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    Inez Lemos

    Psicanalista e autora de "Berro de Maria", ed. Quixote.

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    Eleições, engajamento e futuro

    Sem um movimento que amplie o debate sobre qual cidadão desejamos formar para a construção de um futuro melhor, pouco iremos avançar

    Urna eletrônica (Foto: José Cruz/Arquivo/Agência Brasil)

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    Há um Brasil a ser revisto, reeducado - o qual foi sendo desconstruído a cada eleição, principalmente do Legislativo após a vitória da extrema-direita em 2018. 

    A questão é: como resgatar o espírito de cidadania, o conceito de público - bem viver em comunidade num momento em que o discurso neoliberal hegemônico é do individualismo, do levar vantagens? Presenciamos a banalização do enriquecimento pessoal em detrimento de atos de corrupção - crimes contra o erário público, contra o meio ambiente - desmatamento, queimadas provocando incêndios. Vide Pantanal que, de paraíso passou-se a inferno. Terra incendiária de fazendeiros gananciosos. 

    A forma como nos relacionamos com a Coisa pública reflete nas condutas do dia a dia. Tornou-se rotina motoristas embriagados sairem de restaurantes em alta velocidade atropelando e matando inocentes. E partirem sem prestar socorros - atitudes que denunciam uma educação irresponsável e descompromissada com o outro. 

    O conceito de alteridade precisa ser trabalhado nas famílias e escolas. Ética implica como nos relacionamos com o sofrimento e dificuldade do outro. Educação cidadã é estabelecer conexão com preconceitos e  discriminações presentes em nosso cotidiano - machismo, racismo, homofobia, aporofobia, entre outros.

    A lógica neoliberal preza em explorar ao máximo o assalariado - fomenta o desrespeito e estimula a apropriação do espaço público como se fosse privado. Manipula a população por meios de comunicação comandados por monopólios - fake news são mensagens contaminando o inconsciente a favor de seus  interesses. 

    Práticas como: sonegar impostos, negar recibos de serviços de saúde, notas fiscais, como também jogar lixo na rua, desperdiçar água, descartar óleo na pia da cozinha, não separar o lixo reciclável, infelizmente tornaram-se parte de nossa cultura. Poucas famílias se ocupam desses detalhes ao educar os filhos.

    Sabemos que o inconsciente é estruturado pela linguagem - a criança se forma a partir do que escuta e vê ao longo de sua vida. As palavras são como flechas que atingem o centro do núcleo psíquico - o qual comanda nossos pensamentos e ações.

    Contudo, mesmo diante de tragédias que denunciam o comportamento inadequado da população, muitos continuam omissos ou poucos atuantes em relação às medidas preventivas que devem ser adotadas ao focarmos um mundo mais humano, menos desigual e injusto.

    Sem um movimento que amplie o debate sobre qual cidadão desejamos formar para a construção de um futuro melhor, sem estimular o engajamento dos jovens nas próximas eleições, pouco iremos avançar.

    Eleger vereadores e prefeitos conscientes do dever de cuidar do espaço público, da importância de políticas públicas que inibem comportamentos antissociais e que corrompem com a vida comunitária - colaborando com o aquecimento global, é urgente. 

    Diante da galera sem noção da cartilha cidadã, não podemos negligenciar, tampouco deixar para o TikTok a responsabilidade de uma formação crítica. Educar é função social.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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