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    Adilson Roberto Gonçalves

    Pesquisador científico em Campinas-SP

    210 artigos

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    Eleitor volta a ser cidadão

    Não há motivos para crer que a administração que falhou no atendimento de serviços essenciais irá melhorar de imediato

    Ricardo Nunes (Foto: Rovena Rosa/ABr)

    Logo após o fim do primeiro turno, já se consolidava a derrota da esquerda tradicional e a vitória do centrão. Mesmo que a extrema direita tivesse suas derrotas, para o cenário geral, com Lula na Presidência do país, esperava-se um desempenho melhor. As primeiras pesquisas de intenção de votos mostravam que a tendência se manteria no segundo turno, com pequenas flutuações.

    Na capital paulista, ainda que a diferença na intenção de voto tivesse diminuído entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, ela não foi significativa para alterar o porcentual de votos que o candidato do PSOL teve quatro anos atrás. Sabíamos que seria muito difícil Ricardo Nunes perder esta eleição porque os votos de Marçal são da mesma natureza dos crentes na direita. O eleitor paulistano preferiu o ruim conhecido ao incerto desconhecido. Mas essa tendência de votar no algoz, uma variante da síndrome de Estocolmo, não vem de hoje e não é restrita a grandes centros urbanos. Basta ver o aumento dos eleitos este ano em base no poder econômico, no discurso de ódio e propagação de fake news, além da forte presença de clérigos e policiais dentre os eleitos.

    O eleitor volta a ser cidadão e as mazelas municipais voltarão à tona. Ainda que os editoriais dos jornalões vejam o novo mandato de Nunes com otimismo, além da evidente força política do governador, não há motivos para crer que a administração que falhou no atendimento de serviços essenciais irá melhorar de imediato. A menos que o objetivo seja tornar a capital a principal vitrine para os planos de Tarcísio.

    Na ressaca deste pós-eleição, ao menos, deve voltar à discussão a prisão de Bolsonaro. Não compartilho do mesmo otimismo dos que apostam na PGR a comandar as denúncias. Ao contrário de Lula, que foi preso por falta de provas e excesso de convicções, Bolsonaro continua livre pelo mesmo motivo às avessas, uma vez que há excesso de provas de sua culpabilidade em vários crimes, sendo a tentativa de golpe e a omissão na pandemia dois dos mais graves. Porém, se as nuvens políticas levarem em conta que realmente foi o grande perdedor das eleições de 2024, pode ser que o ex-presidente ganhe uns dias de jaula ou de tornozeleira eletrônica.

    Além desse desejo, ficam estas previsões, esperando que nada se comprove: Marta Suplicy, a traidora, voltará para o MDB e não será surpresa se voltar à administração de Ricardo Nunes, o parvo. Guilherme Boulos sairá do PSOL e migrará para o PT, partido que não saiu às ruas nessas eleições paulistanas. Marçal continuará a ganhar dinheiro e angariar mais seguidores para desafiar Tarcísio daqui dois anos, sendo muito provável um segundo turno entre direita e mais direita. E Tábata Amaral, a que nunca me convenceu, migrará para um dos partidos mais ao centro, desconectando-se da base de Lula, seguindo os preceitos de Lemann, e se aproximando de Kassab, um dos vitoriosos do pleito de 2024.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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