Em 2023 aumenta o conflito pelo Oriente-Médio e o espírito de Samarcanda
O ano de 2022 marcou o nascimento do mundo multipolar e da crescente importância do Sul Global, não sem junto trazer as dores do parto. Analistas internacionais consideram que uma 3ª Guerra-Mundial já acontece, porém, em formato de Revoluções Coloridas e guerras cognitivas. Em todos os continentes há países objeto de desestabilizações e tentativas de “regime change”. Bem previsível, pois na cúpula da OTAN em Madri, 06/2022, oficializou guerras-híbridas como um método válido e legítimo.
Antes do encerramento de 2022, sobressaíram as duas declarações ocorridas no antepenúltimo dia do ano. Uma oriunda de Pequim e outra de Moscou.
O espírito de Samarcanda presente no diálogo de Vladimir Putin e Xi Jinping
No dia 29, Putin e Jinping realizaram uma conferência virtual, onde discutiram o aumento da colaboração econômica, técnico-militar e um crescimento recorde do comércio entre China e Rússia. Na arena internacional, a parceria entre os países garantiu a segurança e estabilidade mútua, além de servir de exemplo na construção de uma nova ordem multipolar mais justa.
Putin salientou que “apesar da situação externa desfavorável, das sanções ilegítimas e da chantagem direta de alguns países ocidentais, a Rússia e a China conseguiram assegurar taxas de crescimento recorde no comércio mútuo”. A taxa de comércio entre os países crescerá em cerca de 25% até o final de 2022. Podendo atingir o patamar de US$ 200 bilhões até 2024, antes do previsto. A Federação Russa ficou em segundo lugar no fornecimento de gás canalizado para a China e aumentará ainda mais o seu bombeamento no próximo ano.
Putin reiterou o compromisso no aumento da cooperação militar e técnico-militar, a importante contribuição para garantir a segurança mútua e manter a estabilidade em regiões-chave. “Pretendemos reforçar a cooperação entre as forças armadas da Rússia e da China”, disse ele.
O aumento na colaboração militar sino-russa não significa uma maior ação belicista da China. Apesar das provocações dos EUA, é da natureza estratégica militar chinesa a defesa. Os exemplos remontam a sua história, desde a construção da Grande Muralha da China, até as ilhas no Mar do Sul da China, projetadas defensivamente como uma muralha marítima. Para a China, sua grande muralha defensiva agora é a econômica.
“A coordenação de Moscou e Pequim na arena internacional serve para formar uma ordem mundial justa baseada no direito internacional. Partilhamos os mesmos pontos de vista sobre as causas, o curso e a lógica da transformação em curso no panorama geopolítico. Perante pressões e provocações sem precedentes do Ocidente, defendemos as nossas posições de princípios e defendemos não só os nossos próprios interesses, mas também todos os que defendem uma ordem mundial verdadeiramente democrática e o direito dos países de determinarem livremente o seu próprio destino”, continuou Putin.
O líder russo afirmou que as relações entre Rússia e China são as melhores da história e reiterou o convite ao Xi Jinping para uma visita oficial na primavera de 2023 a Moscou. O encontrou selará ainda mais a parceria entre os dois aliados, sinalizando um compromisso duradouro entre as nações.
Diametralmente oposta a resolução da OTAN, foi o compromisso firmado no 22º encontro da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) em Samarcanda (UZ), realizada em setembro do mesmo ano. A resolução final visou a defesa dos países permanentes, observadores e parceiros, englobando juntos cerca de 40% da população mundial. Acordou-se o fortalecimento das relações e ajudas mutuas para garantir a paz, estabilidade e atuação de forma ativa na diminuição dos conflitos fronteiriços, aumentar a diversidade político-social e econômica entre os respectivos países. Além de apelos de chefes de Estados por uma maior colaboração entre os diversos blocos econômicos, BRICS, União Econômica Eurasiática e as Novas Rotas da Seda (BRI).
Em 2023, volta ao palco o Oriente-Médio como zona de intensa disputa.
A segunda declaração do dia 29 veio de Tan Kefei, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional da China. Kefei anunciou que o Exército de Libertação Popular chinês está preparado para trabalhar com os estados árabes.
A finalidade da colaboração é “implementar o consenso alcançado na Cúpula China-Estados Árabes, promover conjuntamente iniciativas de segurança global, continuar a aprofundar os intercâmbios práticos e a cooperação”, bem como “trazer novas contribuições para manter no mundo paz e desenvolvimento” disse o porta-voz.
“As forças armadas da China e dos países árabes são importantes para manter a paz e a estabilidade em todo o mundo. As relações entre o exército chinês e dos países árabes desenvolveram-se rapidamente e de forma saudável nos últimos anos”, disse Tan numa coletiva de imprensa.
Ainda antes da Cúpula sino-árabe realizada em Riad, na Arábia Saudita, em 9 de dezembro, as pressões e provocações anglo-sionista escalaram na região. A Arábia Saudita ensaia sair da esfera de controle estadunidense, mostrou interesses em entrar nas Novas Rotas da Seda (BRI), BRICS e na Cooperação de Xangai. A imprensa ocidental usou a Copa do Qatar em uma intensa campanha de propaganda contra os países do Oriente-Médio. Há 3 meses tenta-se provocar uma Revolução Colorida no Irã pelas “mulheres” e armam-se grupos separatistas e terroristas curdos.
Além da China e a anfitriã saudita estiveram presentes na Cúpula os Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Kuwait e Omã. Diplomatas russos e chineses estão sendo bem-sucedidos em diminuir as tensões históricas entre sauditas e iranianos, até para que seja possível uma convivência pacífica entre ambos ao se integrarem nas Novas Rotas da Seda, União Eurasiana e nos Brics.
O príncipe saudita Mohammed bin Salman disse que os países do Golfo Pérsico estão considerando a possibilidade de estabelecer uma zona comum de livre comércio com a China. Mas nada irritou mais Washington do que a proposta de Xi Jinping, estabelecer um sistema de pagamento em moedas locais ao largo do dólar, incluindo o comércio de petróleo
“Como parceiros estratégicos, a China e os Estados árabes devem promover uma comunidade sino-árabe mais próxima com um futuro compartilhado, de modo a proporcionar maiores benefícios a seus povos e promover a causa do progresso humano”. A China “apoia os estados árabes na exploração independente de caminhos de desenvolvimento adequados às suas condições nacionais”, disse o líder chinês no encontro em Riad.
A África não ficou de fora, ao fim do discurso, Jinping pediu aos líderes africanos que adotem a mesma estratégia de desenvolvimento e promovam a colaboração nas Novas Rotas da Seda (BRI) em sinergia com os demais países.
Enquanto isso, a Federação Russa também segue o acordado em Samarcanda. Após anos de pedidos, Moscou aceitou a entrega de 24 caças Sukhoi Su-35 à Teerã. Um número não informado de pilotos iranianos já estão em treinamento há vários meses na Rússia. Na área econômica, Rússia e Irã aumentaram o volume de carga comercializada ao longo do Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul (INSTC) para 12 milhões de toneladas. Ambos os países estão gastando US$ 20 bilhões de dólares para acelerar a construção da rota ao longo de rios e ferrovias ligadas pelo Mar Cáspio. A Índia é um nó importante entre as redes que estão em criação.
Em um artigo alarmista e pedindo sanções a fim de impedir a construção das rotas comerciais, a Bloomberg publicou que a nova rota comercial transcontinental de 3000 quilômetros, a qual passa na borda leste da Europa e liga-se ao Oceano Índico, será inacessível a qualquer interferência do ocidente.
“Esta é uma abolição da União Europeia de fato, pois a rota permitirá que os países façam comércio independentemente dos países ocidentais. E embora a implementação desses planos possa levar pelo menos vários anos devido à complexa geodésia do Irã, se concluída com sucesso, será inacessível a qualquer interferência estrangeira”, afirma a publicação.
Com a finalização deste trecho, haverá a redução de milhares de quilômetros em relação às rotas existentes, contornando-se a Europa pelo Mar Mediterrâneo e pelo Canal de Suez. Ademais, o Irã expandirá a rede ferroviária para o Golfo de Omã e a Rússia terá uma conexão permanente o ano todo entre os mares de Azov e Cáspio, e expandirá seus canais de navegação.
Semana passada, sites econômicos russos informaram o esforço do país no aumento da construção de navios cargueiros e na contratação de estrangeiros nos estaleiros. Dessa forma, a Rússia pretende acabar com a necessidade de navios estrangeiros em suas exportações, escapando das sanções impostas a si.
Em 2016, os russos anunciaram que com o degelo, causado pelo aquecimento global, campos no permafrost siberiano e iacuto tornaram-se agricultáveis, principalmente de cereais e grãos, incluso trigo e soja. A expectativa era de que em 5 a 7 anos, a produção alcançaria escala suficiente para suprir grande parte da demanda do mercado chinês.
Enquanto isso, num certo país na América do Sul tem como projeto de sua elite e militares (Projeto de nação: o Brasil em 2035) continuar sua desindustrialização e manter-se exportador de soja e commodities. Crê-se piamente, que mesmo com a nova fronteira agrícola africana, o país deve ser o “Celeiro do Mundo”, uma espécie de Egito Antigo para Roma, e a dependência alimentar da China permanecerá em suas mãos por mais 50 anos.
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