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Maria Luiza Franco Busse

Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

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Eleição, samba e rock’n’roll

O rosto esboçado no domingo do último dia 6 de outubro é liberal de direita, conservador de extrema-direita, e indiferente à política

Urna eletrônica (Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE)

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Um Brasil mostrou a cara no primeiro turno das eleições para prefeito/a e vereador/a nos 5.559 municípios do país. O rosto esboçado no domingo do último dia 6 de outubro é liberal de direita, conservador de extrema-direita, e indiferente à política.

Dos 26 partidos, foram os representantes dos perfis esboçados que mais elegeram prefeitos e vereadores em capitais e interiores. Os números divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral pintam o quadro que emergiu das urnas, e assim ficou a  relação partidos-municípios em que elegeram prefeitos:  PSD, 847 municípios; MDB, 843; PP,742; UNIÃO BRASIL, 577; PL, 510; REPUBLICANOS,428; PSB,309; PSDB,269; PT,246; PDT,148; AVANTE,135; PODEMOS,121; PRD,75; SOLIDARIEDADE,61; CIDADANIA,33; PCdoB,20; NOVO, 19; PV,14; REDE,4; AGIR,3; DC,2; PRTB,1; MOBILIZA,20; PSOL,0; PROS,0.

Prefeituras de 15 capitais terão segundo turno no dia 27 de outubro. A outras 11 já elegeram os executivos na primeira rodada. Foi o caso do Rio de Janeiro que reelegeu o atual prefeito Eduardo Paes, do PSD da direita liberal de amplo espectro, com 60,47% dos votos de 1 milhão 861 mil 856 eleitores que derrotaram o segundo colocado, o candidato do PL, Partido Liberal da extrema-direita, que recebeu 30,81% correspondentes a 940 mil 631 votos. A eleição de Paes travou o avanço do fascismo na cidade que é capital do estado do Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país. 

Em São Paulo e Belo Horizonte haverá segundo turno. Na cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais que é o segundo maior colégio eleitoral, a disputa será entre o PL, da extrema direita, e o PSD. O candidato do PL, Bruno Engler, 27 anos, que lidera a disputa, é deputado estadual, fundador do movimento Direita Minas e autodeclarado católico. São Paulo, capital do estado do mesmo nome que é o maior colégio eleitoral do país, vai decidir entre MDB, liberal de direita, e PT, o Partido dos Trabalhadores que reúne diferentes tendências de esquerda. Foi de 25 mil votos a diferença entre o MDB primeiro colocado e o PT. Ricardo Nunes, do MDB, teve 29,48% dos votos e Guilherme Boulos, do PT, 29,07%. 

Em todo o país, a abstenção foi de 21,71%, que significam mais de 33 milhões dos 155 milhões de eleitores terem decidido não votar, mesmo sendo obrigatório. Num aspecto, a indiferença pela política se deu a partir do sentimento de que não adianta eleger representante porque nada muda para melhor na vida do cidadão. Por outro lado, o desencanto com a institucionalidade também foi responsável por provocar a reação de levar eleitores a votar em candidatos sem qualquer qualificação e respeito com a liturgia da política formal. Para esse extrato, a política é vista como entretenimento, brincadeira de internet marcada por vieses reacionários, violentos, deboches em que a realidade perde a concretude para ser construída a partir de mentiras e do que mais ela venha a ser para qualquer gaiato que assim deseje que seja.

A situação impactou a esquerda. Uma militante experiente do Partido dos Trabalhadores escreveu mensagem sentida num grupo de sApp: “Não consigo entender o que aconteceu. Meus olhos viram outra coisa, acho que não entendo mais nada”. É bem provável. A sociedade mudou e segmentos da esquerda pouco parecem ter se movido em direção à perspectiva de compreender a transformação e, assim, permitir que as ideias e os discurso correspondam aos fatos.

Mas em pântano brota flor. Nesse cenário eleitoral o lotus desabrochou na eleição de 66 candidatos do MST para as Câmaras municipais de 17 estados. Pela primeira vez, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se organizou em nível nacional na sigla do PT para a disputa política nos centros urbanos. Na pauta, o programa popular de direito à educação, saúde, terra, moradia e segurança alimentar de qualidade livre de agrotóxicos, entre outras causas que estarão presentes no legislativo até 2028. No estado de Alagoas, o PT do MST elegeu 1 candidato; Bahia, 5; Ceará, 15; Minas Gerais, 11; Mato Grosso do Sul, 3; Paraíba, 6; Pernambuco, 1; Piauí, 4; Paraná, 1; Rio de Janeiro, 3; Rio Grande do Norte, 1; Rio Grande do Sul, 3; Santa Catarina, 5; Sergipe, 3; São Paulo, 3; e Tocantins, 1. O PT do MST chegou ao segundo turno na corrida às prefeituras de Fortaleza, Ceará, e Cuiabá,  Mato Grosso, e em ambas as capitais concorre com o PL da extrema direita que ficou em primeiro lugar. 

“O tempo não para”, manda a letra da música do cantor e compositor pop rock brasileiro, Cazuza. E vale sempre cantarolar a oportuna visão do nosso sambista mais querido e poeta maior, Zeca Pagodinho: “camarão que dorme a onda leva”.     

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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