Escolher um novo PGR, ou reconduzir Aras, é a nova meta do marco civilizatório e democrático de Lula para o País
“O exército mercenário de Curitiba minou o terreno interno do MPF, que hoje é uma instituição conflagrada. Lula decidirá sozinho”, escreve Costa Pinto
Uma pasta vermelha com o brasão da República repousa sobre as mesas de trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto no Palácio do Planalto quanto no Palácio da Alvorada. Dentro dela encontram-se os perfis analíticos de cinco homens cujos destinos para o biênio 2023-2025, que se inicia em setembro próximo, no Ministério Público Federal, e serão determinados pelo ex-sindicalista encarcerado injustamente por 580 dias antes de ser reeleito para um terceiro mandato presidencial.
São eles: Paulo Gustavo Gonet Branco, Antônio Carlos Bigonha, Carlos Frederico dos Santos, Humberto Jacques de Medeiros e Augusto Brandão de Aras. Um, dentre esse quinteto, será escolhido por Lula para a Procuradoria Geral da República antes que se encerre o mês de agosto. E, de toda sorte, vale a ressalva que se faz mister: sim, o atual procurador-geral integra o grupo e tem chances reais de ser reconduzido para novo período de dois anos à frente da instituição conspurcada e vilipendiada por uma milícia arrivista que se entrincheirou em Curitiba (PR), cometeu os mais atrozes e variados crimes e desmandos sob o beneplácito da mídia corporativa e atacou o País por dentro do próprio Estado e por meio de uma espécie de exército mercenário que atendia pela alcunha de “Operação Lava Jato”.
Quem não tem chance alguma de sonhar com o posto é qualquer um dos integrantes do trio Luiza Frischeisen, Mário Bonsaglia e Luiz Adonis, fiéis depositários do maior número de votos num certame de votação conduzido pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Não foi o fato de se submeterem à ANPR que os deixou sem chances, mas, sim, o fato de serem lavajatistas em nuances diversas de gradação.
O quinteto de perfis que preenche a pasta vermelha de Lula tem na trajetória do próprio Aras e na repulsa comum ao lavajatismo pernicioso que se instalou como um fungo oportunista no MPF, um ponto em comum que os une e explica estarem ali.
Bigonha e o atual PGR formaram um dia uma dupla - podiam até ser chamados reciprocamente de melhores amigos. Afastaram-se à medida que o nome de Aras se consolidava, em 2019, como aquele a ser designado pelo então presidente Jair Bolsonaro. Gonet Branco, subprocurador-geral eleitoral atuando junto ao Tribunal Superior Eleitoral e responsável pelo relatório duro e repleto de provas que sustentou a sentença de inelegibilidade do ex-presidente; Carlos Frederico, subprocurador-geral encarregado de coordenar os inquéritos decorrentes dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e Humberto Jacques, ex-vice-procurador-geral que denunciou a existência de processos “invisíveis” na sede do MPF e as gravações ilegais da Lava Jato em Curitiba tiveram, todos, as carreiras projetadas no transcurso dos dois mandatos de Augusto Aras. Dele, nunca deixaram de receber estrutura e liberdade para trabalhar. Resta saber se todos eles terão a disposição que o procurador-geral demonstrou ter, nesses quatro anos, para enfrentar e desestruturar as bases do lavajatismo enquanto recebia ao revés uma chuva de projéteis traçantes iluminados por um jornalismo alimentado pelo denuncismo atroz e acrítico. Esse foco é determinante para a decisão presidencial. O exército mercenário de Curitiba minou o terreno interno do Ministério Público Federal, que hoje é uma instituição conflagrada e vive um processo de insubordinação a seus marcos legais e aos paradigmas impostos pela Constituição de 1988.
Assim como agiu ao se fixar no nome de Cristiano Zanin para a vaga de Ricardo Lewandowski para o Supremo Tribunal Federal, quando ouviu muitos e não escutou ninguém em específico - apenas a sua consciência, cruzando-a com sua experiência de vida -, o presidente da República faz consultas de largo diapasão sobre o comando do Ministério Público Federal. Porém, está determinado a decidir sozinho.
Lula é guardião exclusivo das profundas reflexões que fez durante o período infame em Curitiba. Não as dividiu em plenitude nem mesmo com o seu biógrafo Fernando Morais. Um capítulo alentado dessas reflexões foi escrito na alma dele com as tintas da covardia institucional da Procuradoria Geral da República, em especial, e do Ministério Público, como um todo. A raiz da indignação do presidente advém da certeza que tem: as razões que levaram à anulação das sentenças do ex-juiz Sérgio Moro e à declaração de suspeição formulada dele pelo Supremo Tribunal Federal estavam dadas desde 2015, 2016, 2017… Poderiam, até, ter impedido o curso da ação imprópria e indevida por meio da aceitação dos argumentos da defesa (aliás, apresentados por Zanin) e das denúncias de fatos estranhos que ocorriam no âmbito da “força tarefa” da Lava Jato. Nada foi feito, porém, até que Aras ascendesse à PGR e pudesse abrir as arestas - que viraram sendas e, depois largas avenidas - pelas quais a “República de Curitiba” se veria implodida, exposta, devastada e, agora, obrigada a prestar contas aos corregedores do próprio MPF, à Justiça e às demais instituições republicanas.
O exército mercenário confronta-se com o Estado Democrático de Direito como sua Corte Marcial e ao próximo procurador-geral, ou a um Augusto Aras fortalecido pela recondução, caberá executar as sentenças.
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