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Sara Goes

Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira

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Evandro Leitão ou barbárie

"Ainda que a vitória do recém-petista seja uma tragédia para a saúde do partido, é a única barreira contra uma nova vertente bolsonarista", avalia Sara Goes

Evandro Leitão (Foto: Junior Pio/Alece)

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A divulgação de um laudo médico falso por Pablo Marçal, que associava Guilherme Boulos ao uso de drogas, talvez tenha sido a epítome da violência política nestas eleições. A Justiça Eleitoral determinou a remoção das postagens e confirmou a fraude na assinatura do documento e Boulos rapidamente entrou com medidas judiciais. Este episódio também evidenciou a fragmentação do bolsonarismo, que agora se desdobra em correntes ainda mais extremistas e incontroláveis. Essas divisões não são fruto de uma estratégia deliberada, já que o bolsonarismo é uma empresa familiar e, como tal, há limites rígidos de comportamento e proteção caso você não seja representado por um numeral (ou se você é uma fraquejada). Marçal é resultado de um movimento que já não consegue controlar suas próprias facções e, mesmo que para os grupos fascistas essa fragmentação seja vantajosa, pois permite a formação de diferentes frentes de ataque, cada um concorre com sua própria base de apoio.

Fortaleza vive um fenômeno semelhante, mas com uma diferença notável: o bolsonarismo fanático de André Fernandes precisou passar - ou simular - uma mutação. Durante toda a campanha, Fernandes evitou mencionar Bolsonaro, adotando um discurso tão estranho para ele a ponto de parecer que a aplicação excessiva de ácido hialurônico de seu maxilar estava "harmonizando" também sua trajetória. Quando pressionado pelos concorrentes, Fernandes tentava mostrar que seu passado negacionista e apoiador do golpe de 8 de janeiro compunha apenas um furor juvenil. Contra André, cujos comitês precisaram cobrir rapidamente o slogan "Zero Um do Bolsonaro" (Abre o olho, Flávio!), há seu passado, seu presente, seu futuro e todos os outros candidatos, com a exceção do patético Eduardo Girão. Contra o candidato pelo PT, Evandro Leitão, há o anonimato e a carga que todo candidato petista autêntico, ao contrário de Leitão, enfrenta com certa habilidade. A favor de Leitão há o Palácio da Abolição*, o voto útil e o trabalho da militância que, mesmo com ressalvas, tende a virar votos no último momento (último mesmo!).

No último debate, realizado na noite de quinta-feira (3) pela TV Verdes Mares, foi possível ver claramente que os votos antipetistas e ciristas são os mais disputados. O atual prefeito Sarto, que em outros debates tirou André Fernandes do eixo e quase o arrancou da personagem, neste teve uma atuação irrelevante e já pode ser considerado uma carta fora do baralho. Capitão Wagner, que parece ter entendido as últimas pesquisas como um recado para desistir, protagonizou o gesto mais ridículo e covarde da eleição ao pedir desculpas a André Fernandes, que de tão constrangido, mal conseguiu reagir. Constranger alguém como Fernandes, cujo passado o condena mais do que a soma de todos os envolvidos nas 27 capitais, não é tarefa fácil, mas Wagner, em sua tentativa desesperada de manter relevância, acabou rompendo com os acenos que o União Brasil estaria fazendo ao PT e abraçando de vez o fascismo representado por Fernandes. Se foi uma estratégia de sobrevivência, Wagner não aprendeu nada nos 20 anos de dança entre extrema direita e esquerda. Talvez, de tanto dançar 'dois passos pra lá e dois pra cá', não tenha percebido que saiu do salão. Se foi genuíno, chega a ser mais problemático… Aquele pedido de desculpas foi o "beijo da morte" político que provavelmente André Fernandes não vai retribuir. 

A última pesquisa (CE-08216/2024) confirma que a disputa no primeiro turno está acirrada entre Evandro Leitão (27,7%) e André Fernandes (27,5%), restando ao prefeito Sarto e ao bolsonarista assintomático Capitão Wagner decidir se vão para Paris ou participam do pleito no segundo turno. 

O curioso cenário depois do dia 6 de outubro, que já tratamos como inevitável, entre Leitão e Fernandes, não mostra dois polos opostos, mas dois representantes de movimentos que brotaram de fenômenos maiores. Se André Fernandes esconde Bolsonaro e dá a entender que é uma ovelha desgarrada (morde aqui para ver se sai leite!**), Leitão é um ex-cirista sem identificação com o Partido dos Trabalhadores, mas sem nenhum problema em se aliar com quem quer que seja para se tornar prefeito. No fim das contas, o segundo turno em Fortaleza será uma escolha entre Evandro Leitão ou barbárie e, ainda que a vitória do recém-petista seja uma tragédia para a saúde do partido, pois significaria a consolidação do imprevisível camilismo e a derrota da força política de Luizianne Lins, sua vitória é a única barreira contra uma nova vertente bolsonarista cuja evolução desconhecemos e poderá ser fatal.

*Sede do poder estadual 

**Expressão que se tornou conhecida quando o candidato pelo Solidariedade, George Lima, questionou as falas de André Fernandes em um debate. É equivalente a dizer que você não acredita nas mentiras que estão sendo contadas.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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