Eleições presidenciais na Venezuela: os EUA e seus cúmplices desesperados atirando no escuro
O presidente da Venezuela é eleito pelo povo da Venezuela e não escolhido a dedo pelo Departamento de Estado dos EUA.
Texto publicado originalmente em inglês no Orinoco Tribune
Preparativos para uma tentativa de golpe liderada pelos EUA
O povo da Venezuela derrotou um golpe de Estado de alta tecnologia liderado pelos EUA. A autoridade eleitoral do país não só conseguiu realizar a trigésima primeira eleição, apesar de ter enfrentado um ataque colossal contra o sistema eleitoral informatizado do país, mas conseguiu também anunciar os resultados das eleições de 28 de julho, que mostraram que o povo da Venezuela, ao reeleger o Presidente Maduro para o mandato de 2025-2031, saiu vitorioso de mais uma tentativa de “mudança de regime” conduzida pelos EUA.
A conspiração do golpe envolveu uma campanha maciça e mantida, durante meses, pelos meios de comunicação social corporativos mundiais, que difundiu uma mensagem invulgarmente homogênea de que o presidente Maduro seria derrotado eleitoralmente, citando “sondagens” que davam 80% dos votos ao candidato de extrema-direita apoiado pelos EUA, Edmundo Gonzalez (apresentado pela coligação Plataforma Unitária, PUD). Assim, por exemplo, em 20 de julho, o Financial Times publicou o texto “ Is the game up for Venezuela's ruling party after 25 years?” , afirmando que “a maioria das sondagens de opinião sugere que a oposição esmagaria Maduro por uma margem de 20 a 30 pontos”. Os principais meios de comunicação citaram repetidamente Maria Corina Machado “esperando” (1) que “Nicolas Maduro aceite um processo de negociação que permita uma transição ordenada e sustentável”, com o objetivo de persuadir os leitores da inexorabilidade da vitória de Gonzalez.
A linha adotada pelos meios de comunicação social corporativos mundiais (incluindo, entre muitos outros, The Guardian, El Pais, New York Times, Washington Post, Le Monde, France 24, BBC, Corriere de la Sera, etc., ad nauseam) foi praticamente idêntica na previsão da vitória de Gonzalez. Será que eles sabiam alguma coisa que nós não sabíamos? Só há um centro de poder no mundo com o poder de comandar a obediência cega dos meios corporativos mundiais: Washington DC.
Além disso, durante vários meses antes das eleições, a Venezuela foi sujeita a uma série de ataques terroristas que visaram instalações de armazenamento de alimentos, mas principalmente o sistema elétrico do país, com a intenção óbvia de o danificar (2) o suficiente para desativar também o sistema eleitoral informatizado. É quase axiomático que, sempre que há uma eleição na Venezuela, os ataques terroristas tenham como alvo o sistema elétrico do país (como aconteceu em dezembro de 2021 (3), um mês depois de o Chavismo ter ganho massivamente as eleições regionais e municipais de novembro).(4)
Esta propaganda dos principais meios de comunicação social foi condimentada com uma campanha de medo (iniciada já em abril de 2024)(5) que sustentava que, na “improvável eventualidade” de o Presidente Maduro ganhar (alegadamente, apenas possível através de uma fraude eleitoral), uma maior proporção da população abandonaria o país, citando “sondagens” que afirmavam que até 40% dos venezuelanos, ou seja, cerca de 12 milhões de pessoas, abandonariam o país.
Os principais ingredientes da tentativa de golpe
O bombardeamento de terror dos meios corporativos mundiais foi “complementado” por uma campanha mediática de extrema-direita de ódio cruel e ameaças (6) não só contra os chavistas, mas também contra outros candidatos presidenciais da oposição e às suas famílias. Para esta eleição presidencial, a violência verbal da extrema-direita nos meios de comunicação social já estava em pleno andamento meses antes do dia das eleições, com numerosos exemplos de violência verbal e física anterior. Um artigo (7) de maio de 2024 profetizava que:
Este cenário de violência, exacerbado pela polarização política e pela propaganda de ódio, cria um terreno perfeito para a instabilidade social. A possibilidade de um cenário em que grupos violentos tentem sabotar o processo eleitoral e impor a sua agenda pela força é uma ameaça latente que exige medidas enérgicas para proteger a paz do país.
Na Venezuela, a violência verbal digital da oposição, sempre em torno de eleições que perdem, levou inevitavelmente, nos últimos 25 anos, a uma violência física desenfreada, incluindo a queima de pessoas vivas e o assassínio de muitos: cerca de 20 no golpe falhado de 2002, 11 em 2013, 43 em 2014 e 28 em 2017, sem contar as centenas de pessoas feridas, traumatizadas e muitas delas aleijadas para o resto da vida, em todos estes eventos. Voltaremos a falar sobre isso mais tarde.
A tudo isto juntou-se uma nova componente, a cereja no topo do bolo: um ciberataque monumental no dia das eleições, principalmente ao sistema eleitoral informatizado do CNE, mas também a outros serviços do Estado. Foi um dos piores ataques deste tipo contra a Venezuela.
De acordo com a Ministra da Ciência e Tecnologia da Venezuela, Gabriela Jiménez, a primeira fase do ciberataque teve como alvo a CANTV (o principal fornecedor de serviços de Internet da Venezuela), tendo começado por volta das 18 horas, no momento em que os centros de votação começavam a fechar. O ataque atrasou gravemente a transmissão dos resultados das assembleias de voto para o centro de totalização do CNE, o que levou a que fossem necessárias várias horas para anunciar os resultados. Os serviços da CANTV são contratados à empresa americana Columbus, que informou ao seu cliente (8), a CANTV, do atraso cibernético deliberado das transmissões.
Tecnicamente, o atraso deveu-se ao aumento colossal dos ciberataques dirigidos ao CNE. Jiménez afirmou que eram 30 milhões por minuto e daí a pergunta: quem tem a infraestrutura e os conhecimentos técnicos (algoritmos, etc.), o equipamento, as fontes de energia e os recursos necessários para desencadear um tal volume de ataques por minuto e mantê-lo durante 20 horas ininterruptas?
Jimenez também informou que a Bolsa de Valores de Caracas, o Ministério da Ciência e Tecnologia e outros ministérios, o Banco Central, o Serviço de Identificação e Migração, a Receita Federal e outros serviços públicos, ou seja, equipamentos críticos para o funcionamento do Estado, foram visados. Assim, por exemplo, nenhum pagamento digital podia ser processado (entregas, compra de artigos de uso diário como alimentos, medicamentos ou pagamento de contas por celulares e muito mais) e nenhum imposto podia ser cobrado devido aos ciberataques.
Os ciberataques envolveram também o roubo de dados de instituições públicas e a sua publicação, tornando públicos os nomes e os dados completos dos aposentados e até o domicílio de oficiais militares com o slogan “Vão atrás deles”! Em suma, os ciberataques foram ataques terroristas. Jimenez explicou também que a fonte deste ataques foram contas com IPS disfarçados, mas que a maioria, embora não todos (sem surpresa), tenham sido dos Estados Unidos
(ver entrevista completa com o ministro Jimenez aqui https://www.youtube.com/watch?v=rprcm1NdEJI , mins 16:10 a 29:18 e ver aqui a lista de instituições afetadas pelos ciberataques - https://orinocotribune.com/venezuela-under-cyberattack-over-106-state-institutions-targeted/).
Os ciberataques pretendiam não só destruir o sistema eleitoral informatizado de transmissão dos resultados das eleições, de modo a impedir totalmente o CNE de anunciar quaisquer resultados, mas também desativar muitos outros serviços essenciais para as atividades quotidianas, com o objetivo de criar um caos generalizado e o máximo de confusão.
A outra componente fundamental da tentativa de golpe liderada pelos EUA foi a bem preparada onda de violência lançada no rescaldo da sua derrota eleitoral. Maria Corina Machado e o seu grupo desencadearam milhares de bandidos pagos que se lançaram na violência no dia 29 de julho, atacando tudo o que fosse propriedade pública com o mais intenso ódio dirigido aos símbolos do Chavismo (estátuas de Hugo Chavez, de Coromoto, um emblemático chefe indígena do século XVII, e tudo o mais que estivesse ao seu alcance; ver pormenores aqui https://orinocotribune.com/venezuelas-attorney-general-confirms-25-dead-in-wake-of-opposition-led-violence/,) e, também, chavistas de carne e osso, levando à morte de 25 pessoas. (9)
O ministro das Relações Exteriores, Yvan Gil (10), informando o corpo diplomático acreditado (23 de agosto de 2024), disse-lhes que havia provas claras de que a extrema-direita venezuelana, “apoiada pelo governo dos Estados Unidos (...) tinha contratado os bandos criminosos organizados Tren de Aragua e Tren del Llano para iniciar o golpe de Estado” e os tinha destacado “para gerar violência pós-eleitoral”. Estes bandos tinham-se dedicado à “compra de votos a favor da candidatura de Edmundo González Urrutia em zonas com forte presença territorial e política do chavismo”. Então, “como é que criminosos que te cobram uma taxa te oferecem para votar numa determinada opção em troca de 50, 100 ou 200 dólares?” (11) (12)
Os estrategistas do golpe esperavam que a onda de violência desenfreada em muitas cidades importantes, somada ao caos e àa confusão causados pelos ciberataques generalizados, obrigasse as autoridades, como de facto aconteceu, a enviar a guarda nacional para os muitos pontos de violência criados pela oposição, como manobra de diversão para facilitar o ataque ao palácio presidencial. Esta última fase foi concebida como uma blitzkrieg letal contra o palácio presidencial. Uma multidão armada atacou com um “banho de balas” 60 observadores internacionais que se encontravam na sede do CNE em Caracas. O Presidente Maduro informou à nação de que, em 29 de julho, tinha havido duas tentativas de assalto ao palácio (presidencial) de Miraflores por parte de multidões armadas.(13)
Yvan Gil explicou também que o modelo de golpe de Estado tinha sido “concebido pela CIA e pelos Estados Unidos”. (a este respeito, veja a palestra do embaixador da Venezuela na ONU (14) , Samuel Moncada, sobre esta que ele caracterizou como uma nova modalidade de golpe de Estado dos EUA, cujos pormenores lhe causam arrepios). Até 14 de agosto de 2024, 30 membros de tais grupos (15) tinham sido detidos com um arsenal que incluía “13 armas de fogo (quatro das quais espingardas), 302 cartuchos, uma granada, duas miras telescópicas, oito transmissores de rádio, dez lanternas, sete carregadores, 35 cocktails molotov, 12 celulares e seis motociclos”. Tratava-se de profissionais que, aproveitando a confusão criada, foram incumbidos de assaltar o palácio presidencial, preparando a fase final do golpe, uma “marcha em massa sobre o palácio”, proclamar Edmundo Gonzalez presidente e, provavelmente, pedir ajuda internacional (militar) imediata.
A solução constitucional de Maduro
O fato de o ciberataque de 28 de julho não ter conseguido destruir o sistema digital do CNE (e de quase todas as outras instituições públicas) atrasou a transmissão dos resultados das mesas de voto, levando a que o primeiro boletim do CNE fosse emitido quase à meia-noite com 80% dos resultados que, numa tendência irreversível, davam a vitória ao Presidente Maduro (51,2% contra 44,2% de Edmundo Gonzalez; resultado confirmado com o segundo boletim da CNE com 97% dos resultados, com Maduro a obter 51,95% contra 43,18% de Gonzalez). Literalmente segundos após o primeiro boletim do CNE, Maria Corina Machado apareceu na televisão rejeitando os resultados, alegando fraude e proclamando Edmundo Gonzalez como vencedor. Esta afirmação, num coro surpreendentemente homogêneo, foi, quase de imediato, ecoada pelos meios corporativos mundiais. Machado e outros afirmaram ter 40%, depois 73%, 80% e até 100% dos registos de votação, ao que deram seguimento publicando, num sítio Web ilegal (16), resultados falsos que davam 67% de Gonzalez contra 30% do Presidente Maduro.
Apesar de a emissão dos resultados pelo CNE em 28 de julho ter desalojado substancialmente uma componente-chave do golpe de Estado, a extrema-direita lançou de qualquer forma a planejada onda de violência. Confrontado com uma operação tão letal liderada pelos EUA, em 31 de julho o Presidente Maduro apresentou um recurso ao Supremo Tribunal (17) para convocar todos os candidatos e representantes de todos os partidos “para comparar todas as provas e certificar os resultados de 28 de julho através de uma avaliação técnica”. No mesmo dia, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, literalmente momentos após o recurso de Maduro, declarou que (18) “dadas as provas esmagadoras (...) de que Edmundo Gonzalez Urrutia obteve o maior número de votos”, estendeu o reconhecimento dos EUA a Gonzalez como vencedor. No entanto, alguns dias mais tarde, Blinken voltou atrás (19), retirando esse reconhecimento. Isto não tem precedentes, os EUA nunca recuaram numa decisão tão importante, especialmente tendo em conta a obsessiva fixação de décadas dos EUA com a Venezuela.
O Supremo Tribunal efetuou uma investigação e análise técnico-pericial das eleições, tal como solicitado pelo Presidente Maduro, e convocou todos os candidatos e todos os 38 partidos políticos que participaram nas eleições de 28 de julho para apresentarem todas as informações eleitorais de que dispunham.
A maioria dos candidatos cumpriu a convocação, exceto Edmundo Gonzalez. Pior ainda, os partidos da PUD que apoiam González como candidato não apresentaram qualquer material ou prova eleitoral (20), “argumentando que não têm documentação [ou seja,] não têm registos de testemunhas das mesas de voto”. Foram os únicos partidos que não apresentaram nada; os outros 33 apresentaram.
O CNE apresentou todo o material eleitoral na sua posse, ou seja, 100% de tudo. Além disso, Edmundo Gonzalez não cumpriu três vezes (21) as convocatórias do Supremo Tribunal. E a “combativa” Maria Corina Machado, de forma cômica, fingiu ter entrado na clandestinidade. Assim, a 22 de agosto, o Supremo Tribunal decidiu que os boletins emitidos pelo CNE eram apoiados pelos registros de votação transmitidos por cada uma das máquinas de voto e estão em plena concordância com os dados fornecidos pelos centros nacionais de agregação, pelo que “certificamos, de forma irrepreensível, o material eleitoral examinado e validamos os resultados emitidos pelo CNE indicando que Nicolás Maduro Moros foi eleito”. (22)
Esta foi uma resposta à fraude eleitoral grosseira perpetrada por Machado e outros da coligação de extrema-direita que apoia a candidatura de Edmundo Gonzalez. A informação eleitoral que publicaram num site ilegal e fraudulento inclui 9.472 imagens de registos eleitorais que representam 30% do total de registos eleitorais (de mais de 30.000 locais de voto). Pior, 83% delas não têm metadados, o que significa que passaram por um software de edição, ou seja, “não são cópia fiel do original” (23). A característica marcante das declarações de vitória eleitoral de Machado-Gonzalez é o nível de manipulação dos falsos resultados publicados no site ilegal cujo domínio foi criado a 27 de julho. Isto leva a uma pergunta muito pertinente: “Se María Corina Machado e Edmundo González ganharam as eleições e têm os registos que o provam, então porque publicaram estes registos falsos?”(24)
Não admira que Blinken tenha recuado e que nenhum governo do mundo tenha reconhecido Edmundo Gonzalez como “presidente eleito”. No entanto, desde a Casa Branca (25) até à Southcom (26), o jardineiro da UE, Josep Borrel(27), os governos de direita na América Latina (28), incluindo Boric (29), o famoso Almagro e a OEA(30), o Centro Carter(31), o Painel de Peritos da ONU (32), e todos os outros, ao longo de toda a cadeia alimentar política mundial, incluindo, evidentemente, os meios de comunicação social corporativos mundiais, que, como é de esperar, questionaram a validade da reeleição do Presidente Maduro.
Alguns intelectuais de esquerda
Por último, mas definitivamente menos importante, esta cadeia alimentar inclui intelectuais e acadêmicos de esquerda como Alejandro Velasco, Gabriel Hetland e Mike Phillips (há mais alguns, mas estes três, devido à semelhança das suas mensagens, são talvez uma amostra emblemática).
Todos os três, sem qualquer prova, escreveram artigos concluindo definitivamente que Gonzalez tinha ganho e Maduro tinha perdido. Parecem ter sido persuadidos pelos “dados” publicados no sítio Web ilegal criado por Maria Corina Machado e outros, que foi irrefutavelmente desmentido de todos os ângulos imagináveis. Velasco afirmou sem rodeios: “A 28 de julho, Maduro perdeu”. (The Nation, 8 de agosto de 2024). Hetland é pior, o título do seu artigo é Fraude anunciada? (Sidecar, 21 de agosto de 2024), no qual conclui, de forma otimista, que “os socialistas, de qualquer tipo, não devem dar cobertura a um governo que marca eleições e depois se agarra ao poder punindo brutalmente os seus cidadãos mais pobres quando estes protestam”. O artigo de Phipps (Labour Hub, 21 de agosto de 2024) afirma que a resposta do governo da Venezuela à crise causada pelas sanções dos EUA foi “repressão e fraude eleitoral”. Provavelmente, no seu zelo em condenar o governo bolivariano, os três apressam-se a descrever os bandidos pagos desencadeados por Machado et al como uma rebelião da classe trabalhadora contra o governo.
Os três questionaram os ciberataques, descrevendo-os como uma espécie de estratagema para justificar a fraude, argumentando que a alegada pirataria informática não impediu a CNE de contar os votos entre 28 de julho e 2 de agosto. No entanto, sabem que a CNE informou em pormenor que a pirataria informática não tinha impedido a contagem, mas que, pelo contrário, tinha atrasado drasticamente a transmissão dos resultados. No dia 19 de agosto, o ministro da Ciência e Tecnologia informou que a CNE e 120 sites (33) do Estado venezuelano estavam sofrendo ciberataques, que continuaram. Seguiu-se um ataque terrorista contra o alvo preferido da extrema-direita, o sistema elétrico (34), em 30 de agosto, que afetou 21 estados, incluindo “Táchira, Mérida, Barinas, Zulia, Falcón, Nueva Esparta e setores parciais de La Guaira, Miranda e Caracas”.
Depois, em 2 de setembro, a estação ferroviária do Terminal Libertador Simon Bolivar (35) sofreu uma sabotagem deliberada com fogo na sua sala elétrica. Houve ataques semelhantes em dezembro de 2021 (36) que afetaram várias partes de 19 estados pelo apagão que, por sua vez, foram precedidos por outro em março de 2019 que afetou 80% do país. Os ataques cibernéticos e terroristas foram e são reais, independentemente do que estes três possam dizer.
Todos os três descrevem o governo do presidente Maduro como neoliberal ou implementando políticas neoliberais, alegando que a sua administração representa uma ruptura com o legado revolucionário de Hugo Chávez e todos os três culpam o governo como a principal causa contributiva da miséria que milhões de venezuelanos têm suportado. E apesar de os três enfeitarem os seus argumentos lamentando as sanções dos EUA e censurando a oposição por ter repetidamente gritado fraude no passado, eles intencionalmente papagueiam o imperialismo e os argumentos da direita sobre a fraude eleitoral. Os três defendem uma alternativa “de esquerda” ou “democrática” ao chavismo e, no caso de Hetland, que se deixe de “cobrir” (ou seja, deixar de apoiar) o governo do presidente Maduro. Todas as afirmações desta troika ou são distorções preconceituosas da realidade, ou simplesmente falsas. Sobre isto, Nino Pagliccia (37), ao referir-se ao apelo de Velasco por uma alternativa ao Chavismo, acertou em cheio ao afirmar corretamente que tal postura “não é uma afirmação dos ideais da Revolução Bolivariana, mas uma capitulação aos EUA e à sua oposição patrocinada na Venezuela”.
O que contribuiu substancialmente para confundir toda a questão, talvez involuntariamente dando crédito à extrema-direita, ao imperialismo dos EUA e à falsa propaganda dos media corporativos mundiais sobre uma narrativa de “eleições fraudulentas do CNE de 28 de julho”, foram as opiniões equívocas e injustificadas de Lula e Petro que, sem qualquer prova sólida, pareciam ter dado como certo que houve fraude nas eleições. Em 15 de agosto, o presidente Maduro respondeu dizendo que o governo venezuelano nunca intervirá nos assuntos internos desses dois países. E continuou dizendo que, como no caso do Brasil, a alegação de Bolsonaro de fraude na eleição de 2022, vencida por Lula, e sua recusa em aceitar os resultados, foi decidida pelo Judiciário brasileiro, e “ninguém da Venezuela ou do nosso governo veio a público para intervir nesse caso”. (38)
Conclusão
Portanto, à pergunta: houve fraude eleitoral nas eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela? A resposta é um SIM categórico, mas perpetrado por Maria Corina Machado, pelo candidato apoiado pelos EUA Edmundo Gonzalez e por operacionais do PUD (como as investigações estão revelando). É evidente que o falso site Web do PUD com os falsos resultados eleitorais, que não resiste sequer ao mais elementar escrutínio, foi criado com base na premissa de desativar com êxito o sistema eleitoral do CNE, para que os Estados Unidos, os seus cúmplices da UE, os seus lacaios latino-americanos e a extrema-direita venezuelana pudessem apontar este site como o único com os resultados da votação. Tratava-se de um elemento central da conspiração golpista liderada pelos EUA. Uma conspiração de golpe de Estado que os EUA poderiam aplicar contra qualquer governo em qualquer lugar (fico nervoso ao pensar no Brasil e na Colômbia neste contexto).
O Presidente Maduro, confrontado com um golpe de Estado liderado pelos EUA, incluindo um gigantesco ciberataque destinado a desativar o CNE e, na medida do possível, os serviços do Estado, e com a violência generalizada em todo o país, incluindo dois ataques armados contra o palácio presidencial, poderia ter optado por declarar o estado de exceção e restringir os direitos civis (artigo 338.º da Constituição). Em vez disso, optou por recorrer à Seção Eleitoral do Supremo Tribunal para resolver o diferendo eleitoral (art. 297.º), cujo resultado, como examinamos acima, demoliu o gigantesco pacote de mentiras e notícias falsas em torno das alegações de fraude eleitoral. Ou seja, o Presidente Maduro recorreu aos mecanismos democráticos do Estado de direito, tal como estipulado pela Constituição. O veredito do Supremo Tribunal contribui para a consolidação da democracia. Em contrapartida, o PUD, Maria Corina Machado e Edmundo Gonzalez ficam politicamente nus e moralmente expostos (o que não exige muito esforço), o que explica o fato de a primeira ter entrado na “clandestinidade” e o segundo ter fugido do país.
Mais importante ainda, a maturidade e a disciplina do movimento chavista, dirigido pelo Presidente Maduro, foi capaz de derrotar com êxito o golpe de Estado por meios políticos e não pela força, e estritamente dentro do Estado de direito e dos princípios constitucionais estipulados na Constituição Bolivariana. À medida que se revelam mais pormenores sobre a conspiração golpista liderada pelos EUA, a força e o apoio do povo ao processo bolivariano tornam-se mais sólidos. Por outro lado, os esforços patéticos de Maria Corina Machado e dos seus mentores norte-americanos para encenar um “grande protesto internacional” massivamente promovido que, apesar de mobilizar um exército de influenciadores e jornalistas pagos nas redes sociais, não conseguiu sequer encher 4 blocos em Caracas (39) (noutras cidades, foi pior).
Apenas um mês após a vitória eleitoral do Presidente Maduro e a subsequente derrota do golpe de Estado liderado pelos EUA, houve uma sabotagem terrorista maciça ao Sistema Elétrico Nacional da Venezuela, mergulhando quase todo o país na escuridão. Tratou-se de uma ação de retaguarda destinada a desativar as instituições do Estado, na esperança de ressuscitar o derrotado golpe liderado pelos EUA. Por seu lado, os Estados Unidos, com a cumplicidade das autoridades da República Dominicana, desviaram um avião venezuelano. O avião é utilizado principalmente pela vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez. Trata-se de um golpe de Estado ou de uma intensificação da agressão norte-americana para inverter a robusta vitória do chavismo no seu plano de golpe de Estado? O Departamento de Justiça dos EUA declarou (2 de setembro) que tinha “apreendido um avião que alegamos ter sido ilegalmente comprado por 13 milhões de dólares através de uma empresa de fachada e contrabandeado para fora dos Estados Unidos para ser utilizado por Nicolas Maduro e os seus comparsas”.
Ao contrário de alguns intelectuais, como na amostra do nosso artigo, os EUA, os seus cúmplices globais e os meios corporativos mundiais não perguntam o que se segue para o Chavismo. Não o fazem porque são parte de uma maquinaria global liderada pelos EUA com o objetivo de derrubar a Revolução Bolivariana e destruir todas as suas conquistas. A troika faz esta pergunta como se tivesse a resposta, quando parece incapaz de reconhecer um golpe liderado pelos EUA, mesmo quando ele se desenrola diante dos seus próprios olhos. No entanto, o presidente Maduro respondeu a essa pergunta ao anunciar mega-eleições em 2025, que elegerão 23 governadores, 355 presidentes de câmara, 23 conselhos legislativos e 355 conselhos municipais, eleições cuja única condição para participar é cumprir as leis da Venezuela.
Com base nos 31 processos eleitorais anteriores (e na eleição presidencial de 28 de julho), sabemos que as eleições de 2025 serão justas, mas é pouco provável que estejam livres da interferência e das sanções dos EUA. A troika da nossa amostra, embora reconheça as consequências devastadoras das sanções dos EUA nos artigos citados, parece aceitá-las como um fato da vida (“The prospects of the US lifting sanctions appears remote”, Hetland) e notavelmente não exige o seu levantamento. Talvez, para as próximas eleições de 2025, a troika possa elaborar artigos bem escritos para exigir que os EUA não interfiram. Nós, no movimento de solidariedade, continuaremos a exigir o levantamento imediato e incondicional de todas as sanções ilegais dos EUA e o fim da interferência criminosa dos EUA nos seus assuntos internos. O presidente da Venezuela é eleito pelo povo da Venezuela e não escolhido a dedo pelo Departamento de Estado dos EUA.
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- https://orinocotribune.com/far-right-plots-to-sabotage-venezuelas-electrical-system-in-attempt-to-disrupt-the-electoral-process/
- https://orinocotribune.com/massive-blackout-affects-caracas-and-several-regions-of-venezuela-labeled-as-new-attack-service-restored-100/
- https://www.reuters.com/world/americas/venezuelans-head-polls-regional-local-elections-opposition-returns-2021-11-21/
- https://www.latimes.com/world-nation/story/2024-05-30/as-maduro-shifts-from-migration-denier-to-defender-venezuelans-consider-leaving-if-he-is-reelected
- https://avn.info.ve/ministra-jimenez-la-inoculacion-del-odio-forma-parte-de-la-operacion-politica-y-psicologica-de-la-extrema-derecha/
- https://orinocotribune.com/hate-speech-on-the-rise-in-venezuela-5-anti-chavista-tweets-calling-for-violence-go-viral/
- https://orinocotribune.com/over-120-venezuelan-state-websites-have-suffered-cyberattacks/
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- https://orinocotribune.com/venezuelan-far-right-hired-organized-crime-groups-for-post-electoral-destabilization/
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- https://orinocotribune.com/venezuela-transport-minister-condemns-new-sabotage-against-railway-system/
- https://orinocotribune.com/massive-blackout-affects-caracas-and-several-regions-of-venezuela-labeled-as-new-attack-service-restored-100/
- https://orinocotribune.com/should-venezuelans-accept-the-oppositions-claim-that-maduro-lost-a-response-to-alejandro-velasco/
- https://orinocotribune.com/president-maduro-responds-to-lula-and-petros-proposals/
- https://orinocotribune.com/venezuela-far-rights-great-international-protest-fails-denting-opposition-narrative-of-massive-support/
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