Entre o cinismo da imprensa e o clamor das ruas: a saúde de Lula e o compromisso com “Sem Anistia”
A maneira como a emergência médica de Lula foi tratada revela um contraste gritante com o comportamento adotado pelo governo anterior
A notícia da cirurgia de emergência à qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi submetido na madrugada desta terça-feira (10) provocou uma rápida reação do mercado financeiro, que, com seu habitual cinismo, parece mais preocupado com os reflexos da saúde presidencial nos números da Bolsa de Valores do que com a integridade do líder da nação. Antes mesmo de a Bolsa abrir, os comentários já se voltavam para possíveis impactos econômicos, ignorando que o que estava em jogo ia além de números: era a saúde de um estadista que, com seus 79 anos, ocupa o centro do debate político e econômico no Brasil.
A maneira como a emergência médica de Lula foi tratada revela um contraste gritante com o comportamento adotado pelo governo anterior. Desde as primeiras horas, o caso foi comunicado com transparência. Os médicos detalharam o quadro clínico, o procedimento realizado e o estado do presidente, algo que jamais se viu durante a gestão de Jair Bolsonaro. Bolsonaro, que frequentemente apresentava sinais visíveis de problemas de saúde, como lesões na pele e inchaços, mantinha um silêncio opaco sobre sua condição. Isso sem mencionar o mistério criado em torno de sua vacinação contra a Covid-19, que acabou por revelar fraudes nos registros e um jogo político vergonhoso.
A imprensa, que hoje questiona com rigor cada detalhe sobre o acompanhamento de Lula por sua esposa, Janja, foi complacente com o descaso com que Bolsonaro tratava os jornalistas e o público. Sob sua administração, as entrevistas eram marcadas por ataques grosseiros e insultos, mas esse comportamento parece já esquecido. Mais ainda, quando Bolsonaro enfrentava crises diversas, Michelle Bolsonaro raramente era e é vista ao seu lado, e fato do ex-presidente preferir o consolo de uma sanfona mal tocada aos braços de sua varoa nunca foi motivo de grandes cobranças. No entanto, a presença constante e solidária de Janja ao lado de Lula tem sido transformada, por alguns, em um motivo de escrutínio. Na coletiva de imprensa desta manhã, a obsessão com Janja ficou clara: já na terceira pergunta sobre a primeira-dama, o médico Roberto Kalil Filho fechou a cara e passou a responder de forma seca. Dava para sentir daqui da Vila União o desconforto dele.
A esquerda, por sua vez, enfrenta seu próprio dilema de dependência emocional e política na figura de Lula. A pane do avião presidencial no México, há poucos meses, foi um exemplo claro de como a estabilidade emocional de muitos parece diretamente atrelada à saúde e integridade do presidente. Embora isso evidencie o papel simbólico de Lula como figura aglutinadora de um projeto político, também expõe a fragilidade de um campo político que deveria ser capaz de sustentar-se com mais autonomia e pluralidade.
Enquanto o país acompanha atentamente a recuperação do presidente Lula, é impossível não lembrar que o clamor por “Sem Anistia” ecoou pela primeira vez de forma vibrante no dia de sua posse, em 1º de janeiro de 2023. Naquele momento, as ruas foram tomadas por vozes que pediam justiça e responsabilização pelos crimes cometidos durante os anos de desmonte democrático. Agora, neste 10 de dezembro, os atos organizados em todo o Brasil reforçam a continuidade desse apelo, que também é um compromisso de Lula com a memória, a verdade e a reconstrução do país. Que sua liderança, marcada pela resiliência e pelo compromisso com os mais vulneráveis, inspire mais uma vez o Brasil a trilhar o caminho da justiça e da democracia plena.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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