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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Euforia na caserna

    'Não dá para entender por que o Exército não instalou um Inquérito Policial Militar sobre informações passadas por Delgatti', afirma a colunista Denise Assis

    Walter Delgatti Neto (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

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    Numa avaliação vesga, os comandos das Forças Armadas estão eufóricos. Entendem que com o tenente-coronel Mauro Cid fora do Batalhão de Polícia do Exército em Brasília ou sem estar amiúde diante das câmeras, envergando a farda verde oliva, a imagem dos militares vai passar por um lustro. Não vai.

    A menos que o acordão já bastante discutido, que livra as patentes mais altas do Exército esteja em andamento, o que não aparenta ser a intenção do STF, quando juntou e deu prosseguimento à investigação das joias e das tentativas de golpe, no bojo da investigação que tramita no Supremo.

    Acontece que para obter a liberdade Mauro Cid teve que se comprometer a juntar as pontas de todas essas ações delituosas, sejam elas militares ou não. Sob pena de ter o acordo de delação premiada rompido. Ele não pode mentir ou omitir. Nesse caso, arrasta consigo o pai, a mulher e a si próprio, que no momento ganhou a “molezinha” de não só estar fora da “prisão/colônia de férias” (vá lá, distante da família), como também deve ter “incluído fora” das suas armações os implicados da família.

    Alguma punição o papai general Lourena Cid vai ter de pegar, pois é difícil esquecer a imagem inusitada do seu rosto refletida na caixa de joias, enquanto fotografava o “produto” a ser liquidado a preço de ocasião. E tampouco vai ser possível ignorar as conversas golpistas da sua mulher, reproduzidas do seu celular, com as amiguinhas Cidinha Villas Boas e sua filha Tici.

    O rol de conspiradores é grande e tem patentes para todos os gostos. Já foi frustrante o bastante a perspectiva de não termos na bancada de depoentes o citado e apontado ex-ministro da Defesa. (Vocês têm noção da gravidade disto?), Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), mesmo fazendo um trabalho de fôlego, achou suficiente reservar-lhe espaço no relatório final e optou por chamar a Cabo Marcela, da PM do DF, para falar dos seus dodóis, enquanto o depoimento de Paulo Sérgio ficou fora de pauta, por enquanto.

    Também aguardamos com certo desapontamento as desculpas esfarrapadas dos generais Augusto Heleno, Braga Netto e Ramos. Foram mencionados nos malfeitos, mas também ficaram de fora do bombardeio de questionamentos sobre o que fizeram na campanha passada. Isto, para ficar nos vistosos integrantes do governo de Bolsonaro, porque ninguém esquece os blindados do general Júlio Arruda apontados para os seus concidadãos. Faltou o seu depoimento para explicar: ele daria a ordem de atirar, se o interventor Ricardo Capelli teimasse em entrar com a PM?

    A grande questão no momento - para além da delação do tenente coronel, que ao que tudo indica vai auxiliar à PF, apontando quem é quem nas diversas manobras radicais - entre joias, minuta do golpe e conspiratas -, é o conteúdo dos telefones do General Lorena Cid e do "advogado" Wassef. Com os aparelhos a PF vai complementar o quebra-cabeças. São pontos centrais que correm o risco de ser embaçados pelo espetáculo da "delação" do Cid.

    O que não dá para entender é por que o Exército ainda não instalou um Inquérito Policial Militar (IPM) sobre as informações passadas pelo hacker Walter Delgatti, um outro IPM sobre a atuação do Mauro Cid e um além, sobre a inação do Cel Fernandez da Hora, comandante da Guarda Presidencial no dia 8 de janeiro de 2023.

    Em vez disso, foi aberto por esse mesmo Exército, ainda em maio deste ano, um IPM contra o Coronel Adriano Testoni, um fascista, que teria ofendido as FFAAs e, nesta semana, outro IPM foi aberto contra o coronel da Reserva, e professor doutor, Marcelo Pimentel. Ele tem sido alvo de constantes processos e, agora, o IPM.

    É possível que o Inquérito Policial Militar contra alguém que está sendo investigado corra perfeitamente em paralelo aos trabalhos da Justiça comum. O que eles podem é esperar a sentença para só então fechar o IPM com a condenação ou a absolvição do Exército. Mas nada impede que façam as suas investigações e concluam o trabalho. E se isto não acontece, soa estranho...

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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