Emergência na deep web
"Está correndo um megaesquema de disseminação de fake news que pode ter funcionado no final do 1º turno e, certamente, vai operar no 2º", conta Helena Chagas
Abaixo da superfície de comícios, debates e briga de postagens no Twitter e no Facebook, entre outros atos de campanha que conseguimos acompanhar, está correndo um megaesquema bolsonarista de disseminação de fake news que pode ter funcionado na reta final do primeiro turno e, certamente, vai operar no segundo. Denunciado pelo ativista Felipe Neto em sua conta do Twitter neste domingo, está sendo identificado também por especialistas em redes que conseguem acessar os movimento da deep web.
Esses profissionais chegam a suspeitar que sua atuação - que pouco tem a ver com os embates que acompanhamos diariamente nas redes - tenha tido influência decisiva no placar que acusou uma distância muito menor do que se esperava entre Lula e Jair Bolsonaro na primeira rodada.
Obviamente, essa ação não foi detectada pelos institutos de pesquisas. Tomou corpo principalmente às vésperas da eleição, e tem como instrumentos principais o WhatsApp, o e-mail e o Telegram, usados para repassar vídeos bem feitos, com aparente verossimilhança - mas que, obviamente, são mentirosos. Há inclusive montagens em que Lula faz discursos falsos, dizendo o que nunca disse.
É o velho esquema comandado por Carlos Bolsonaro em 2018, só que agora turbinado pelos recursos de quem está no poder. No governo, Bolsonaro pode ter acesso a telefones - e, portanto, zaps - da maioria da população brasileira. Seus amigos empresários, por sua vez, podem fornecer dados de malas diretas e de clientes que passam a ser alcançados pelo e-mail.
Sem falar no dinheiro. O chororô sobre a falta de recursos na campanha bolsonarista é puro fingimento - ou melhor, refere-se àquele financiamento eleitoral que se dá às claras, com a obrigatoriedade de prestação de contas para todos os partidos.
Nas profundezas do caixa 2 - que, é claro, não acabou -, correm recursos não apenas de ricos bolsonaristas brasileiros, mas também dólares de esquemas norte-americanos relacionados ao trumpismo. Suas ferramentas conseguem identificar o eleitor, suas preferências e hábitos, e enviar a mensagem certa para a pessoa certa na hora certa.
Não chega a ser uma surpresa o fato de Bolsonaro estar usando intensamente, e com muito maior alcance, o esquema que colaborou para sua eleição em 2018. O que espanta é o fato de seus adversários, notadamente o ex-presidente Lula, não terem se preparado melhor para esse tipo de investida.
Não seria preciso fazer a mesma campanha desonesta de difamação, mas mergulhar na tal deep web, detectar ataques e desconstruí-los. Ao que parece, porém, a campanha de Lula ainda está na superfície digital. Fez um bom trabalho acima dela, mas insuficiente para conter a mega onda de fake news que deve crescer ainda mais às vésperas do dia 30.
O que fazer agora? O próprio Felipe Neto disse não saber. O bem intencionado TSE tenta combater as fake news, mas não tem instrumentos para detectá-las nesse grau e padece da lentidão natural das decisões judiciais - que têm que levar em conta apurações e direitos de defesa.
Emergência na deep web
Não é tarde, porém, para reagir com uma campanha gigante de propaganda e esclarecimento ao eleitor sobre as mentiras que pode estar recebendo. É pouco, mas, se mobilizar a militância e ganhar o apoio de milhões de eleitores, e dos meios de comunicação, poderá atenuar seus efeitos eleitorais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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