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    Pedro Desidério Checchetto

    Psicologo Clínico, Pesquisador em Psicologia Social e Professor Universitário. Doutorando em Psicologia Social pela PUCSP/URV - Espanha

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    Estaríamos presenciando a revolução dos “Enzos”?

    "Nas décadas passadas, o trabalho com salário era sinônimo de dignidade, de construção de vidas e comunidades. Hoje, ele parece uma sombra de seu antigo papel"

    (Foto: Reprodução)

    Tenho notado uma onda crescente nas redes sociais vídeos e cortes de crianças e adolescentes dizendo que a educação formal é perda de tempo e que para garantir o futuro o correto é marketing digital, investimento em ativos, educação financeira, enfim, aquela velha cartilha “Pai Rico pai Pobre” de capitalismo financeirizado. Entre vídeos que prometem ganhos milionários e cursos de “segredos do sucesso”, muitos adolescentes e jovens adultos dizem terem abandonado a educação formal. Para eles, o estudo parece um caminho obsoleto, e o sucesso é uma questão de “mindset” e estratégias financeiras. Como entender esse fenômeno?

    Brasil, 2024. A geração X (1965-1981), pais da geração millenials (1981-1996), viveram em um mundo onde poucas pessoas tinham Ensino Superior. Qualquer formação já era um grande diferencial, e a falta de opções tornava o estudo o melhor e mais seguro caminho para a ascensão social. Havia um abismo entre a remuneração das pessoas com curso superior e das pessoas sem a educação formal. Mas o mundo mudou. Com políticas públicas que ampliaram o acesso à educação, felizmente mais pessoas passaram a ter formação superior, o que, ao mesmo tempo, democratizou o conhecimento. 

    Contudo, a inflação acima dos salários e do poder de compra, somada a um custo de vida cada vez mais alto, especialmente nas grandes metrópoles, tornou os parâmetros de sucesso inalcançáveis para muitos. Enquanto a geração anterior acumulava patrimônio com casa e carro, os millennials e seus sucessores lutam para sobreviver, muitas vezes com dificuldades de acesso aos bens básicos, mesmo contando com respeitável carreira acadêmica. 

    As profissões que exigem curso superior, devido a alta procura, foram nivelando seus salários por baixo, trazendo consigo a desilusão, a frustração e a lógica do endividamento. A faculdade perdeu a sua aura de curso superior como garantia de sucesso e tem sido cada vez menos garantia de alguma coisa.

    A "revolução dos Enzos" reflete uma crise do sistema tradicional e do próprio significado do trabalho. No entanto, ela também traz uma questão urgente: é possível viver em um mundo onde o capital seja compatível com o salário, e não tão dependente da especulação?  

    Nas décadas passadas, o trabalho com salário era sinônimo de dignidade, de construção de vidas e comunidades. Hoje, ele parece uma sombra de seu antigo papel, deslocado por modelos de riqueza que priorizam o ganho rápido e a valorização do capital sobre o esforço humano. Para jovens advindos de contextos sociais menos favorecidos, o caminho formal já é um caminho difícil. Abre-se, então, espaço para Tigrinhos, Rifas Online, tendo inclusive uma produção artística que “ostenta” e canta sobre sua felicidade ancorada no ideal de consumo.

    Mas será possível reverter esse cenário? Resgatar um modelo econômico que celebre o trabalho, ofereça salários justos e renda suficiente para uma vida digna? Essa transformação exigiria não apenas mudanças econômicas e políticas, mas também uma revalorização cultural do que significa trabalhar e contribuir para a comunidade.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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