Em nome da vida
Celebramos hoje o Dia Mundial do Meio Ambiente. E a humanidade enfrenta, além da tragédia humana e social do coronavírus, um desafio histórico
Celebramos hoje o Dia Mundial do Meio Ambiente. A humanidade enfrenta, além da tragédia humana e social do coronavírus, um desafio histórico: aproximadamente um bilhão de seres humanos não se alimenta de forma adequada; outros dois bilhões, se conseguem se alimentar, ainda que seja com alimentos contaminados pelo uso abusivo de agrotóxicos, não têm acesso a bens e serviços essenciais, a uma vida digna, como a moradia decente, transporte coletivo limpo e a tempo, atividades culturais, lazer criativo. Enquanto essas pessoas, famílias e comunidades lutam e sofrem, uma pequena minoria riquíssima consome e desperdiça desbragadamente. Os detentores do poder econômico e que se julgam donos do mundo só consideram os seus lucros. O planeta dá visíveis sinais de cansaço.
O Brasil vive intensa e dramaticamente esta encruzilhada histórica. Depois da destruição da Mata Atlântica, do Cerrado que é o cenário visível da obra transcendental de Guimarães Rosa, estamos assistindo à destruição da Amazônia, do Pantanal Mato-grossense, à escalada contra os nossos recursos hídricos e contra nossa biodiversidade. O ministro do Meio Ambiente quer aproveitar o sofrimento imposto pela Covid-19 para passar a boiada da destruição.
Precisamos dar um sentido mais amplo e integrado à palavra desenvolvimento. Além do desenvolvimento econômico e social impõe-se a construção de um modelo de desenvolvimento que integre e priorize o desafio ambiental, a preservação das fontes da vida. Há que ser, em nome da vida, uma postura propositiva, anunciadora. O desafio é mostrar a preservação das águas, da biodiversidade, dos ecossistemas como fatores de desenvolvimento.
Nessa perspectiva cito três exemplos nossos: as regiões que conformam as bacias do rio São Francisco, o esplêndido e machucado rio da unidade nacional; do rio Doce, tragicamente comprometido pela tragédia criminosa em Mariana; do rio Jequitinhonha, que encantou Saint-Hilaire nas suas andanças por Minas Gerais e pelo Brasil há dois séculos. Essas regiões só realizarão as suas extraordinárias potencialidades de desenvolvimento integrado e sustentável com a plena recuperação dessas belíssimas e agredidas redes fluviais e do meio ambiente que lhes dá proteção.
Às pessoas, movimentos e entidades comprometidos com a soberania e o projeto nacional fundados no Estado Democrático de Direito e nos direitos fundamentais, precisamos incorporar às nossas reflexões e ações a questão ambiental, não como uma questão específica e marginal, mas como um desafio vivo que deve perpassar todas as políticas públicas, planos e obras governamentais e não governamentais. Ponto de convergência entre o Estado e a sociedade, compromisso com as nossas vidas e as vidas futuras.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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