Estamos realmente diante do fim de um mundo unipolar?
Recentemente, em entrevista realizada entre os jornalistas Léo Attuch e Pepe Escobar, este afirmou que o mundo unipolar, com hegemonia estadunidense, está chegando ao fim, haja vista a existência de vários indícios dessa nova realidade que se apresentam nos últimos anos, sobretudo depois do contexto no qual se insere a guerra da Ucrânia.
A nova guerra-fria é movida pelo medo que os estadunidenses têm da ascensão da China como nação mais proeminente no admirável mundo novo que se aproxima, uma vez que tal liderança, junto com o crescimento econômico e tecnológico de seus parceiros comerciais, representa o avanço de um novo modelo de sociedade internacional, a qual muito provavelmente resultará em um mundo com maior destaque para o oriente na cena mundial.
O conflito na Ucrânia pode apontar para uma espécie de redirecionamento tático do império norte-americano em função dos seus recentes insucessos em atingir a China, em especial a frustrada revolução colorida no Cazaquistão, país muito próximo da China, o que deixou o império sem mais alternativas, levando-o a reacender elementos da revolução colorida da Crimeia de 2014.
Nesse intuito, usou a OTAN e a Ucrânia como fantoches da sua estratégia de guerra híbrida, sobretudo pelo fato de que a Ucrânia se encontra em uma região altamente estratégica no que tange a uma certa delimitação entre oriente e ocidente, facilitando a percepção de que a OTAN intentou usar a Europa e a Ucrânia para deter o avanço econômico do oriente em direção à Europa, reconstruindo uma versão atualizada da "Cortina de Ferro".
Essa encruzilhada para a qual o contexto da guerra da Ucrânia direcionou o mundo, leva-nos a lembrar de outro episódio da história mundial que representa uma espécie de choque entre oriente e ocidente: a Batalha das Termópilas, que ocorreu no contexto da segunda guerra médica, entre Gregos e Persas, fato que representa para muitos um evento decisivo para a contenção do avanço do império persa rumo ao ocidente.
Na referida batalha, embora as tropas espartanas tenham sido dizimadas pelos persas, os dias de resistência dos espartanos terminaram por retardar o avanço das tropas persas por tempo suficiente para que os gregos pudessem fugir de Atenas antes da sua destruição e se reagruparem para vencer o império persa na batalha naval de Salamina, detendo assim o avanço dos persas para o ocidente.
Esse significado de limitação do avanço do inimigo para o território permeia o conflito entre Rússia e Ucrânia, mas de uma forma diferente do episódio dos 300 de Esparta, pois diante do medo que o império norte-americano tem do avanço da economia do bloco asiático rumo ao ocidente, optou por reacender através da massiva mobilização midiática um conflito étnico entre russos e ucranianos que, se ainda não resolvido, já se encontrava em certo equilíbrio.
A narrativa do "Otanistão" tenta implacar os ucranianos que combatem nesse conflito como heróis do ocidente lutando contra o malvado invasor. Assim, os soldados ucranianos comandados pelo "Zelenski controle remoto" seriam os novos 300 de Esparta, ou seriam apenas meros fantoches da guerra midiática promovida pelo eixo Estados Unidos e pela OTAN? Acho que sabemos bem a resposta.
Acredito que não estamos diante do fim de um mundo bipolar, ainda, uma vez que o cenário atual representa muito mais uma preparação para esse desfecho do que propriamente a consolidação do mundo multipolar, pois o que ocorre de fato é uma nova edição da "Cortina de Ferro", dividindo novamente o mundo em bloco ocidental e bloco oriental. Contudo, muito diferente da guerra-fria pós-segunda guerra, já que o império foi feliz em sua tática de criar a cortina, mas foi infeliz em sua estratégia, pois não vai conseguir deter o avanço econômico do bloco asiático, que em momento próximo vai romper a frágil cortina, que agora é muito melhor representada por um grande biombo de palha.
Não é à toa que frequentemente se recorre à história como suporte de elucidação do cenário contemporâneo, justamente pela capacidade que a mesma tem de demonstrar que a tecnologia pode evoluir ao longo do tempo, mas enquanto estivermos falando de seres humanos, dificilmente estratégia política e sede de poder não estarão presentes na dinâmica das sociedades.
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