Europa, uma garota do Oeste Asiático, mais uma vez estuprada pelo touro americano
Na estratégia do Kremlin, o objetivo último é desmilitarizar e esmagar a OTAN. Estamos chegando lá, de forma lenta, mas segura
Podemos sempre sonhar que, seguindo o fio de Ariadne, talvez – apenas talvez – pudéssemos nos desembaraçar do atual e incandescente labirinto político, aplicando um produto extremamente hiperbadalado: a lógica.
Mas o Ocidente pós-tudo da cultura do cancelamento cancelou também a lógica. Quando em dúvida, podemos, pelo menos, voltar a nossos mitos fundadores. Retornemos então ao mito do nascimento do Ocidente, o mito de Europa.
Conta a lenda que um belo dia, por mero acaso, o olhar inquieto de Zeus pousou sobre um linda garota de olhos grandes e brilhantes, filha de uma civilização talassocrática do Levante: Europa.
Pouco tempo depois, em uma límpida praia da costa fenícia, um magnífico touro branco apareceu. Europa, intrigada, chegou cada vez mais perto e começou a acariciar o touro. É claro que se tratava de Zeus disfarçado. O touro anexou devidamente Europa e disparou em direção ao mar.
Zeus teve três filhos com Europa – e deixou com ela uma lança que nunca errava o alvo. Um desses três filhos, como sabemos, foi Minos, que construiu um labirinto. Mas, acima de tudo, essa lenda nos conta que o Ocidente nasceu de uma garota – Europa – vinda do Oriente.
Entra em cena a tóxica Medusa - Entra em cena a vagabunda da Medusa, manobrando seus tóxicos tentáculos em Bruxelas, usando um autocongratulatório festival atlanticista para louvar o chefe do governo japonês por apoiar a gangue neonazista de Kiev e lutar contra a Rússia.
Esse foi o preâmbulo para um infernal truque linguístico: "a Rússia ameaça usar armas nucleares novamente". Frase que implicava culpar a Rússia pelo bombardeio nuclear de Hiroshima, quando o planeta inteiro sabe perfeitamente quem foi.
Mentiras estarrecedoras são o modus operandi padrão: mas o que é ainda mais surpreendente é que esse repertório de mentiras que é parte do show do eurolixo foi totalmente normalizado. E, é claro, plenamente aceito pela neocolônia do Sol Nascente.
É assim que a História vem sendo ensinada nas universidades de "elite" de todo o Coletivo Ocidental. E é essa a razão de a Rússia ter desistido de encontrar interlocutores minimamente qualificados no Coletivo Ocidental.
E fica ainda pior. Essa emanações de um pântano cultural supostamente representam a "Europa". Estamos a anos luz de distância do falecido grande Gianni Vatimo – um dos últimos colossais intelectos europeus, que propôs diversas nuances de niilismo compassivo e uma compreensão da política como uma forma de consenso que as comunidades criam dentro de horizontes históricos e culturais.
A violação da Europa não tem fim. Em termos geoeconômicos, as exportações industriais alemãs – que eram o principal fator de sua balança de pagamentos positiva – foram ralo abaixo. A Alemanha e diversas outras nações da União Europeia agora dependem do caríssimo GNL americano.
Uma União Europeia escravizada foi forçada por seu "aliado" americano a simplesmente desistir do mercado russo para seus automóveis e outros produtos de exportação que pagavam por importações de energia barata. Em uma questão de meses, um comércio internacional equilibrado voltado para o Leste foi transformado em comércio deficitário com o Hegêmona.
Esse é o principal legado da vitória tática obtida pelo Hegêmona com o bombardeio dos Nord Stream 1 e 2 – há exatamente um ano.
As fontes de Seymour Hersh dentro do Departamento de Estado dos Estados Unidos revelaram o culpado. Toda a Maioria Global com um QI acima da temperatura ambiente sabe quem foi – e quem foram os mandantes. E mesmo assim os dementes neocons-straussianos que atualmente controlam a política externa dos Estados Unidos conseguem se safar ilesos.
O bombardeio dos Nord Streams foi a remixagem do Estupro da Europa – desta vez estrelada por um touro americano.
Como o indispensável Michael Hudson explicou em detalhes, os orçamentos internos da Alemanha e de outros países da União Europeia/OTAN já estão em terreno deficitário – com o incentivo adicional de uma incessante militarização da União Europeia.
O que forçará cortes nos programas governamentais internos – no exato momento em que a Alemanha e seus vizinhos da OTAN ingressam em uma depressão pós-industrial, na qual famílias e empresas necessitam de subsídios para cobrir seus gastos com aquecimento e energia, além do seguro-desemprego".
Além do mais, o euro continuará a desabar em relação ao dólar americano, e logo poderá estar abaixo dos 90 centavos, ou menos ainda.
A conclusão do Prof. Hudson é sombria: "Portanto, o que parece ser uma guerra dos Estados Unidos/OTAN contra a Rússia na Ucrânia vem sendo uma estonteante vitória militar para prender os membros europeus da OTAN na órbita dos Estados Unidos, e bloquear seus planos de se voltar para o Leste para comércio e investimentos com a Rússia e a China.
Divirtam-se com o "laboratório de inovações militares" - Enquanto isso, o Hegêmona está enchendo as burras com sua guerra por procuração na Ucrânia.
O básico: mais da metade da agro-Ucrânia é agora propriedade, comprada por tostões, da Monsanto, da Cargill e da Dupont, que ainda por cima se beneficiam do ambiente mais corrupto de todo o mundo.
As sementes da Ucrânia foram destruídas: a Monsanto agora controla toda a máfia das modificações genéticas. Os cereais ucranianos direcionados para a estuprada Europa querem dizer o pleno controle do mercado agrícola e de alimentos da União Europeia.
No front militar, a matriz armamentista dos Estados Unidos e de seus satélites continua a lucrar imensamente com o que, na verdade, é lavagem de dinheiro público. A Ucrânia, simultaneamente, se tornou:
- O cemitério de armamentos obsoletos necessitando de reciclagem.
- Um privilegiado "laboratório de inovação militar" (como Afeganistão e Iraque, anteriormente) – como admitido pela número 2 do Pentágono, Mara Carlin, na Universidade Ronald Reagan.
- Um showroom para as exportações globais (bem, tanques Abraham prestes a serem incinerados pelos russos não se qualificam exatamente como um carro-chefe.
No front energético, é o Nord Stream, novamente. A remixagem do Estupro da Europa vem acompanhada de touros financeiros auxiliares como BlackRock, Vanguard e State Street, que têm o total controle do mercado à vista para qualquer coisa que a União Europeia queira comprar, com preços ocasionalmente vinte vezes mais altos que antes.
Esta é apenas a versão resumida do que "ajudar a Ucrânia" significa. Mesmo assim, as wunderwaffen, as "armas maravilhosas", continuam chegando: os F16s são o próximo da fila.
Andrei Martyanov resumiu tudo isso de forma concisa: "O conjunto do Ocidente fracassou na guerra". O que quer dizer, a total humilhação da OTAN será cômica. E isso vem com uma – possível - conclusão, para qual, obviamente, não se pode ter confirmação direta nos corredores do poder de Moscou: "Os russos planejaram tudo isso, eles só não podiam antecipar que o Ocidente se autoaniquilaria tão rapidamente".
Está firmemente estabelecido que, na estratégia do Kremlin, o objetivo último é desmilitarizar e esmagar a OTAN. Estamos chegando lá, de forma lenta, mas segura. O que já ficou estabelecido é que o Estupro em Série da Europa pelo touro americano a deixou totalmente combalida – em temos físicos, econômicos, culturais e psicológicos.
Tradução de Patricia Zimbres
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