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Túlio Ribeiro

Economista, pós-graduado em História Contemporânea, mestre em História social e doutorando em Desenvolvimento Estratégico pela UBV de Caracas. Autor do livro A Política de Estado sobre os recursos do petróleo, o caso venezuelano (2016). Autor participante do livro A Integração da América latina: A História, Economia e Direito (2013)

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EUA usam gaiolas para fazer limpeza étnica

Atualmente é uma nação bilíngue com uma vasta área povoada por latinos 'novos' e descendentes oriundo de terras da colonização espanhola. Mas não é a disputa pelo emprego que se apresenta, os EUA perderam a corrida da globalização para a China e não para os hispânicos

EUA usam gaiolas para fazer limpeza étnica (Foto: Kevin Lamarque - Reuters)

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As eleições de 1900 convidaram os estadunidenses a escolherem se o país deveria ser uma república ou um império. Uma economia ascendente, a vitória sobre a guerra com a Espanha (1899) por disputa pela colônias e a ideia do liberalismo comercial tendo um império para garantir impulsionou a candidatura de William Mckinsley do Partido Republicano.

Em outra ordem de ideias estava Eugene Debs, um socialista com objetivo de chegar ao palácio residencial, ou Casa Branca como seria chamada a partir de 1902. Debs tinha uma atuação determinada em defesa dos trabalhadores, e em sua leitura o imperialismo significava apenas exploração. O Partido Democrata por sua vez apresentou William Jennines Bryan, um político de caráter populista do estado de Nebraska. Bryen, longe de romper o 'establishmant', era adversário dos magnatas da indústria, dos banqueiros e de uma política de crescimento via o imperialismo. Era recorrente sua máxima que 'não devemos ter nada com a conquista'.

Venceu a escolha pelo império e a história mostrou um século de guerras, anexação e golpes contra um mundo multipolar.

Novembro de 2016 trouxe mais um capítulo neste processo. O republicano Donald Trump enfrentaria o mais do mesmo, que era a candidatura de Hillary Clinton. A
ex-primeira-dama, ex-senadora e ex-secretária de Estado tinha golpeado a única esperança mudar esta política. O senador Bernie Sanders por Vermont, tem uma abordagem pacifista, de respeito aos direitos humanos e contra ao imperialismo.

Sanders nos lembra Debs e Bryan e poderia resgatar 1900, agora com um vitória pelo bem da humanidade. Não ocorreu! A legitimidade mais uma vez correu para uma elite estadunidense que afronta os direitos de outros povos.

Nestes dias os olhos do mundo miram o governo Donald Trump e sua ação sectária contra o movimento migratório latino-americano no seu país. Desde abril, esquecendo a realidade de ser um país bi-lingue, se instalou uma política de tolerância zero, o que leva processar os adultos que entram irregularmente no país provocando a separação de indivíduos da mesma família.

Na prática os Estados Unidos passaram instalar campos de concentração para filhos de imigrantes, vítimas inocentes de um plano mais amplo: limpeza étnica. A retenção diária de 250 crianças já gera um montante de 30000 menores retidos.

A verdade desnuda uma 'palestinação' dos latinos, recorrendo a práticas israelenses de encarceramento. Assim como Benjamin Netanyahu, escolhido pela maioria do povo judeu, Trump encarcera seres humanos em jaulas. A Europa, mesmo que timidamente segue outro caminho, neste 29 de junho decidiu criar centros de pedido de asilo e implementar programa de transferência de recursos para os países geradores de fluxo migratório, apenas uma pequena parte do que retira no processo de exploração.

A ciência nos remete que processos migratórios como da África e Oriente Médio para Europa e da América latina para os Estados Unidos, tem razões no modelo imperialista defendido por Mckinsley e praticado no tempo presente por Trump.

A nação do norte foi formada por movimentos migratórios. Caso se olhe para o sul, quando os colonizadores foram expulsos pelos libertadores, os Estados Unidos impuseram um modelo de dominação política destas nações, explorando suas riquezas naturais, negando a possibilidade de uma industrialização nos moldes de distribuição de renda.É esta a seara que impulsiona estes fluxos migratórios.

Em Brownsville no Texas, o hipermercado WalMart se transformou em mais uma unidade desta história de terror. Estão mantidas 1500 crianças separadas dos pais. O local comprado por 4,22 milhões de dólares está sendo tratado como refúgio e recebeu nome de "casa do pai", mas na verdade encarcera crianças latinas. Filhos e filhas que não tem nenhuma garantia de voltar para os genitores,trazendo lembranças do que ocorreu na ditadura militar argentina.

Diante deste cenário alguns chanceleres se comportam como diplomatas adestrados por Washington, se limitando a identificar e localizar seus compatriotas nos novos guetos. A passividade de governos como de Honduras,Brasil, México, Argentina e Guatemala apenas ajuda a política imoral de Trump, em vias de perder a maioria no congresso nas eleições de 6 de novembro.

Os Estados Unidos sempre foram uma nação de imigrantes que tiveram 'estranhos' no passado. Atualmente é uma nação bilíngue com uma vasta área povoada por latinos 'novos' e descendentes oriundo de terras da colonização espanhola. Em verdade a preocupação de Trump e dos endinheirados que representa, está na sua frase para definir a crise no Báltico:' A Crimeia é russa por que lá só se fala russo'. A política de rechaçar estes imigrantes é para impedir que esta lógica seja usada no futuro em favor dos latinos. Afinal não é a disputa pelo emprego que se apresenta, os EUA perderam a corrida da globalização para a China e não para os hispânicos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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