Enfiar-nos o ‘austericídio’ goela abaixo é a pior opção, Dilma. Mas, não a única!
No Reino Unido, a recuperação da economia demorou seis anos. Se a Dilma acredita que os brasileiros, iludidos pelo blablablá palaciano, aguentarão seis anos de vacas magras, está mais desnorteada ainda do que parece
Em sua coluna deste domingo, 22, na Folha de S. Paulo, o veterano comentarista internacional Clóvis Rossi destaca que o Reino Unido acaba de anunciar um Orçamento que prevê elevação do Imposto de Renda para o 1% mais rico da população, de 25% para 27%; e também "o aumento de impostos aos bancos, com o que espera arrecadar o equivalente a R$ 25,7 bilhões".
O secretário do Tesouro Patrick McLoughlin justificou: "Os bancos tiveram nossa ajuda durante a crise; agora devem apoiar o país enquanto se recupera".
Ou seja, governado desde 2010 pelo Partido Conservador, o Reino Unido faz o que o Brasil governado desde 2003 pelo PT não ousa fazer.
Daí Clóvis Rossi estar cobrando "que as autoridades brasileiras tentem, uma vez na vida, pensar também fora da caixa".
Suas conclusões são irrespondíveis:
"Demandar mais de quem mais tem é uma regra de sentido comum, que não tem nada de ortodoxa ou heterodoxa.
É evidente que, para uma fatia da população, está sobrando dinheiro, a ponto de serem brasileiros os que mais fazem consultas sobre imóveis em Miami, conforme relatório da Associação de Imobiliárias da cidade.
Bancos também sabidamente pagam pouco imposto no Brasil, aproveitando-se de uma legislação tributária no mínimo tortuosa.
Que essas pessoas e esse setor deem uma contribuição mais suculenta para o saneamento das contas públicas seria apenas uma questão de justiça social.
...O caso do Reino Unido ilustra também que a mera austeridade (...) não é a panaceia universal.
O país adotou com thatcheriano entusiasmo o 'austerícidio' que é marca registrada das políticas europeias contemporâneas.
Até deu certo, mas levou seis anos para que o Reino Unido recuperasse o tamanho da economia que tinha no primeiro trimestre de 2008, às vésperas da grande crise".
Aliás, isto vem ao encontro do que eu afirmei no artigo de sábado, 21, rechaçando a afirmação da presidenta Dilma Rousseff, de que, "nós juntos, aprovando o ajuste, saímos disso no curto prazo".
A mistificação era tamanha que perdi a paciência:
"E o diploma de otário, quando será entregue aos que engolirem esta patranha? O ajuste inevitavelmente nos imporá rigores acentuados durante 2015 inteiro, provavelmente em 2016 também e talvez nos anos seguintes. Isto lá é curto prazo?!".
Porque isto nada mais é do que tratar os brasileiros como infantilizados. Nenhum economista que se preze avalizará tal previsão, pelo menos em termos da ortodoxia neoliberal. Nos moldes do Joaquim Levy, o sufoco durará só Milton Friedman sabe até quando, mas não temos como perguntar-lhe no inferno...
Então, se a Dilma quer continuar nesse caminho, deveria ter, pelo menos, a sinceridade do Winston Churchill, que [na 2ª Guerra Mundial] não escondeu a gravidade da ameaça que os ingleses enfrentavam e só lhes ofereceu 'sangue, suor, sofrimento e lágrimas'.
No Reino Unido, a recuperação da economia demorou seis anos. Se a Dilma acredita que os brasileiros, iludidos pelo blablablá palaciano, aguentarão seis anos de vacas magras, está mais desnorteada ainda do que parece.
Por aqui, não sobraria pedra sobre pedra.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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