Alex Solnik avatar

Alex Solnik

Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

2796 artigos

HOME > blog

Eles ainda estão aqui

Ex-chefe do DOI-CODI, ainda vivo, virou marechal

Filme Ainda Estou Aqui (Foto: Divulgação)

O filme de Walter Salles baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva é o acontecimento do ano, por ser não somente um feito artístico, mas um fato político que traz de novo ao debate público as consequências nefastas da impunidade de golpistas e torturadores.

   Dos cinco acusados pelo assassinato e ocultação do cadáver do pai de Marcelo Rubens Paiva, após investigações da Comissão da Verdade, apenas dois continuam vivos.

   O então major José Antônio Nogueira Belham era o chefe do DOI-CODI do Rio de Janeiro, em 1971, local e data do assassinato do deputado Rubens Paiva. Seu passado infame não impediu suas promoções no Exército. Mais de cinquenta anos depois e 26 medalhas, seu soldo é equivalente ao de marechal - R$36 mil por mês.

   O outro torturador sobrevivente, apontado por testemunhas no envolvimento da ocultação do cadáver do deputado, quando era sargento, foi promovido a major, com soldo de R$23 mil mensais.

    O terceiro torturador, Antônio Fernando Hughes, recebeu do Alto Comando do Exército a Medalha do Pacificador, cinco meses depois do assassinato do deputado, tal como os demais assassinos de presos políticos sob custódia do estado.

    A impunidade de golpistas e torturadores ao longo da nossa história, deu carta branca para o então deputado Jair Bolsonaro homenagear, ao vivo, em rede nacional de TV, o maior torturador de todos, o infame coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, em 2016, mais de 30 anos depois do fim da ditadura.

   Ele tinha certeza que não seria punido pela infâmia, e não foi.

   Por isso, seguiu em frente.

    Por isso, o projeto prioritário de seu mandato foi preparar o Brasil para uma nova ditadura militar. Não há ditadura civil. Se os golpistas anteriores não foram punidos, por que ele seria? Se os anteriores foram promovidos e premiados, por que seus militares também não seriam?

    Também por isso, Bolsonaro se sente à vontade para exigir que a história se repita. 

   Para seu azar, tudo indica que, desta vez, a história será outra.

   Embora os criminosos do passado ainda estejam aqui. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados