Desde a intervenção na eleição à maciça presença no governo, decidiram voltar à política, batendo continência para essa figura patética. Inibem o movimento das instituições para solucionar a catástrofe do bolsonarismo.
No Dia do Exército, Bolsonaro fez igual às tais “vivandeiras alvoroçadas” do general Castelo Branco, que vão saracotear na porta dos quartéis, para “bolir com os granadeiros”. É isso que o Exército quer? Sustentar um incapaz, sem apoio popular, na hora em que mais precisamos de uma liderança qualificada e respeitável? Dar-lhe mais poderes, para transformá-lo em um ditador abestalhado?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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