Em busca de 2015: Revolução Democrática 3.0
A última peça publicitária da campanha aponta o futuro: levar a tendência histórica da sociedade brasileira a qual Dilma, no século XXI, representa, até o fim. Estes são os novos desafios. Ao seu lado, o povo, marketing de qualidade, Lula!
E, enfim, vamos à eleição!
A eleição mais programática da história recente do país e, sem dúvida, a mais polarizada.
Aécio, de seu lado, defendeu abertamente o governo FHC e não o escondeu em sua campanha. Foi justo com seu correligionário e correto do ponto de vista político: disse à sociedade o que pensava.
Desde declarar-se pronto para tomar "medidas impopulares" em jantar com empresários, seu anúncio de que acabaria, sim, com o Mercosul, passando por FHC associar os votos petistas a "ignorantes-nordestinos-pobres", tangenciando Armínio Fraga e sua falta de certeza sobre o que sobraria dos bancos públicos e sua queixa sobre o salário mínimo estar "muito alto", chegando ao ex-embaixador estadunidense se intrometendo no pleito brasileiro e prometendo que, caso Aécio vencesse, os EUA imediatamente o convidariam para os visitar. Sem falar no diplomata que articulou a fuga de um político corrupto boliviano daquele país pedir votos em Aécio, ou Lobão prometendo que fugiria do "Brasil comunista" caso Dilma fosse eleita. Mais claro impossível.
Dilma, ao seu lado, não deixou por menos. Disse que não anuncia ministério coisíssima nenhuma para "tranquilizar" mercado, que sinaliza é para o povo. Não titubeou em falar uma verdade inadiável: a The Economist (que defendeu "mudanças" no governo brasileiro) é uma revista do sistema financeiro. Dilma não recuou em seu compromisso de combater a inflação, mas, com todas as letras, demarcou que o preço disso não seriam empregos e salários. Em discursos e na TV, não balançou em condenar severamente qualquer ideia de independência formal do Banco Central e, além disso, pôs as instituições democráticas como soberanas em qualquer matéria, inclusive a política econômica. Ante a ofensiva da direita evangélica (nem todos lá são de direita), se comprometeu em criminalizar a homofobia.
Aécio foi buscar o fascismo dos colunistas "pigais", mobilizou o ódio das classes mais altas e seus preconceitos sociais e chiliques remotos à Guerra Fria.
Dilma foi lá onde a mídia plantou o terrorismo com a inflação e o desemprego e resgatou a classe C.
Aécio, quando parecia combalido e vendido pela onda marineira, quando seus partidários (FHC e Serra à frente) falavam em renúncia de sua candidatura para apoiar Marina, quando a extrema-direita (Malafaia, Feliciano e Bolsonaro) exigiam que assim o fizesse, foi lá e disse "fico", nadando até o segundo turno.
Dilma, quando parecia nocauteada por uma furtiva expressão eleitoral das Jornadas de Junho, chamou a liderança da campanha para si, organizou sua tropa de choque e, armada com a militância e a propaganda revolucionária (em todos os bons sentidos da palavra) de João Santana, comandou a virada da primeira volta e, segundo Ibope e Datafolha desta quinta-feira 23/10/2014, a da segunda.
Na pré-campanha, as questões de fundo, do Id da sociedade brasileira, vieram à tona.
Jango exumado, Jango resgatado e revisitado no cinquentenário do golpe militar de mais do que as narrativas de tortura etc.
Do outro lado, Serra e FHC dizendo que Jango não era democrata e só não deu o golpe primeiro. Elio Gaspari fazendo paralelos entre o espírito autoritário (e "aparelhista-sindicalista") de Jango e o PT de hoje. Fernão Lara Mesquita proclamando que "desde 32, São Paulo resiste" e pondo-se a atacar Lula por meio das críticas à Getúlio, num quase loas à Velha República.
Trabalhismo x Udenismo na mesa. Revolução de 30 x Federalismo Oligárquico na sobremesa. Neste exato momento, Lula lembra o suicídio de Vargas e o PSDB convoca marcha contra "podridão". Valter Pomar alerta que precisamos vencer com uma certa margem por que Alberto Goldman, há dois dias seguidos, promete golpe de estado, afirmando que o próximo governo não teria legitimidade.
Lindo! (digo eu). Mais do que projeto político, história aberta, clara, límpida para o povo escolher. Novamente, quem encarnou o espírito da UDN amarga derrotas atrás de derrotas nas urnas democráticas.
Quem tentou esconder o que pensava virou pó e choramingos sobre "baixarias" e "calúnias" que nada mais eram do que o confronto político nu e cru, onde se chamou as coisas pelo nome que elas tem. Quem pendurou sua liderança nos ombros de um banco, no "banco" pendurada ficou. Quem não tinha a ver com o passado de disputa de rumos da sociedade brasileira, misturando Chico Mendes com elites, nem o "Hulk" teve, ao final, para lhe consolar.
Este é o Brasil, onde, no bar, além de futebol se discute política. Para horror de um certo Departamento de Estado, que preferia "ganhar" eleições com anúncios-declarações de Lindsay Lohan.
Este é o retrato do país que vai às urnas e, por óbvio, do país que sai das urnas. Há riscos de radicalização? Sim. Há "riscos" de conciliação? Sim. Ambos devem ser afastados em nome do avanço da democracia brasileira, pois o avanço dela não é mais um consenso em torno de que ela é necessária, como na época das Diretas, Colégio Eleitoral, Impeatchment de Collor a transição FHC-Lula de 2002-2003. Agora, a democracia política mais longa de nossa história deve caminhar ao compasso da democracia social que se desenvolveu a partir de 2003.
A última peça publicitária da campanha aponta o futuro: levar a tendência histórica da sociedade brasileira a qual Dilma, no século XXI, representa, até o fim. Estes são os novos desafios. Ao seu lado, o povo, movimentos sociais, militância, marketing de qualidade, Lula! O PT pendurado no pescoço, a aliança com o PMDB, mas a força histórica garbosa de Getúlio, Jango, Brizola, Arraes, Prestes, Darcy, Florestan, Apolônio, Marighella, Jobim e tantos outros que sonharam e amaram o Brasil.
Que a história não acabaria, só Fukuyama não acreditou. Agora, deve começar a Revolução Democrática 3.0.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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