Energia - aspectos físicos, culturais e políticos
O discurso da transição energética, da ênfase na energia limpa, “renovável”, é o novo modelo colonizador,
O dia 21 de abril lembra a morte do protomártir da independência nacional, Joaquim José da Silva Xavier, patrono Cívico da Nação Brasileira. O Brasil, desde quando foi constituído como país, um estado colonial, em 29 de março de 1549 por Tomé de Sousa, até os dias de hoje, só foi país soberano, verdadeiramente independente, por menos de 50 anos. A cada época, um poder colonizador governou, diretamente ou por seus prepostos, nosso País. Hoje são as finanças apátridas que nos governam e nos impingem seus interesses, entre os quais, está a subordinação cultural: o caso apresentado é da energia aquela que dispomos e temos capacitação tecnológica para produzi-la e necessidade de consumi-la.
IMPOSIÇÕES IDEOLÓGICAS
Dois intelectuais brasileiros, doutor honoris causa bacharel Nei Lopes e mestre (UFRJ) professor Luiz Antonio Simas, assim escrevem na Introdução de “Filosofias Africanas” (Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2021): “a compreensão da cultura africana deve começar, de uma vez por todas, com o descarte da noção de que, em todos os aspectos, a Europa é a mestra e a África, a discípula. Esse é o ponto central do nosso argumento: denunciar o imperialismo da tradição intelectual e sua obra epistemicida – que extermina saberes e tecnologias – buscando afirmar uma “fala” africana, na contramão dos teóricos em geral, que tendem frequentemente a generalizar a partir de uma base eurocêntrica”.
Se trouxemos um exemplo da África, berço da humanidade, poderíamos igualmente nos referir ao pensamento asiático, à filosofia chinesa, “mais espiralada que linear”, onde “os pensadores estavam preocupados com as questões específicas do seu tempo” (Anne Cheng, “Histoire de la pensée chinoise”, 1997), e onde se encontram registros de dois milênios anteriores à Era Cristã, a dinastia um tanto mítica dos Xia.
Mas existe uma questão que não está explícita na História: um pequeno continente, relativamente pouco populoso, tinha o espírito bélico, de dominação, que não se encontrava na África nem na Ásia, verdadeiros berços da existência física e do pensamento humano.
E este pequeno continente fez de suas necessidades materiais os objetivos do planeta, pela dominação militar e pelo raciocínio místico.
Hoje vivemos o período da decadência euro-estadunidense, é necessário para que possamos nos afirmar, como brasileiros ou como sul-americanos, que façamos a correta leitura e não a adaptação da leitura europeia das nossas necessidades, das nossas riquezas, da nossa civilização miscigenada e pacífica, malgrado os permanentes incentivos colonizadores para as lutas fratricidas.
PLANETA TERRA
Existimos há 4,5 bilhões de anos, conforme os cientistas da Terra nos asseguram. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em seu site, de 2015, de autoria do geólogo Pércio de Moraes Branco, informa que “a Terra, uma esfera ligeiramente achatada, não é homogênea. O furo de sondagem mais profundo que já se fez na crosta terrestre atingiu 12 km de profundidade, um valor insignificante para um planeta que tem mais de 6.000 km de raio. Mas, dispomos de informações obtidas por medições indiretas, através do estudo de ondas sísmicas, medidas na superfície. Elas mostram que nosso planeta é formado por três camadas de composição e propriedades diferentes, a crosta, o manto e o núcleo”.
“A crosta é porção externa da Terra, a mais delgada de suas camadas e a que conhecemos melhor. Ela é tão fina em relação ao restante do planeta que pode ser comparada à casca de uma maçã em relação à maçã inteira”. Existem a crosta continental e crosta oceânica.
“A crosta continental é formada essencialmente de silicatos aluminosos e tem composição global semelhante à do granito. As ondas sísmicas primárias nela propagam-se a 5,5 km/s. A crosta oceânica é composta essencialmente de basalto, formada por silicatos magnesianos. É mais densa que a crosta continental por conter mais ferro. As ondas sísmicas têm nela velocidade de 7 km/s”.
“Há 250 milhões de anos, todos os contentes estavam unidos, formando uma só massa continental, a Pangea. Essa massa começou a se fragmentar e ao longo de algumas centenas de milhões de anos deu origem aos continentes e oceanos atuais. As placas flutuam sobre o manto, mais precisamente sobre a astenosfera, uma camada plástica situada abaixo da crosta. Movimentam-se continuamente, alguns centímetros por ano. Em algumas regiões do globo, duas placas se afastam uma de outra e em outras, elas se chocam”.
De oeste para leste, de norte para sul, as placas tectônicas têm as seguintes denominações: norte-americana, Juan de Fuca, Caraíbas, de cocos, Nazca, sul-americana, euroasiática, da Anatólia, arábica, africana, australiana, das Filipinas e do Pacífico.
“Logo abaixo da crosta, está o manto, que é a camada mais espessa da Terra. Ele possui a espessura de 2.950 quilômetros e formou-se há 3,8 bilhões de anos”.
“Na passagem da crosta para o manto, a velocidade das ondas sísmicas primárias sofre brusca elevação. Essa característica é usada para marcar o limite entre uma camada e a outra, e a zona onde ocorre a mudança é chamada de Descontinuidade de Mohorovicic, em homenagem ao cientista que a descobriu, em 1910”.
“O manto divide-se em manto superior e manto inferior. O superior tem, logo abaixo da crosta, uma temperatura relativamente baixa (100 °C) e uma consistência similar à da camada acima, com velocidade de ondas sísmicas de 8,0 km/s. No manto inferior, porém, esta velocidade aumenta para 13,5 km/s, com temperatura bem mais alta, chegando a 2.200º C ou 3.500° C, perto do núcleo. Essa diferença na velocidade sísmica traduz uma mudança na composição química das rochas. De fato, os minerais que compõem o manto são muito ricos em ferro e magnésio, destacando-se os piroxênios e as olivinas. As rochas dessa porção da Terra são principalmente peridotitos, dunitos e eclogitos, pobres em silício e alumínio quando comparadas com as rochas da crosta. Abaixo de 100 km de profundidade, o manto mostra sensível redução na velocidade das ondas sísmicas. Como não há grande variação na composição química das rochas, essa redução da velocidade significa que abaixo de 100 km as rochas estão parcialmente fundidas, o que diminui bastante sua rigidez”.
“A crosta, juntamente com a porção rígida do manto, é chamada de litosfera (esfera rochosa). Já a parte do manto de baixa velocidade e bem mais quente (até 870º C) é chamada de astenosfera (esfera sem força). É ela quem permite às placas tectônicas se movimentarem. Essas placas são, portanto, pedaços de litosfera, não de crosta apenas”.
“O Núcleo é a mais profunda e menos conhecida das camadas que compõem o globo terrestre. O manto e o núcleo estão separados pela Descontinuidade de Gutenberg, que fica a 2.700-2.890 km de profundidade. Acredita-se que o núcleo terrestre seja formado de duas porções, uma externa, de consistência líquida e outra interna, sólida e muito densa, composta principalmente de ferro (80%) e níquel”.
“O núcleo externo tem 2.200 quilômetros de espessura e velocidade sísmica um pouco menor que o núcleo interno. Deve estar no estado líquido, porque nele não se propagam as ondas S, e as ondas P têm velocidade bem menor que no manto sólido. O núcleo interno deve ter a mesma composição que o externo, mas, devido à altíssima pressão, deve ser sólido, embora com uma temperatura de até 5.000 °C (um pouco inferior à temperatura da superfície do Sol). Tem 1.250 km de espessura. Estudos recentes mostram que o núcleo interno gira um pouco mais depressa que o resto do planeta”.
FONTES PRIMÁRIAS DE ENERGIA
As rochas que compõem a litosfera são divididas em sedimentares (que se formam pelo processo de sedimentação), ígneas ou vulcânicas (que se originam da solidificação da lava ou do magma) e metamórficas (que surgem da transformação físico-química de outras rochas preexistentes). A espessura dessa camada varia de região para região, sendo que, nas zonas oceânicas, sua profundidade oscila entre 5 e 15 km; nas zonas continentais, entre 20 e 70 km. Ao todo, o seu volume contempla cerca de 2,7% de toda a estrutura interna do nosso planeta.
Nesta pequena percentagem da Terra se encontram as fontes primárias de energia. Estas, excluída a energia humana e animal, são as que estão na natureza, como os raios solares que nos chegam: a água (dos rios e dos mares), os ventos, o carvão mineral, o petróleo, nas formas líquidas e gasosas e minerais, como o urânio, que produzem a energia nuclear.
Cada fonte desenvolve tecnologias para se apropriar da fonte primária e a converter em produtora de energia, como eletricidade e derivados do petróleo.
A queima de madeira e a produção de matéria vegetal para energia não podem ser denominadas fontes primárias, pois elas dependem de processos produtivos independentes para que se transformem em fontes de energia. Por exemplo, o biodiesel, vai exigir uma atividade agrícola, já consumidora de energia, para produzir o que será transformado industrialmente no diesel. Daí utilizarmos a expressão “potencialmente renovável”, pois elas exigem atividade econômica independente da produção de energia, mas indispensável para que se venha alcança-la.
Cada fonte primária produz diferente quantidade de energia.
Com o fim de permitir as comparações, todos os tipos de energia são expressos numa mesma unidade. Esta pode ser o Joule (J), o megawatt-hora (Mwh) ou a tonelada equivalente de petróleo (tep). Existe a seguinte convenção para passar de uma unidade energética para outra: 1 tep = 41,855 GJ = 11,628 MWh = 1 000 m3 de gás = 7,33 barris de petróleo.
Um barril de petróleo contém 159 litros. “A energia contida no barril de petróleo é de aproximadamente 5,8 milhões de unidades térmicas britânicas (MBTUs) ou 1.700 quilowatts-hora (kWh) de energia. Esta é uma medida aproximada, porque diferentes graus API de óleo, ou seja suas diferentes qualidades, têm equivalências de energia ligeiramente diferentes” (Fonte: MegaWhat).
1 MMBTU = 26,8 metros cúbicos (m³) de gás natural. A energia contida em 1 kWh é igual a 3,6 milhões de joules. Um painel de energia solar de 1 kWp funcionando por 1 hora produzirá 1 kWh.
O caro leitor poderá fazer as diversas conversões para concluir, o que os países europeus e todos demais já concluíram: o petróleo é o mais eficaz produtor de energia.
A BP, originalmente Anglo-Persian Oil Company e depois British Petroleum, é uma empresa multinacional sediada no Reino Unido que opera no setor de energia, sobretudo de petróleo. Fez parte do cartel conhecido como Sete Irmãs, formado pelas maiores empresas exploradoras, refinadoras e distribuidoras de petróleo e gás do planeta, as quais, após fusões e incorporações, reduziram-se a quatro — ExxonMobil, Chevron, Shell, e a própria BP. Ela edita, há 71 anos, a BP Statistical Review of World Energy. Os dados transcritos são da edição de 2021, relativos ao ano 2020, para o consumo de energia per capita, as energias estão em exajoules e as populações são as do Wikipédia para 2021, multiplicados por um milhão.
Os Estados Unidos da América (EUA) tiveram a seguinte composição do consumo de energia: petróleo (óleo e gás): 71,2%; carvão mineral: 10,5%; nuclear: 8,3%; potencialmente renováveis: 7%; e hidroeletricidade: 3%. Energia per capita: 264,87.
Reino Unido: petróleo: 72,5%; potencialmente renováveis: 17,4%; nuclear: 6,5%; carvão mineral: 3%; e hidroeletricidade: 0,6%. Energia per capita: 101,49.
Alemanha: petróleo: 60,5%; potencialmente renováveis: 18%; carvão mineral: 15%; nuclear: 5%; e hidroeletricidade: 1,5%. Energia per capita: 144,54.
Bélgica: petróleo: 70%; nuclear: 14%; potencialmente renováveis: 10%; e carvão mineral: 6%. Energia per capita: 188,96.
Espanha: petróleo: 68%; potencialmente renováveis: 15%; nuclear: 11%; hidroeletricidade: 5%; e carvão mineral: 1%. Energia per capita: 106,30.
França: petróleo: 47,6%; nuclear: 36%; potencialmente renováveis: 8%; hidroeletricidade: 6,2%; e carvão mineral: 2,2%. Energia per capita: 133,29.
Itália: petróleo: 78%; potencialmente renováveis: 11%; hidroeletricidade: 7%; e carvão mineral: 4%. Energia per capita: 96,92.
Países Baixos (Holanda): petróleo: 84%; potencialmente renováveis: 10%; carvão mineral: 5% e nuclear: 1%. Energia per capita: 196,67.
Suécia: hidroeletricidade: 30%; petróleo: 27%; nuclear: 22%; potencialmente renováveis: 18%; e carvão mineral: 3%. Energia per capita: 217,84.
Federação Russa: petróleo (majoritariamente gás natural): 75%; carvão mineral: 11 %; nuclear e hidroeletricidade: 7%, cada; as potencialmente renováveis têm participação inexpressiva. Energia per capita: 193,99.
Índia: carvão: 55%; petróleo: 35%; hidroeletricidade e potencialmente renováveis: 4%, cada; e nuclear: 2%. Energia per capita: 22,43.
República Popular da China (RPCh): carvão: 56%; petróleo: 28%; hidroeletricidade: 8%; potencialmente renováveis: 5% e nuclear: 3%. Energia per capita: 103,03.
Brasil: petróleo: 48%; hidroeletricidade: 29%; potencialmente renováveis: 17%; carvão mineral: 5% e nuclear: 1%. Energia per capita: 55,64.
Como o ex-ministro das Minas e Energia e ex-presidente da Petrobrás Shigeaki Ueki falou na XVI Conferência Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (CNLE), em Natal (Rio Grande do Norte), em 2012: “somos (os brasileiros) PhD (doutores) na geração de energia limpa”. Faltou dizer que temos padrão subdesenvolvido de consumo energético por habitante.
QUESTÃO CULTURAL E POLÍTICA
O entendimento do universo, na tradição filosófica da África Subsaariana, é de um organismo em constante transformação. Daí a ética não se baseia em decisões divinas, no “pecado”, na “culpa” dos monoteísmos adotados na Europa e nos EUA.
“Na praxe africana, o mal é o que prejudica os outros, o que ameaça a paz e a sobrevida do grupo” (apud Lopes e Simas, citados). Há uma “Força Vital”, fenômeno comum a diversas linguagens, que varia de acordo com as condições da geografia física onde vivem as nações. É a dominância do local, do nacional sobre o global, sobre o universal.
Descrevendo o caminho para independência de Gana, um grupo de pesquisadores relata quando as Forças de Expedição Punitiva Britânica entraram em Kumasi, sede do Reino Ashanti, em 1874, sob o comando de Sir Garnett Wolseley, “eles incendiaram a cidade e a saquearam”. A isso denominavam ação civilizatória e levar a mensagem cristã ao mundo (“The Gold Coast – Her March to the Independent State of Ghana”, The Ghana Information Service Department, Accra, s/data).
Religião e colonialismo andaram de braços dados pelas Américas, África, Ásia e Oceania. Deixaram marcas profundas, principalmente nas Américas, onde também promoveram o genocídio das populações existentes.
Hoje, quando o petróleo saiu do controle dos euro-estadunidenses, e estes países colonizadores não produzem para suas necessidades, como vimos em exemplos anteriores, os combustíveis fósseis, mas o petróleo, principalmente na forma líquida, que é a mais rica, são demonizadas como maléficas à civilização. Qual civilização? A que restou do extermínio colonial?
Vimos nas informações técnicas que a parcela onde se encontram os insumos energéticos é porção ínfima do planeta. E este está em permanente transformação.
O Grande Vale do Rifte da África Oriental é onde uma separação de placas está acontecendo. A partir da Etiópia (placa arábica) está surgindo novo oceano. Isso na medida em que a África está sendo dividida em duas, através da fenda gigantesca, que se estende por quase 5.000 quilômetros, em uma dúzia de países. A velocidade de separação do leste africano está por volta de 2,5 a 5 cm por ano.
A falha de San Andreas é outra gigantesca rachadura visível, de aproximadamente 1.300 quilômetros de extensão, com três mil quilômetros de profundidade, que marca os limites entre duas das maiores placas tectônicas do planeta: a placa norte-americana e a placa do Pacífico. Tem dado origem a diversos terremotos na costa oeste estadunidense.
Porém, se estas são importantes, não são as únicas que existem no Planeta. Tem-se a Zona de Rifte de Baikal, que se localiza na região sudeste da Rússia, próxima da Mongólia. O Sistema de Rifte do Oeste da Antártica é dos maiores, porém menos conhecidos sistemas de rifte do mundo. Estende-se por área de mais de 3.000 km de comprimento e 750 km de largura, e está em área amplamente coberta por gelo. O Rifte do Golfo de Corinto, localizado ao sul da Grécia, corresponde a uma bacia sedimentar extensional ativa, que iniciou sua deformação a cerca de 5 milhões de anos atrás. O Golfo possui cerca de 100 km de comprimento e 30 km de largura. Atualmente, o rifte de Corinto está se abrindo de maneira contínua, á taxa entre 10 a 15 mm por ano e se distanciando da placa tectônica Euroasiática.
Qualquer desses riftes provocará a destruição de parte do Planeta que toda queima de óleo combustível não conseguirá igualar. O Reino Unido teve a experiência da poluição, com carvão mineral, no início da industrialização e, graças ao desenvolvimento científico e tecnológico que ela possibilitou, hoje até o rio Tâmisa está limpo.
O discurso da transição energética, da ênfase na energia limpa, “renovável”, é o novo modelo colonizador, que os países europeus e os EUA adotaram para impedir o crescimento dos BRICS, das áreas mais pobres do mundo que, no entanto, dispõe de combustíveis fósseis e podem elevar, mais rapidamente, o melhor indicador de desenvolvimento socioeconômico, que é o consumo de energia per capita.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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