Ex-PM Adriano era um arquivo pronto para ser queimado
"A imagem de uma morte num duelo de faroeste no interior da Bahia não combina com a cena do crime, com uma única marca de bala," escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Está difícil sustentar a versão de que o ex-PM Adriano da Nóbrega perdeu a vida num duelo a bala, no estilo matar ou morrer, numa pequena fazenda no interior da Bahia.
A imagem de faroeste não combina com a cena do crime, onde havia um único sinal de bala, escreve o repórter João Petro Pitombo, da Folha: "moradores disseram que a ação foi rápida, com barulho de tiros por pouco tempo. A reportagem identificou apenas uma marca de bala dentro da casa, em uma janela de madeira seguindo a trajetória de dentro para fora."
Dias antes de ser morto, Adriano disse ao advogado que temia ser assassinado -- e não há nenhum motivo para imaginar que não falasse a verdade.
Considerando a longa experiência do ex-PM e suas ligações com a família Bolsonaro, que lhe deu honrarias, dinheiro e empregos públicos que hoje representam um imenso problema para quem ocupa a presidência, ninguém tem o direito de alimentar especulações ingênuas a respeito de sua morte, no sítio de um vereador do PSL -- partido que elegeu Bolsonaro.
Com uma imensa folha corrida no universo criminoso do Rio de Janeiro, após viver os últimos 14 meses como foragido, parece claro que Adriano Nobrega já pudesse ter concluído que a única possibilidade de manter-se vivo era mudar de lado mais uma vez. A opção, agora, seria abrir o bico e contar o que sabia a respeito de antigos parceiros, numa pratica institucionalizada -- e compensadora -- já empregada por altos personagens da República.
A trajetória era típica, na verdade. Após trocar o combate a favor da lei, que em passado remoto explica o ingresso na Polícia Militar, mais tarde substituído por uma adesão às práticas criminosas das milícias, Adriano Nobrega já fora identificado e localizado como bandido de alta periculosidade. Procurado, perseguido e contagioso em função de sua proximidade com a família Bolsonaro e anexos, inclusive Fabrício Queiroz, colega de farda e também de acusações criminosas, enfrentava as alternativas de quem se encontra no fim da linha.
Ou aceitava ser encarcerado num presídio de segurança máxima, de onde provavelmente só sairia no caixão do próprio funeral. Ou poderia dar uma nova volta ao parafuso da própria existência para contar o que sabia e negociar a sobrevivência nos próximos anos.
Considerando a opção natural por permanecer no mundo dos vivos, parece claro que tivesse interesse em negociar a própria sobrevivência.
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