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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Eu tenho medo de Pablo Marçal

"Ele quer ser o próximo ditador do Brasil", escreve o colunista Alex Solnik em referência ao candidato a prefeito de São Paulo

Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YT)

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Chamar apenas de baixaria não define o que aconteceu hoje no debate da RedeTV! 

Depois de cutucar as feridas do apresentador José Datena no debate anterior, dessa vez, logo no início, ele investiu contra o prefeito Ricardo Nunes. 

Para começar, quando a apresentadora pediu para ele fazer a pergunta ao prefeito, ele o chamou de “Bananinha”. A apresentadora o repreendeu. Deveria chamá-lo pelo nome. Mas ele não deu o braço a torcer: “o futuro ex-prefeito”. 

Nunes achava que não seria hostilizado por Marçal, foi o que lhe garantiu o próprio Marçal, em mensagem por WhatsApp, na véspera. Paz na terra aos homens de boa vontade.

No entanto, com cara de poucos amigos, o rosto mal escanhoado, à la Bukele, o braço enfaixado tão ridículo quanto o curativo da orelha de Trump, Marçal soltou os cachorros sobre Nunes, garantiu, aos berros, que ia mandar prendê-lo por ser ladrão de merenda, e que não seria perdoado pela cidade como foi pela sua mulher, ao mesmo tempo em que gritava apontava o dedo para Nunes, que, pego de surpresa, começou a gritar de volta, atrás das câmeras seus assessores, desesperados, pediam calma, a mediadora ficou em pânico, resolveu gritar mais alto para que eles parassem de gritar, foram alguns dos segundos mais constrangedores da televisão brasileira.

O conteúdo do bate-boca é mais grave do que apenas baixaria. Quando Marçal berra que vai prender Nunes, ao vivo e a cores, sem ter autoridade para isso, jogando para a plateia bolsonarista ávida de sangue, ele revela a sua face ditatorial, quem manda prender alguém é ditador, na democracia não é papel de prefeito, nem de presidente, é da Justiça e da polícia, quando ele diz uma coisa dessa, escancara, sem querer querendo, que a prefeitura é só um trampolim para voos mais altos, as pessoas mais pobres, a maioria, desiludidas com os políticos “sérios”, foram anos e anos votando neles sem ver o retorno que esperavam, agarram-se a um outsider messiânico e milionário, que se diz “servo do povo” como a uma tábua da salvação. Ele repete a toda hora que é mesmo a tábua de salvação e muito mais. Mas para ver o que é o “muito mais” tem que votar nele. É uma aposta, e os brasileiros são talvez o povo mais suscetível a qualquer aposta. 

Outra coisa que assusta é que ele chama o dia da votação, o dia 6 de outubro, não de o dia da democracia, um dia de festa, um dia alegre, mas o dia da vingança, vingança é sangue, é morte, nunca ouvi político algum chamar o dia da eleição de “o dia da vingança”, eu já tenho uma certa idade, já vi muita coisa nessa vida, mas confesso que me assusto toda vez que vejo seu rosto mal escanhoado, seus olhos que ameaçam fuzilar quem cruza seu caminho, é um cara que me assusta mais que Bolsonaro, porque é mais inteligente, mais organizado, ele sim, que já tem milícia digital, pode formar as famigeradas milícias dos camisas negras de Mussolini, ou de Plínio Salgado, ele é um protofascista clássico, que usa a democracia para corroer a democracia por dentro, mistura fascismo com religião com promessa de prosperidade, um ex-coach e futuro ditador.

Tabata disse no debate que não tem medo de Marçal. 

Eu tenho.

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